segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Clotilde não se chamava Celina. Nem Jurema. Nem era Gomez.

domingo, 30 de dezembro de 2012

E só...

É sabido que exagerei um pouco
Que ultimamente já não sou o que fui
Talvez esteja mesmo ficando louco
Abalado pela força desse rio que flui

Talvez aos seus olhos seja absurdo
Seja incompreensível meu comportamento
Mas minhas palavras não diserram tudo
Não expressaram meu real sentimento

Sorrio sinceramente para tudo e todos
Mas há algo importante que não lhes contei
Mentiras se escondem nos sorrisos bobos
Em gestos marotos nos quais jamais confiei

No final das contas só queria dizer
Que eu não queria que fosse assim
Meu desespero não deixou transparecer
O quanto isso era importante pra mim

E mesmo que não me importe com o dia
Pensei que pudesse estar mais uma vez
Partilhando do que ainda me traz alegria
As vozes e risos da presença de vocês

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Quando a sala do palácio se esvazia - Parte II

Continuação de Quando a sala do palácio se esvazia - Parte I

A briza que entrava pela janela do quarto do palácio de Hadd' Alid, naquele momento apenas fazia as minúsculas gotas de suor daquela meio-elfa se acentuarem no seu rosto... Após ouvir os passos em direção do quarto, rapidamente se escondeu debaixo da cama da filha de Alid.
Ouviu os passos passarem em frente ao quarto e se distanciarem. Foi quando sentiu um estranho arrepio, seguido de um cheiro forte como se tivesse algo apodrecendo no quarto naquele momento. Lentamente ela se esgueirou para o lado da cama e se pôs em pé, sem o menor ruído.

Seu coração batia forte e ela suava cada vez mais, uma reação estranha pois sempre conseguia se manter fria diante de qualquer tensão, inclusive esgueirar-se num palácio repleto de guardas. Ela olhava em volta no quarto e nada enxergava, aquele cheiro podre ficava cada vez mais forte.
Foi quando seu coração deu um salto. Ao olhar para o canto próximo à janela, percebeu a figura de uma criança sentada e apoiada com as costas na parede olhando-a. Não era uma criança normal, nem sequer parecia criança, ela só pôde julgar como tal, ao observar a baixa estatura e proporção do corpo. Parecia uma menina. Era muito feia, usava roupas surradas, sujas e rasgadas. Ela tinha os pés descalços e atrofiados, uma espécie de deformidade, possuía bolhas vermelhas por todo o corpo, a cabeça quase careca com alguns poucos fios de cabelo embaraçado e uma aparência doente...
Por alguma estranha razão aquela criança lhe parecia familiar. Elfa por um longo tempo ficou sem falar, o coração acelerado e ainda suava frio... Pôde ouvir por um breve momento a respiração penosa da criança que a olhava com uma mescla de tristeza e agonia.

- O que você está fazendo aqui? - perguntou a menina numa voz rouca e fraca.
Elfa ficou sem fala.
- Você ainda pode escolher... nem todos os caminhos se fecharam. - Continuou.
- Quem é você? - perguntou Elfa em tom de voz baixo e levemente assustado. Não era a primeira vez que ela via um estranho falar dela como se a conhecesse.
- Eu sou você... - Respondeu a menina.
Elfa teria dado risadas se a situação não fosse tão estranha. Chegou a esboçar um sorriso mas conteve-se a tempo.
- ...por dentro. - Ela continuou.
Em seguida fez menção de se levantar lentamente. Elfa começou a dar uns passos para trás em direção da porta com a mão próxima de sua adaga escondida.
- O que está fazendo? - Elfa sussurrou.
A menina, sem responder, se levantara e começava a andar em direção da Elfa, não era uma imagem saudável, ela se apoiava de um jeito estranho nos pés atrofiados e parecia sentir dor à cada passo. Elfa deu mais passos para trás, estava realmente com medo agora.

Aconteceu tudo muito rápido. Ao passo que a criança se aproximava, Elfa ouviu novamente passos em direção da porta. Ela fechou os olhos e sacou sua adaga empunhando com força. Quando a porta se abriu de maneira abrupta, seu movimento sem pensar foi veloz e havia pego de surpresa a bela moça que adentrava ao quarto. O golpe levou a lâmina da adaga fatalmente em direção ao pescoço da jovem cortando alguns fios do seu cabelo loiro no caminho, que caíam lentamente.
A expressão da jovem, de surpresa e susto, estava também estampada no rosto da meio-elfa. Ela caía para frente com muito sangue jorrando, manchando o belo vestido branco que usava. Elfa a segurou e se ajoelhou ali com a moça em seus braços, com uma mescla de surpresa e pavor na sua expressão. Havia se esquecido da criança naquele momento de tensão, mas ao observar na direção da janela viu que a menina havia desaparecido.

A jovem tentava falar alguma coisa mas tudo o que saía de sua boca eram ruídos de alguém engasgado e um pouco de sangue.
Aquilo não estava nos planos.
Elfa chegou a sussurrar um tímido "me desculpe", quando a moça ia perdendo as forças e a sua visão ficando longe, embaçando...
Quando ela morreu, Elfa gentilmente fechou os olhos dela com a mão livre.

Ela havia esquecido completamente a porta aberta e os ruídos que as duas estavam provocando. Largou a moça no chão e levantou-se quando ouviu novamente passos apressados vindos da entrada do palácio...
Hadd' Alid entrara no quarto, olhou para Elfa e depois para o corpo da filha no chão. Ajoelhou-se.
Ele não tinha palavras quando pegou a filha morta no colo, apenas rolaram lágrimas silenciosas pela sua cara enrugada.
Elfa não disse nada. Encarava a cena e aos poucos se movia de costas em direção à janela. Depois de alguns segundos ele olhou para ela, olhou as roupas, ensaguentadas assim como a adaga que ela empunhava.
- Você... você matou minha filha.
- Foi um acidente eu... - Começou Elfa.
- Cale-se! - Berrou Alid quase aos prantos, soluçando.
- O que você queria? Ouro? Jóias? Sua... Sua cadela! Sua cobra! Traiçoeira! - Bradava ele.
- Me desculpe! Gritou Elfa inesperadamente. Não era o seu feitio se desculpar.
- Você poderia levar todo o meu ouro, menos minha filha! - Dizia ele desesperado.
- Acho que você só deve se importar com o ouro... Mas saiba disso ladra... Chega um momento em que o ouro deixa de reluzir, as jóias param de brilhar e a sala do palácio, do luxo, se tornam uma prisão. Tudo o que resta é o amor de um pai por sua filha... E você tirou minha filha de mim. Uma miserável como você nunca vai ter amor.

Mais passos apressados e estridentes ressoavam no corredor. Quando Alid gritou:
- Guardas! Aqui! Peguem essa ladra!

Elfa não pensou duas vezes, abriu a janela e se esgueirou para fora do palácio no momento em que os guardas entravam no quarto. Já havia cometido erros demais para um dia só, permanecer ali seria um erro gravíssimo.
Na queda ela se ferira na perna ao cair de mal jeito em cima de caixas de madeira que estavam do lado de fora, já em uma das ruas da cidade. O quarto equivalia ao terceiro piso de uma casa normal, ela ainda teve sorte por ser leve e ágil, não teve muito tempo de medir a altura e calcular sua queda.

Uma hora depois ela já estava em um esconderijo nas docas. Ela se sentia mal, e não tinha relação com o corte ardido na sua perna, consequência de sua fuga. Pensava em tudo aquilo que havia ocorrido, da criança, da desnecessária morte da jovem... e o que aconteceria a seguir. Havia falhado no seu objetivo, sua reputação em Porto de Calim cairia. E ela sabia que levaria mais tempo para conseguir dormir àquela noite, com todas aquelas cenas martelando sua cabeça...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Só...

Lembra que nem todo o grão mata a fome
E nem toda semente germina a vida
Há raiz que não serve a sustentar caule
E que não é por crescer que se garante o futuro

Cresce e brota, enraíza e dá frutos
Toma para ti, então, tudo que se desfaz
Corroendo aos poucos a tua própria essência
Leva embora o que já não mais serve a mim

Pois, para o eterno, há outra morada
Além dos teus domínios, fronteiras rijas
Onde tudo é só, onde só se é tudo
Lá, onde estarei, enquanto fores o que és
Apenas pó

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Jardineiro


Seu Atalíbio não era habilidoso quando começou no ofício, mas como fazia por hobby não havia problema. Ele voltava da firma e ia cuidar do jardim da casa. Ele queria mudar de profissão, e lidar com as plantas era algo interessante pra ele no momento. Seu Atalíbio começou a pedir para fazer serviço na casa dos outros, de graça, pra ir aprendendo. Depois de um tempo, ele foi em uma floricultura que fazia jardinagem e pediu se podia trabalhar nos sábados com eles, para aprender. O dono da floricultura topou, e logo viu naquele senhor magrinho um colaborador interessante. Quando julgou que ele estivesse pronto, fez a proposta. Seu Atalíbio prontamente aceitou. Pediu as contas na firma, depois de 17 anos. Nem fez acordo, para alívio do antigo patrão. Não queria dinheiro.

A floricultura que empregou seu Atalíbio prestava serviços fixos de jardinagem em várias casas. Entre elas, a mansão do seu Gomes. Sujeito de posses, tinha uma empresa que lidava com importação e exportação, e os negócios iam muito bem pro seu Gomes. Acabaram se conhecendo e até ficaram amigos. Seu Gomes falava muito do filho dele, que era um guri inteligente, ambicioso, que ia assumir o negócio e tal. Seu Atalíbio disse que gostaria de conhecer o garoto. Tem pai que é cego. O guri era um poço de si mesmo, e trazia na cara um riso debochado. Debaixo da asa poderosa do pai, ele podia tudo.

Mas até que se acertaram os dois, e o velho jardineiro até ganhou a confiança do guri. O rapaz vinha contar das suas noitadas, de quantas ele comia, de que jeito. E falava do que mais gostava, os rachas. Adorava falar das suas performances com seu Audi, de como era louco aquilo e tudo mais.

Um dia seu Atalíbio, ouvindo aquela ladainha do rapaz, virou para ele e desferiu, com a tesoura, sete golpes ao todo. Dois no rosto, um no pescoço e os demais no tórax. Dizem os legistas que ele não atingiu nenhum órgão vital, mas a hemorragia no pescoço fora fatal para o jovem. Ele tinha 23 anos.

Seu Atalíbio foi preso sem resistência, foi réu confesso. Foi quase linchado pelos demais presentes na cena. Quando indagado pelo delegado dos seus motivos, seu Atalíbio disse as seguintes palavras: "Seu policial, o senhor lembra de um caso há quatro anos atrás, quando uma mulher e um rapaz foram mortos em um acidente causado por um jovem que apostava uma corrida? Eram minha velha e meu único filho. O rapaz que matou os dois foi liberado por fiança, e o julgamento segue rolando até hoje, E não vai dar em nada, porque o pai dele, o seu Gomes, paga os melhores advogados, e se precisar compra o juiz pra livrar o rabo do guri. Eu não tenho dinheiro, eu vou ser preso. Mas eu sei o que eu fiz, e o fiz porque eu quis. Queria que esse homem sentisse o mesmo que eu. Não tem dinheiro nesse mundo que possa trazer o guri dele de volta. E pra mim tanto faz ser preso ou não, eu já me sinto morto mesmo. Só que eu prefiro apodrecer no xilindró do que ficar o resto da minha vida com esse desaforo preso na garganta."

Seu Atalíbio foi condenado por homicídio qualificado.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Autenticidade


Queria escrever sobre ser autêntico, mas tenho medo de soar como um plágio.
Na verdade o discurso vai ter um tom de sermão de um pirralho que mal aprendeu a limpar a bunda, mas pensa que tem uma opinião acerca de.
Bom, eu já quis ser autêntico, um legítimo Headbanger. Autêntico. Com as características vestes pretas, botas, camisetas com as capas de álbuns mais chocantes dos 16 anos.
Queria ser autêntico igual aos meus ídolos.
Vi que não fazia sentido.
Então eu vejo pessoas, sim, vou falar mal dos outros, que lutam com toda fibra pra provarem que são autênticas e espontâneas, e que pensam por si e que não dependem da opinião dos outros para serem felizes e realizados e que são assim, se você quer gostar de mim vai ter que ser assim, e assim por diante.
Mas precisa mesmo ficar afirmando isso? Será que não se está subestimando a capacidade de julgamento e percepção dos demais? Não será possível reconhecer tal atributo?
Isso soa mais pra mim como aquela criança que, quando a mãe lhe nega o doce, se atira no chão aos prantos, histérica.
Uma criança histérica, mimada e carente.
Poxa, eu também sou jovem e inseguro, vivemos no meio de outros que estão prontos para rir de nossos deslizes.
E ninguém gosta de ser alvo de chacota.
Mas eu penso que se você se conhece o suficiente pra saber que você é o que você é, pode guardar isso pra você, não é preciso provar.
Então, qual a origem desse pavor de que as pessoas pensem que você não tem uma opinião formada sobre tudo, sobre o que é o amor?
Na busca por essa identidade própria, acabamos adotando o esteriótipo mais patético possível, de alternativo.
Foda-se com sua alternatividade.
Quer ser alternativo? Queime seus documentos e viva de agricultura de subsistência, vestindo pele de caças. A não ser que você seja índio, nesse caso será uma mera cópia.
Aliás, isso me lembrou que não somos mais do que cópias de nossos pais, como poderíamos pensar em sermos autênticos?
Esquecem-se que nascemos dotados de personalidades únicas, imutáveis e incomparáveis, e que no cerne da questão, não somos iguais. Nos tornamos "iguais", queremos aceitação.
Então, pare com essa ladainha, pare com a auto afirmação e auto promoção, pare de achar que você se destaca dos demais por ser tão cheio de opinião. O mundo não precisa disso.
Acho que ser autêntico não é o x da questão, mas saber quem você é, e saber sê-lo sem forçar, e bastar-se.
Tentar provar que você é você só faz parecer que você teme que alguém descubra quem você não é.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

- Não sei. – Dizia. Não que de fato não soubesse, mas optou por responder de tal forma e acostumou-se.

Deixa-a guardar o que sabe, só para ela mesma. Deixa toda a verdade bem trancada.
Deixa-a quieta, ali no canto. Deixa acharem o que acham.

Num lugar onde palavras são roubadas, ela era um tanto quanto sábia ao agir assim.  


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Myyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy waaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaays are
STRANGE
"E as estradas vão todas em direção aos homens."

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Trabalhe ao redor

Foi quando passei a escova com creme oral-b, ambos aprovados pela Associação Brasileira de Odontologia, pela minha boca cheia de dentes, sem esperar a morte chegar.

Quando aquilo que minha boca não disse, aprovada pelo Instituto Estadual Cel. Genuíno Sampaio, quando pensava em dizer... pensamento este aprovado pela graduação de Licenciatura em História, da Unisinos.

Quando desfilei com a roupa que vestia que foi aprovada por algum conglomerado de pessoas bitoladas com negócio, mercado e dinheiro.

Do meu celular, da sony ericsson modelo w810i, considerado hoje uma bela de uma bagaça, aprovado pela Anatel, que quando tocou e eu também não disse nada, de minha boca aprovada pela escola Genuíno.

Do café, aprovado por algum dos muitos ministérios brasileiros. Com certeza não foi o da saúde...
O que é saúde?

Até do teclado que uso para escrever este texto... aprovado pelo controle de qualidade.
Pelo menos é o que diz a etiqueta "QC Passed" ou "QC Ok". Um provavelmente é mais feliz que o outro, pois obteve distinção em algum quesito.

É quando percebo o que realmente é preciso trabalhar...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O anão

O vilarejo de Elbohän era sempre tranquilo. Normalmente pouco se via das casas de estrutura simplória, à distância, em virtude do frio vigoroso e da alva neve que quase sempre se estendia nos telhados de palha ou telha de barro. É claro, pois estamos falando das imediações da Floresta Gélida... Com ampla variedade de plantas e perigos, mas sempre havia emoções a serem sentidas ao caminhar por entre os mais belos pinos. Havia também aqueles que ousariam vir a construir uma moradia em tal floresta...

Na entrada de Elbohän, a figura solitária de um anão podia ser vista. Nem tão solitário, pois andava à cavalo  com pouca pressa. Estava com uma grossa capa de pele de urso, para se proteger do frio, que nem estava tanto. Ele já começava a suar.
Rumava ao centro do vilarejo onde se encontrava a taverna Ponto Neval. No caminho ele cumprimentava algumas pessoas, um ou outro anão também, assim como ele. Chegando no estabelecimento, ele se desfez de sua montaria passando levemente a mão na cara do cavalo, que procurou se desvencilhar pois como se tratava de um anão o gesto parecia mais grosseiro do que carinhoso. Antes de entrar ele removeu o capuz e tirou a neve das longas tranças de sua barba e também do cabelo, que eram da cor dos pinheiros que poderiam ser encontrados por ali.
A taverna estava cheia. Cheia de pó, cerveja, gentes, barulho, mas pouca confusão. A lareira estava acesa e o ambiente oferecia conforto.

- Salve amigo Olap! - Bradou o taverneiro.
- Salve Artho! - respondeu o anão.

O anão se dirigiu ao balcão, e ordenou ao taverneiro que o servisse com a melhor cerveja que ele oferecia antes que eles começassem a prosa. O taverneiro era seu amigo. E isso, para um humano, deveria significar muito, pois romper com a teimosia e o ranço de um anão era para poucos.

Era muita cerveja, pensou o anão, já na terceira caneca de cerveja, e na segunda prosa de suas andanças. Mas a lida seria bruta, então pediu uma última caneca antes de deixar a taverna, montar seu cavalo e partir vilarejo afora.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Assim encontro-me: perdida. Tentando escrever algo. Qualquer frase que me faça sentir útil no orbe dos poetas. Uma linha, duas páginas, um livro. 
Ponho ereta a cabeça em frente ao papel. Rabisco umas palavras rotineiras seguidas de adjetivos e risco em cima. Apago.
Respiro fundo, ajeito a cadeira. Nada.
São tantas ideias deveras interessantes para se passar ao mundo... Aí o cérebro apita. Faz-se bloqueio criativo.
Viro a cabeça, distraindo-me com uma pequena joaninha que desliza sobre meus dedos e para na palma da mão. Um simples fato como este afasta toda atenção à folha em branco que, mesmo quietinha em seu canto, implora para ser usada.  
Olhos se fecham ao levantar e abrir dos lábios. A joaninha é esperta e ganha um sorriso de meu rosto, sendo a única a conseguir despir a couraça que me acompanha há tempos em minha jornada.
Novamente eu, encantada ao simples. A mesma reclamante do abalo, entediada pelo notável.
Mas despeço-me e volto ao papel. Foco no compromisso da expressão. De certa forma, retirar todos os pensamentos e acúmulos de dentro.
Trago comigo um medo de explodir, de transformar tudo em ventania. E o único antídoto disponível em estoque, capaz de controlar a ação nociva do veneno que cresce em mim, se encontra nestas palavras. Palavras que, tão vomitadas, tendem a ser minha salvação. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

385

A cama era grande, a tarde era longa, o tempo corria lento.
Restavam-me ainda umas duas horas até que ela retornasse do trabalho.
Deitado, olhando para o globo espelhado que pendia do teto, eu podia ver um pequeno pedaço do meu rosto oscilando, quadro por quadro, a medida em que a esfera girava lenta com o balanço do vento.
Levantei-me e olhei para o rapaz que me encarava do outro lado do espelho da porta do armário, meu único companheiro até o final da tarde. Pude observar bem o seu rosto, que estava tranquilo, mas não feliz. Inquieto, ele fazia gestos estranhos que eu imitava. Seus lábios se moveram, não havia voz, mas eu ouvi o que ele disse.
Virei-me e corri o olhar pelo quarto. Deliciei-me com as cores, por mais que não gostasse delas. O armário, a janela, a estante, a parede, os livros, a porta. Deitei novamente, fechei os olhos e ouvi cada pequeno barulhinho, senti cada aroma.
E assim guardei a única coisa que sabia que continuaria comigo até meu fim, pois já naquele momento eu sabia que o resto estava condenado. Que era só uma questão de tempo até a embaralhada maluca acontecer. Até que o castelo caísse sobre si mesmo. Mas eu também sabia que, chegada a hora, eu ia tentar resistir.
As contagens já haviam parado, assim como as outras coisas bonitas que já se fizeram em outros tempos, todos encerrados por feridas que não se curam direito, e que se reabrem ao menor movimento descuidado.
Havia me apegado ao conforto que segura e cega, que fizera com que eu não quisesse abandonar o lar, mesmo ao som das sirenes que sinalizavam o iminente desastre a se aproximar, que criara falsas ilusões de que talvez eu não fosse afetado, e que se fizesse de conta que não vira, tudo seguiria sua rotina normal.
E caí assim, tolo e só, soterrado pelas fracas estruturas do castelo que construí as pressas.
E assim fui jogado novamente ao mundo, de olhar vago e coração vazio, apenas com meu baralho e a esperança de que haja algum outro lugar onde possa construir minha fortaleza, um lugar pra chamar de lar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

E não volta mais

Vai, some daqui
Fica em silêncio
Lambe teu doce
Sem pra trás olhar

Já não adianta
Acabou a luz
Nada mais emana
Não tem como arrumar

Por que ainda
Parado aí estás?
Não te convenci
Que nada vai mudar?

Não pensa nada
Nem um motivo
Não quero argumento
Nada ficou pra explicar

Porque nesse mundo
Pra duas pessoas
Assim como nós
Não tem mais lugar

Observador Lunar

Debaixo da árvore.
Na sombra do sol.
Sol dá sombra.
Antes fora.
Antes de ir embora.

O sol se foi.
A luz ficou.
O macaco de ontem.
Hoje, levantou.
Não mais anda.
Como animal.
Como ser humano.

Monolito negro.
Tocavél não por dedos.
Polegar opositor.
Se encerra o conhecimento.
Dentro de seu torpor.
Não faz sombra.
E não faz luz.

A luz esteve no animal.
De ontem pra hoje.
É ele quem sabe.
Num sentido vão...
Se vai ser luz ou escuridão.

A lenda do Uariuant

Era dia já quando resorvi alevantar da cama. O sol ardia arto, e eu era só mais um véio ensopado dono de uma prantação de aipim. Criava algumas galinhas também, num galinheiro imporvisado, como era uma lonjura da cidade elas viviam mais sortas do que presas. Do lado do meu sítio tinha a fazenda do Lutiér Vicentão, Pino no Ombro, porque ele tinha pobrema de articulação... Dono dum baita bananal.
Abri a janela e oiei pra fora, praquela prantação bunita, vi que não ia ter muito trabáio. Meu Gurgel Xavanti, modelo de 74, tava na garage, sempre pronto pra uma aventura até a venda. 
Andei pra fora, tava indo pegar o ancinho, pra catar umas fôia e juntar o mato que tinha capinado onti, quando veio a Gertruda, minha companhêra de sítio, vira lata gorda, tarvez ela tivésse se apercebido que eu tava levantando mais tarde...
Tinha juntado o mato e tava oiando os aipim quando a Gertruda começou a dá pinote e se arvoroçá acuando pra tudo que é lado...
Tá. Comecei a oiá em vorta, num via nada, num via nada... Até qui vi um bicho estranho em um galho numa árvore me oiando também, era meio pequeno do tamanho de um leitão tarvez, tinha uns olhão graúdo de pexe e bem cororido, umas pata de galinha, também graúda... Nunca tinha visto nada parecido com aquilo, ele começou a fazer um som meio de pássaro e abrir a boca saracoteando com a língua... A gertruda tava que nem loca correndo em vorta na prantação acuando...
Pareceu um estalo. Que nem quando a gente cochila. Acordei era no meio da tarde, a Gertruda me lambendo a cara e eu deitado do lado da prantação, parecia dismaiado.

Depois desse dia confesso que fiquei com medo. Cunversei com o Vicentão sobre o acontecido, e fui comprá uma surda pra mim... Sabe? Pau de fogo? Pra ispantá esses bicho que parece assombração...

Depoimento verídico de Abedilia Inácio da Silva

Arlindo não olhou para os dois lados

"Preciso muito do banheiro", pensou Arlindo na volta da padaria. Neste dia, trazia consigo umas roscas, uma grande quantia de pão e uma imensa fome.
Ouviu a si mesmo dizendo isto e olhou em volta, a fim de certificar-se de que ninguém mais o tivesse ouvido. Atravessou a ladeira em frente a praça cujo chafariz estava desligado há dias, e fez isso olhando apenas para um lado. Compras na mão, caminhou pela calçada, pátio e varanda até a porta de sua casa. Tirou a chave do bolso da calça jeans preta e velha, abriu a porta, tomando cuidado para derrubar nada, e fechou sua passagem com uma bundada.
Levou as sacolas até a mesa da cozinha e as deixou lá, sem abri-las. Foi até o banheiro, lavou o rosto, as mãos, os olhos; secou as mãos e o rosto; masturbou-se formalmente, deixando a porra cair no vaso e deu descarga. Lavou novamente as mãos, agora com mais dedicação. Ligou o rádio da sala, que seguiu a reprodução de um disco da Joan Baez.
Foi até a cozinha, serviu a si um copo de leite e levou o pacote de roscas fritas de polvilho até o sofá. Comeu uma delas e gostou muito. Tomou um gole do leite e juntou o jornal, abrindo-o na página dos esportes. Não era isso que queria. Também o obituário não lhe reportava qualquer vingança. Seguiu, passando sem rir pelos quadrinhos, até a parte que anunciava as novidades no teatro, cinema, e outros lugares aos quais não iria. Bastante coisa boa, percebeu.
Comeu outra rosquinha, enquanto olhava o relógio de parede. Quase seis horas.
Desligou o rádio, ligou a televisão, devolveu o jornal a algum canto. Assitiu um seriado estúpido de grande sucesso, comendo as outras três roscas enquanto encarava a tela, calado, coçando o saco de vez em quando; saracoteando entre os canais durante os intervalos comeciais.
Continuou calado pelo resto da noite; depois de tomar seu leite e comer dois sanduíches, depois de tomar um banho quente. Continuou calado enquanto assistia o gol marcado pelo Paulo Polícia, enquanto via uma reportagem sobre a fome lá longe, e até mesmo quando o sinal da tevê sumiu por um tempo.
Estava calmo, como costumava estar ultimamente. Calmamente vestiu-se para ir trabalhar, quando chegou a hora certa. Partiria em boa forma e sem atrasos, como de costume.
Tudo corria bem, até que nada aconteceu.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sobre o tudo e o nada...


Acordei  naquele dia e nada mais era como sempre foi...
A calmaria dos dias banais passaram na minha mente como lembranças de uma outra existência , rastros de um outro mundo dentro do meu próprio mundo.
Será que o meu mundo mudou  ou eu o olhei de uma outra forma?
Não sei, nunca saberei, só sei que naquela manhã tudo parecia diferente.
O velho se tornara novo, mas não mais tão belo.
Aquelas pessoas correndo já não fazia o menor sentido, correndo para alimentar o que as farão correr novamente ... pobres existências míopes, escravas de si mesmas.
Tento encontrar pistas de onde nasce esta fumaça negra que obscurece a visão e paralisa os sentidos, mas ela se mostra diferente para cada um que a vê, os que podem a ver.
Não tem cara, nem olhos...
Seus sussurros me fazer procurar por respostas, me desafiam!
Acordam-me no meio da noite e me fazem sonhar em pleno dia.
Não recordo o dia em que o muro se ergueu, mas naquele dia adormeci sem saber se a vida seria um sonho irrealizável!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Quando a sala do palácio se esvazia - Parte I

Continuação de A vasta estepe um cavalo rápido e o vento em seus cabelos.

- Só precisamos que dê um recado à ele. Que o afaste da cidade, coisas de negócios...
- Não é melhor eu matá-lo? - Disse a elfa.
- Não! Ele é importante para manter a rede comercial... querendo ou não é o que nos dá oportunidades.
Ela acenou com a cabeça. Do lado de sua cabeça, pode perceber uma pequena aranha que descia suave em sua teia. Era um porão sujo e abandonado na área portuária daquela cidade.
O homem com quem falava era um velho "amigo", que para ela significava um contato, que se convertia em contrato muitas e muitas vezes.

A tarde se esgueirava pelo tempo, e a cidade andava movimentada como sempre. Elfa seguiu para uma taverna esperar a noite cair, para entrar em ação. Era sempre a mesma coisa, mas era sempre emocionante. Lá a música tocava, a bebida se esbaldava, raças se encontravam... nem sempre de maneira amistosa.

No fundo da sua caneca, agora vazia, ela via o seu rosto no reflexo do refugo da cerveja, em uma tentativa inconsciente de ver dentro da sua própria mente, o que ela escondia... O seu passado sem memórias, que a deixara jogada naquele caldeirão fervilhante de tramoias e sujeira que era aquela cidade... Havia a possibilidade de que outra possibilidade para sua vida fosse igual ou pior. Não que ela considerasse bom ou mal, certo ou errado, melhor ou pior... era só sua personalidade desconhecida, se é que havia, escondida em sua mente minimamente se manifestando.

Quando a noite iniciava, ela se dirigiu para as imediações do palácio onde estaria Hadd' Alid, um mercador poderoso, comprador de escravos com contatos na região de Maztica, no oeste, o que fazia com que ele tivesse acesso à plantas medicinais e artigos valiosos exóticos...
Ela deveria se vestir como uma escrava e se juntar com um grupo de mulheres escravas que estariam chegando no palácio. Foi a parte fácil, uma pequena maquiagem, uma roupa adequada, a adaga escondida e ela estaria pronta.
Quando estava no meio das escravas, se lembrou com ódio do palácio de Ramud Aku'r, no seu tempo de escrava... e aquelas mulheres estariam passando a mesma coisa.

Na verdade para ela, bastava ele ter relação com escravos que o ódio já se fazia presente. Ela fora uma escrava por tempo demais, e talvez o seu "recado" para o mercador representasse de fato um assassinato. Ela não estava ali por ser boa em obedecer, afinal.
Era difícil esconder sua expressão quando entrava no palácio, mas uma vez lá dentro, tentava manter o sangue frio, como a lâmina que viria a usar. Procurou se esconder em um quarto próximo ao aposento onde Hadd estava jantando com a filha, não haviam guardas por ali.

Era um luxuoso quarto, iluminado por alguns candelabros de ouro, uma cama enorme, do mais fino tecido que ela já havia visto em Porto de Calim. Andou em direção aos móveis de madeira que estavam dispostos pelo quarto, para ver algum vestígio de jóias quando ouviu passos em direção do quarto...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ser um fruto

É perturbador, depois de achar-se um estranho por anos, redescobrir-se em uma forma há tanto tempo ignorada. Os olhos se arregalam; bicando a minha asa, tentando descobrir porque não a sei bater, encontrei ali uma escama, dura herança inevitável. Sinto dor ao arrancá-la dali, e dói-me ainda mais saber que ela crescerá de novo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A verdade é algo poderoso. Não importa em qual assunto o sujeito encontrou o seu predicado, o resultado permanece o mesmo. É uma luta para tentar fazer o 'outro' parecer você em um mundo diferente, ou igual, na maioria dos casos. É uma luta, para que o outro enxergue o mesmo que você.
Não é uma questão de culpado ou inocente, certo ou errado, ou mesmo então verdade ou mentira... Pois, ao findar das contas, que neste caso envolvem letras e não números, são várias as verdades, reveladas a cada pessoa a nível individual. Todas elas tem o objetivo puro de tentar alcançar a felicidade, consciente ou inconsciente. É por isso que quando alguma pessoa chega em uma verdade, ela vai acreditar nela com todas as suas forças, e vai querer que o 'outro' veja o mesmo, tamanho o sentido daquilo.
Através de uma vivência, da hermenêutica, a verdade é revelada única e irredutível para o sujeito que a abraça sem resistência.

A velha casa

O piso range a cada passo, e mesmo sendo tudo tão familiar, é tudo tão estranho.
O urso de pelúcia, já sem o olho esquerdo e com uma perna quase a cair, mantém seu sorriso e os braços abertos, na incessante espera de uma criança para abraçá-lo. Em meio ao pó do chão, cacos de vidro são fiéis companheiros das pedras que os fizeram voar das janelas. Os fungos fazem do úmido papel de parede, velho e desbotado, o seu lar. As fotos se espalham pelo chão, sorrisos quase apagados, personagens utópicos, restos de uma história que não existe em livro algum. E o restante ainda está quase no mesmo lugar, mas mesmo assim é tudo tão diferente, tão velho.
Muitos passos, muitos anos, e muitas vidas se passaram.
O mundo seguiu adiante desde então, assim como tudo naquele lugar.
E no fim do corredor encontro emoldurado o velho espelho, que mesmo rachado ainda exibe o que se mantem intacto, o que persiste em prosseguir, e que ainda vai estar lá depois que todo o resto virar pó.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Tanto palco que falta plateia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Mosquito Interior


Carrego comigo uma eterna qualquer coisa, uma mistura de infelicidade com inquietude.
Não chega a ser um lobo da estepe, que uiva em desespero por liberdade, dividindo uma personalidade em duas ou dois milhões.

O que eu tenho é um mosquito.

Meu infeliz companheiro de espírito, menos grandioso e nobre, encontra prazer nas pequenas coisas.
Diverte-se zumbindo um ‘e se?’ quando tudo aparenta paz e sorriso.
Quando a pele lisa da simplicidade repousa, ele pousa e morde um ‘será?’.

Geralmente, pra espantá-lo, só preciso de um copo, um bar, uma conversa. O problema do mosquito interior é que ele volta, sempre por um motivo diferente, sempre com um zumbido diferente. Seu objetivo na vida é ser notado, chamar minha atenção e me fazer dedicar ao menos um pensamento sobre o assunto.

Eis que dia desses tomei uma decisão: submeter-me-ei a uma Cirurgia de Remoção de Mosquito, realizada pelo Doutor.
Os resultados do pós-operatório podem ser observados aos montes por aí, e se mostram melhores que o esperado. Após o procedimento, não há mais dúvidas, críticas, lágrimas, questionamentos interiores. Nunca mais um dia bonito deixará de ser vivido por medo do pôr do sol por vir. Imagino poder conversar com alguém e não querer saber que livro leu e que disco escutou. É o sonho, é o primeiro passo para Ser.

Sem o mosquito, a vida há de ser mais fácil, mais simples, mais cega.
Após a remoção do mosquito, há de restar somente a felicidade.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Reflexos


O a se viu a.
O pó se viu pó.
O céu se viu céu.
O tolo se viu tolo.
O sábio se viu sábio.
O alegre se viu alegre.
O invisível sequer viu.
O triste se viu triste.
O santo se viu santo.
O sujo se viu sujo.
O sol se viu sol.
O só se viu só.
O z se viu z.

Mas o espelho...
Ah, esse se viu infinito.
=)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eu não tenho onde acender incenso

Engatilhada na goela, uma reclamação. Esta não alveja o escapamento do automóvel, tampouco o cigarro da senhora que segura a bolsa firme e temerosamente, enquanto atravessa a avenida a caminho do ateliê de corte e costura.
A reclamação, essa, está guardada para a imperdoável queima da minha profana vareta de incenso.
Seja no meu calabouço particular, na sala de chá ou no sacrossanto tribunal da praça pública, pouco importa; haverá uma voz a se erguer em protesto a este ato inaceitável que eu ouso apreciar.
Resta, assim, passar no Joe Surfboards e ver se ele já consertou minha prancha.
Caso a loja esteja fechada, acendo um incenso por lá mesmo, entupo minhas narinas com o odor hediondo e fujo, antes que a chuva divina, enviada pelos incansáveis vigilantes, me venha castigar.
Se a fumaça ainda souber me proteger, que eu não ouça seus gritos de protesto, nem seja agredido pelos seus olhares julgadores enquanto corro de volta para a colcha de retalhos em que me disfarço.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ka-tet

Feito de plurais, chegou lá dia desses, dia qualquer, segunda de sol se bem me lembro, mas minha memória me falha tanto.
O cabelo comprido não lhe caía muito bem, fazia-o parecer uma samambaia ambulante, arrancava risos dos demais, que diziam que ele de alguma forma lembrava um pouco um sapo.
A princípio subestimei sua inteligência e conhecimento, talvez um método subconsciente de punição pela forma arrogante com a qual por vezes falava com os demais. Passava-me em sua fala a autoconfiança excessiva, a arrogância dos jovens demais, daqueles que ainda tem 19 e acham que alguns anos de experiência podem ser substituídos com as teorias provenientes de livros escondidos pela poeira de bibliotecas municipais.
A mim e aos outros tratava com indiferença e constante ironia, causando nos mais irritadiços profunda aversão.
Talvez fosse só seu teste, sua maneira de evitar a contaminação de seu puro espírito pelas palhaçadas do circo popular, o casulo que o protegia dos bips que os altifalantes dos robôs produziam em intervalos regulares, das baboseiras dos lunáticos egoístas, mas mesmo que de certa forma até concordasse em sua proteção, ainda me parecia a maneira errada.
E aos poucos eu, que fora crescido em meio a desafios que todos até hoje desconhecem, que aprendera a ver o espírito separado do corpo, pude ver que brilhava nos olhos daquele jovem outra luz, a luz dos que tem mais que apenas fome física, daqueles que tem uma infinita fome dentro da cabeça, que querem devorar o mundo, o universo, as dimensões e a imensidão além com vorazes mordidas.
E também aos poucos, me senti conquistando a amizade do que por muitas vezes se dizia não meu amigo, usando da vasta paciência da qual dotava então para ignorar os estúpidos comentários do estimado imbecil, acreditando naquela minh'alma que me diz quando alguma amizade vale os esforços executados.
E eis que tornamo-nos amigos. Eis que, ao que o tempo passava, ganhei mais um par de braços e pernas para me apoiar e empurrar, uma mente ávida pelos mistérios para incitar a minha própria nos caminhos do desconhecido, o amor de mais uma pessoa a tornar minha vã existência digna de mais um punhado de sorrisos.
Novas portas me foram abertas, novas histórias me foram contadas, novos lugares me foram apresentados, novas dobradiças foram instaladas no topo de minha cabeça para que fosse mais fácil jogar lá um punhado de novas ideias, e um botão foi instalado em minha testa para que se fizesse mais fácil de fazer uma batida de ideias, uma mistura de possibilidades.
Mas acho que, uma das coisas mais importantes, foi que novos amigos me foram apresentados, pessoas de ideias similares e diferentes, possuidores de outros ingredientes para as misturanças que agora se faziam possíveis dentro de minha mais aberta mente.
Mas há outras coisas importantes, há sim.
É graças a este peculiar indivíduo que hoje escrevo este texto, que hoje mostro aqui, e que não tenho medo de expressar com minhas palavras e ideias a gratidão que por suas atitudes sinto. É graças a ele que muitas coisas novas se fizeram possíveis.
Nos bancos de praças agora há mais filosofia, nas fachadas de prédios há significados subliminares, copos são erguidos em mesas de bar honrando tradições milenares, interrogatórios avaliam fatores aleatórios, as conversas sem sentido vibram pelos ares, e o que mais faz sentido é muitas vezes ignorado em favor das toalhas que você deveria ter aí do lado.
Conheci Roland, Hans-Thomas, Peixoto, Sofia, Adolfo, Jake, Susannah, Eddie, entre tantos outros.
E o tempo passou tão rápido, as algumas memórias se fizeram tão vagas.
Hoje já não é mais tão comum a sua companhia, mas se o encontrar ao acaso, na rua, conversaremos como se ainda fossemos os mesmos colegas separados pelas jaulinhas, e talvez até tomemos um achocolatado e quem sabe até umas bolachas recheadas em qualquer praça por aí. Faremos as mesmas piadas cretinas e riremos, mas não muito, de nossas faltas de sorte.
É ele o idiota que vai achar um bom punhado de erros aqui.
É ele mais um integrante do exército dos que me acompanham a navegar, dos que sentam ao lado, pegam o outro remo e me ajudam a seguir.
De uma coisa, porém, ainda me recordo acima das demais.
Diante das adversidades que lhe eram impostas, sua solução era sempre a mesma.
Amor é a resposta, dizia ele.
Amor é a resposta, repito eu até o fim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Calça Jeans e Cachos Comportados

Pif-paf, normas e regras.
Correias e códigos, um cinto e um assento; equipamento inicial para um humano plebeu.
Induzido a uma conduta, conduzido a labuta; o início da aventura cotidiana, desventura tão mediana e até medíocre.
Catapou, ninguém chegou.
Equilibrado num pé só, recito os versos que aprendi numa manhã, dez anos atrás.
O desafio de sair; o desafio de voltar. Em desatino, desafino ao saltar cama a fora, embora caminho adentro eu nem me lembre em qual pé fiquei em pé nessa manhã.
Eu visto jeans, porque o meu pau e a minha bunda precisam de um disfarce para poder andar lá fora, para poderem respeitar algumas normas.
Não lembro de ter lido sobre como levar em paz a minha vontade de causar destruição e cagar alguns a pau. Talvez ler algumas notícias sobre o oriente médio, ou comprar um carro novo.
Eu uso creme pros meus cachos ficarem bem comportados, pra que eles sejam tolerados aqui e ali, e essa é uma norma que eu não sei mais deixar de seguir.
Outra norma que eu sigo sem saber é engolir em seco, no susto, as inquietudes gorgolejantes que me afloram em momentos de solitude.
Deixar pra lá, me embriagar, comer um pastel, uma pastilha ou uma pilha de bolacha Maria; a fórmula infalível que estou fadado a repetir; porque as bolachas não saciam, apenas silenciam, por um tempo, o apetite que me toma e me leva a querer devorar meio mundo de vontades, de desejos e suspiros.
Em algum lugar perto do meu cu, uma marca imperceptível de carimbo atesta: sou um homem civilizado.

domingo, 23 de setembro de 2012

Das perguntas sem resposta

Fugiam buscando a imensidão celeste
De longe, apenas pontos negros ao esbranquiçado céu do crepúsculo
Procurando abrigo e respostas, arriscando-se no vasto desconhecido que se estendia para além da pequena portinhola, agora aberta
As escuras cores do mundo estendiam-se abaixo de suas asas, limitadas pela fina linha do horizonte, evitando a criação dos gradientes na mistura dos tons
A si chamava Livres
Seus olhos castanhos traziam consigo contos ocultos, sugeriam incertas possibilidades
Mas a fala lhes era vaga, mantendo histórias em segredo, preservando dúvidas
E na visão dos que pouco sabem, não passam de pontos lá em cima, migrando para lugares mais quentes em resposta aos instintos naturais
A mim, porém, estas solitárias incógnitas parecem ser bem mais
Criado nas dúvidas, alimentado com possibilidades, amante dos sonhos, vejo as coisas como poucos
A nós chamo Únicos
Há horas o sol se foi, e olhando para o céu, aguardo pelo brilho de seus olhos
Enquanto teimo em obter respostas que podem guiar-me também ao horizonte, mesmo que me sejam lançadas apenas mais perguntas
E aguardo, dia após dia, poção após poção, para que talvez os frascos verdes vazios tragam algum sentido na misteriosa dança do curinga

Aos Antigos Caminhos I

Cadê o leve?
Cadê o belo?
Pra onde se mudaram as pessoas, cuja casa vazia estão pintando de amarelo?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sobre dádivas e dúvidas

A chuva dói-me em meus ossos. Sua queda é permanente e irrevogável. Traz-me a lugares que por pouco não desconheço, leva-me a visitar os quartos escuros da minha cabeça.
Ali não há repouso; não estou só.
Murmuram em mim os fantasmas que engoli em dias passados, espectros de promessas e premissas.
Este, que tinha tudo para ser um dia comum, revela-se uma distinta reprise do que tem sido todos os outros. A mesma frase das linhas anteriores, mas sublinhada com tinta vermelha.
São quietos, sossegados, estes fantasmas que me acompanham ao revirar velhas ideias, velhos vislumbres.
Entenda, não há nada demais sobre o dia de hoje. Decidi dizer algo sobre o que penso, perceba, não exatamente o que penso, mas a parca expressão que consigo dar ao que transita em minha consciência. E é isso que eu tento, com certa frequencia, e nisso eu falho sempre que posso. Continuo procurando uma explicação.
O copo com água que repousa a meu lado me diz que ainda tenho algo a dizer.
Mas não sei, não sai.
O que dói em meus ossos pode não ser a chuva; pode ser que a dor nem seja nos ossos, não sei dizer. O doutor não me ensinou como identificar os sintomas das diferentes crises que brotam aqui.
Renunciei a um suposto futuro brilhante - de brilho a ponto de me ofuscar, e me recolho a contemplar o melancólico passar de um dia sem sombra.
Eu passo por ele, mas não ele por mim. Guardarei memória do momento em que olhei em volta e percebi que eu não estava lá.
Quando, em meio aos vultos expectantes, eu segredei a mim mesmo a minha ausência, o copo estava, então, vazio.
E os fantasmas, silenciosos, concordam comigo em gestos suaves, ao afirmar que já basta deste assunto para um dia de chuva.
Que ela caia como bem entender; já está quase na minha hora de sentar-me com eles.

Upon us all, a little rain must fall

Explosão de Pensamentos


Lá estava o indivíduo, em seu momento mais solitário, refletindo sobre seus atos.
Atos que normalmente o levara a outras reflexões e encadeava uma série de tristes lembranças.

Talvez ele saiba que não pode mudar o que aconteceu, que deveria aprender a superar o que considera seus erros.
Talvez ele não tenha aprendido a jogar com as cartas. Pra que usar o Coringa? Aquela era a Dama de Copas?
E não adianta, os pensamentos continuam batendo na sua porta e sendo convidados a entrar.

Mas, como já dizia o sábio ancião-não-sei-quem, estamos em constante mudança. Quando passar novamente pelo rio, nem ele e nem você serão os mesmos.
E com este indivíduo não é diferente.

Em meio ao seu caos interno, ele lembra de um momento especial: o primeiro beijo. Ah, aquele beijo.
Este momento que estava escondido ainda permanece claro em sua memória como se fosse ontem.
Tudo parecia acontecer novamente. As pessoas em volta desaparecendo, o tempo parando, o abraço confortável e a clara troca de sentimentos entre duas pessoas.

E os pensamentos se retiraram, deixando um grande sorriso como presente.

A estrela

Anos atrás, uma menina sorria em frente ao balcão. Os olhos furiosos de seus pais lhe encaravam, enquanto acertavam com a atendente o imenso prejuízo que a criança causara àquela loja.
Mais uma vez havia corrido demais, falado demais, causado imensa vergonha para com seus parentes, os quais não entendiam o porquê daquele ser tão pequenino conseguir causar um estrago tão grande.
Quebrar objetos valiosos, derrubar torres de comida, bater em colegas, fingir-se de inocente... Ser a menor e mais jovem não a impedia de realizar tais feitos magistrais.
E todos se encantavam e lhe diziam que possuía uma estrela; que ela ainda era minúscula, mas já brilhava; faltava apenas crescer. Transformar-se-ia somente em luz. E o dito condizia, pois parecia ter sido instalado fiações ao redor da menina.

Passaram-se primaveras. Não fazia mais uso daquele cabelo escorrido, nem da franja reta lhe cobrindo os olhos. Sua visão ficara mais intensa e sua mente ganhara uma amplitude ainda mais luminosa, mais desejada. A necessidade de estar sempre em movimento, continuava, mas já não era algo que predominava. Destruir brinquedos, iniciar guerrinhas juvenis, se meter em conversas de mais velhos... Era o que pouco existia. Subira alguns degraus e sua estrela aumentara de tamanho.
E todos lhe doavam abraços e afirmavam que serias grande. E continuavas reluzente; parecia um holofote. Seu interior encapetado e seu rosto angelical pediam por atenção. Ansiavam por palmas e sorrisos, e os conseguia. Habitava em si algo cândido, sincero. Não eras má, apenas feliz.

Vieram alguns invernos. Junto deles, tempestades, jorrando tinta negra por cima de toda sua luz. Ocorreu, então, o início de uma série de cortes de energia em sua constelação. Quem imaginaria que, a suposta criança que enxergava tudo com seus imensos e curiosos olhos, não veria o abismo de escuridão que estavas por vir.
E todos, agora, lhe viravam a cara por conta das decorrências. E não existia mais esperança de uma Via Láctea em seu caminho. 


Por onde andaria a falante dona das encrencas? Aquela causadora de afeto, que, incessantemente, vivia por perguntar sobre a origem de tudo.
Desejemos que ela ainda exista. Escondida, em algum lugar secreto.
Sabe-se lá onde. Até então ninguém desvendou seus mistérios. Um levantar de sobrancelha continua sendo pouco para quem tenta desenredar seu interior.
Será que a menina sorridente do balcão sentiria orgulho da adulta que se tornara hoje? Deve ter esperado mais daquela que segurava todo o brilho do mundo nas mãos.
Mas era peso demais, não suportou carregar sua estrela. Deixou-a cair; sua luz acabou por se apagar.   


E nem todos, mas, alguns, torcem para que não tenhas se apagado completamente. Porque aquela pequena deves continuar ali, agarrada àquele corpo astral que lhe fora dado na infância. Mesmo que agora ela olhe para o horizonte e não pronuncie nada.

É incerto, mas, talvez, com apenas um clique, ela se acenda novamente.

Eis que um dia o capetinha que mora no Modo Aleatório escolhe uma música dentre dez mil, e a frase, tantas vezes ouvida, de repente faz sentido. E, simples assim, a confusão de pensamentos e não-cores vira arrepio e sorriso.

'Não é o prédio que tá caindo, são as nuvens que tão passando.'

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Antonieta só assistia comédias românticas da Sessão da Tarde. Chorava e sorria, sozinha, embrulhada em lenços de papel e pipoca de micro-ondas. Sonhava em encontrar O Amor Verdadeiro, em Viver Feliz Para Sempre. Sonhava grandes gestos de amor, declarações inesperadas, uma paixão tão arrebatadora quanto a do comercial que provava que quanto mais, melhor.
Antonieta encontrou o amor, um dia. Aquele de verdade, da vida real, nenhum roteiro ou garantia de final feliz. Encontrou-o em um rapaz de beleza e sonhos medianos, sentimentos controlados, ações pensadas.

Antonieta encontrou o amor, mas nunca soube. Acenou com a cabeça, sorriu e disse até-logo-vou-pra-casa-ou-perco-o-filme.

domingo, 16 de setembro de 2012

O fanatismo chega, o respeito se retira.
No fim do caminho tinha uma placa
Uma placa ilegível de pare

sábado, 15 de setembro de 2012

No meio do caminho tinha uma vida
Nunca se soube o que houve do caminho

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Quero Tocar Seus Pés


Não apenas pelo ato em si, mas por todo o contexto que isso representa.
Pelo menos pra mim, os pés tem algo de intimidade.
Logo, tocar seus pés representa uma situação ideal de conforto e intimidade.
De cumplicidade até, eu diria. Se eu estou tocando seus pés, é porque você consentiu.
Você quis também, e me aceitou com todas as peculiaridades que cada pessoa tem.
Tocá-los significa confiança.
Você não estaria tão à vontade com um estranho, sentada no sofá da sala numa tarde de domingo, ou no banco de trás do carro, voltado de viagem, com os pés no meu colo.
Seja você hipotética ou real, eu quero fazer isso.
Um ato ímpar de um par.
Um par de dois, dois pés e duas pessoas.
Poderia dizer também que se tenho liberdade pra tocar seus pés, tenho liberdade pra mais coisas também.
Como ir te buscar de blusão, bermuda e chinelo.
Do jeito que eu levantei da cama.
Quero tocar seus pés, e quero que isso represente pra ti o mesmo que pra mim.
Que, naquele momento de nossas vidas, isso traga uma tranqüilidade tamanha que não vamos trocar esses minutos por nada, nem um de nós por outro, nem nada.
Mas antes disso vou esfregar minhas mãos, pois elas estão geladas.
No meio do caminho tinha um Asdrubal.
Tinha pau, pedra e fim no meio do caminho.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

No meio da pedra tinha um caminho.
Tinha uma pedra no meio da pedra.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Meus encontros com o acaso


Todos os dias, sem exceção, são um campo potencial para o acaso.
Por um grande acaso, cheguei primeiro no óvulo da minha mãe.
Desde então, nesses esbarrões eu sou agraciado por situações, eventos, lugares ou pessoas que só enriquecem essa incrível jornada que eu recém estou aprendendo a seguir. É isso que chamam de vida, acredito.
Graças ao acaso de cair em uma sala de aula, e não em outra, conheci amigos que trago perto até hoje.
Há quem vá dizer que não, que são coisas do destino, que são forças cósmicas, um pai celestial etc.
Mas cada um tem suas crenças, e eu tenho muita pouca idade pra tantas convicções.
A única convicção que tenho agora é a certeza do acaso.
Por vezes infeliz, por vezes primoroso, mas constante e infalível.
Outros dizem que nosso subconsciente já tem as respostas de nossas escolhas, e que não há margem para acasos.
Mas já se pensou que a Terra fosse o centro do Universo... Já se pensou e se disse muita besteira.
Eu acredito no que eu sinto, e sinto como se fosse um balde cheio de coisas boas que recebi dos outros, e que estou sempre pronto para derramar meu conteúdo sobre quem tiver o interesse nessas experiências.
Eu só digo "que sorte, que sorte eu tenho".
Não que as minhas experiências sejam melhores que as dos outros, mas é o meu ponto de vista, é como eu me sinto, e me sinto fantástico. É o que isso significa pra mim.
Estou ganhando vivência, experiência.
Sabedoria.
Mesmo que sejam gotas, grãos minúsculos, mas são meus. E podem ser de quem mais quiser, eu divido. Aliás, melhor uma troca, um intercâmbio.
Pessoas, lugares, eventos e situações que o acaso me trouxe, que sorte a minha.
Me sinto, às vezes, descrente de tamanha sorte, como se estivesse num teatro.
Um teatro dos sonhos.
Mas é melhor, é de verdade. Palpável.
Espero poder compartilhar dessas experiências por um longo tempo, com os meus de agora e com os que o acaso trará.
Só não por acaso escrevi esse texto, esse eu de fato quis, basta saber pra quem o acaso vai mostrá-lo.
Aguardo mais surpresas positivas do acaso.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Expressar por que, mesmo?

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Critérios para Ser


Parece bem simples, à primeira vista.
E na verdade é, por que o complexo depende de quanto sabemos à respeito dele.
Partindo da idéia que sei tudo, prosseguirei.
Não se pode Ser a menos que os que São o reconheçam como algo que É.
Essa é a sua verdade absoluta daqui pra frente.
Como prosseguir? Fácil, Seja.
Aqueles que São estão sempre muito ocupados administrando Suas existências, então clame por Sua atenção.
Uma vez que a consiga, parabéns, você nasceu.
Ainda que ínfimo, você É.
Aprenda com eles.
Aprenda com Seus exemplos de dezoito anos de história. Isso é quase uma vida.
Absorva cada vírgula de Suas frases e filosofias, pois estas vieram daqueles que Foram antes destes que hoje São.
E que você também Será, tão lindamente.
Cuide da cada detalhe de sua existência, cada fio da sobrancelha deve ser cuidadosamente aparado e penteado.
Prepare-se para esquecer o erro e o fracasso.
Prepare-se para aprender a ver as vantagens de cada situação, e usá-la com destreza.
Ser é o máximo, o ápice, o gozo mental emocional de uma fatalidade biológica.
Para aqueles que nunca Foram, passam a vida na clausura e escuridão da inexistência, mesmo que portadores de CPF e RG.
Ser é fácil, basta se obter os meios. Se não por mérito, por interesse daqueles que São no seu potencial.
Alguns são verdadeiros foguetes, saindo do nada à estratosfera social em segundos.
Graças ao potencial.
Todos que São o viram, ele pode Ser como nós.
Pode ter Nossos símbolos tatuados na pele, Nossas sacras imagens publicadas em sua redoma de compartilhamento intelectual de acesso absurdamente restrito.
Só os amigos podem ver.
Como eu sei?
Porque morro de inveja, e fui bisbilhotar.
Eu nunca Fui.
Nunca consegui tocar aqueles semi-deuses que capturam cada por de sol em caixas mágicas que levam nos bolsos.
E que só os que São as possuem, só Eles tem o potencial. Os foguetes sociais.
Mas pelo menos eu tenho o bom senso de não tentar pseudo-Ser.
Já vi alguns que tentaram, e pareceram patéticos com seus trajes não oficiais, mas sim réplicas vindas de fornecedores não autorizados.
"Nunca Serão", dizia um dos mais célebres e profundos refrões proferidos por Eles em suas capelas mágicas, onde todos estão ao mesmo tempo sem estar.
Eu entrei nessa capela, afinal é pra lá que vão os que querem luz, mas não participo de Seus rituais.
Só fico sabendo destes pelas mensagens em código que Eles trocam entre eles.
E minha boca saliva e meu coração dispara.
Como eu queria... Queria Ser.
Queria que me olhassem e dissessem "ele É, com maestria".
Vou ter que aprender a lidar com a frustração de nunca ter alcançado tal título de nobreza.
Enquanto isso sigo com os meus, que assim como eu, sonham com o dia que vão olhar por cima, dignos de um lugar privilegiados em suas pirâmides. Tão imponentes quanto Mufasa e Simba ao contemplarem o nascer do sol.
Sonhamos com o dia em que poderemos entoar, em uníssono, o poderoso jargão que identifica aqueles que São.
Eles batem no peito e dizem, à plenos pulmões:
"É nóis".

12 mentiras majestosas

Nessa de começar a escrever, as mesmas palavras clichês veem à cabeça, não é?
Agora existe beleza, existe amor, existe esperança de que o novo dia seja melhor.
Outrora era mais fácil falar de sentimentos e da dor. Ou de sofrimento; da morte.
Há muito mais além de meras falas em bocas duvidosas, basta enxergarem o contexto.
Através de cada um exala a real verdade. Aquela verdade que vocês escondem sem cuidado.
Veracidade atochada em critérios absurdos, mas que, indiretamente, trazem um significado.
E será assim, não será? O velho moinho continuará girando e girando e girando...
Resumir-se-á em derramar a água de cada um, a mesma água de sempre; suja ou limpa.
De noite, quando deitarmos, o chavão deitará junto de nós.
Amanhã, ao acordar, escreveremos as mesmas palavras clichês.
De novo aquelas que não saem da nossa cabeça. As da natureza pessoal do homem.
E sei lá, cada qual entende como quiser. Como o corpo permitir.

Na medida de um coração

Confinada em uma pesada armadura ela estava, armadura que era leve na verdade, fora forjada por elfos... Elfos como um de seus companheiros, ali presente, de longa data e de longa vida. As gotas de suor que tomavam conta de sua bela face não escondiam toda a bravura que seu olhar transmitia. A bravura de incansável guerreira que ela era, mas também de mãe que ela não fora... E nunca mais viria a ser.
Apesar disso, suas mãos estavam firmes na belíssima espada que empunhava, forjada por divinas criaturas e sustentada por luz. Como a luz de uma manhã.

O ambiente era de irrelevante escuridão.
A batalha que se seguia era grande, envolveria eventos que perdurariam por eras tornando nomes, antes simples, em refrões nas músicas dos bardos, muito refinadas.
Onde ela estava, do seu lado estava um elfo e de outro lado estava um meio-orc. Pulsantes em energia e firmes no pulso. À sua frente estava Bhaal, um deus obscuro cujos planos só se podia imaginar, e era nele que todos os olhares se fixavam, nele e no seu exército de criaturas sombrias. Ele estava ali para matar aquela mulher e seus companheiros. Apesar de parecer uma luta desigual, as expressões dos três aventureiros não demonstrava medo ou receio, ainda que naquele precioso e preciso momento, descia Lathander, o deus de todas as manhãs e de todos os recomeços. O deus daquela humana.
Seus companheiros não dividiam a mesma fé, mas acreditavam em propósitos semelhantes, acima de tudo nela e em sua bondade.

Ela tinha um coração forte. Tudo o que sentia era a vida aflorando em suas veias, em um corpo agitado brandindo a sua espada muitas e muitas vezes, contra tudo aquilo que ela não acreditava. Era um enorme exército e um deus maligno, mas sua crença na manhã do dia seguinte era muito mais forte, mesmo que ela nunca mais fosse ver tal espetáculo. O seu deus estava lá lutando lado a lado com ela e seus companheiros.
Eles eram arremessados e jogados para os lados, se protegiam um ao outro. O elfo representando sua raça na agilidade e sagacidade de um guerreiro do arco e da flecha, o meio-orc na força física e também de espírito, afinal, não era de ontem as andanças dos três. Formavam excepcional sincronia.
Entre movimentos e golpes, inimigos e aliados, um portal se abre trazendo os defensores de Corellon, amigos de Lathander.
Somavam-se as forças, e se equilibrava a batalha. Mas toda a batalha tem início, meio e fim. Assim como toda vida tem início, meio e fim.
Não importa a força de um coração, nem quão fria é a razão.

A moça também tinha um coração puro. De uma pureza que só uma criatura mortal poderia ter, assim como a certeza de que um dia ele pararia de bater.
Era um coração que pararia de pulsar, e isso era inevitável pois ela nunca teria parado de lutar.

"Aloria, saia daí!"
Foram as últimas palavras que ela ouviu. Atrás dela estava o adversário, aquele outro deus, empunhando uma enorme adaga do tamanho de um homem ou do sonho de muitos. Em um breve momento, o tempo de um lamento, ele a golpeia imediatamente nas costas. A adaga a atravessa e sai pelo peito coberto pela bela armadura forjada por elfos, mas que, assim como ela, não era capaz de resistir a um ódio tão grande. O sangue escorreu como uma lágrima, igual às que ainda ardem, e pingou com a força de uma pancada.
No belo rosto de Aloria, se esvai a expressão de bravura que durante muito tempo havia encontrado um lar quase permanente naquela face.
Foi um momento silencioso, o próprio pesar já parecia presente.
Suas mãos antes firmes, agora aos poucos se abrem, deixando sua espada escapar entre os dedos. Enquanto antes era sustentada por luz, agora, sem a portadora para empunhar, deixa de luzir, e aos poucos se apaga no ar.
Seus olhos se arregalam por um breve instante, momento em que Bhaal retira sua adaga, e Aloria cai para sempre.
Como a vida que existe sem por quê, e o adeus, que às vezes se dá, sem saber.
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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Caminho

A trilha era cheia de obstáculos: pedras, tocos, buracos... Além de se encontrar num local íngreme. Uma vegetação rodeava o caminho, onde flores eram tocadas por abelhas, borboletas e beija-flores. Seguia por ali sem muito reparar no que lhe cercava, já que almejava, apenas, o fim da trilha, criando coragem para realizar aquilo que tinha em mente. Queria muito, se prendeu nesta ilusão.


Não levava nada consigo, pois não precisaria. Seriam alguns minutos para pensar e realizaria seu grande feito. Seu maior ato de coragem, quem sabe, já que nunca foi dominada por ela. Algumas coisas passavam em sua mente: Estava realizando o correto? Isso seria covardia ou coragem? Não tinha as respostas, mas havia tomado uma atitude.


Ela já diminuía seu passo quando um raio de sol iluminou uma parte do caminho, o que a fez observar a beleza que a contornava. Seguiu, apesar de maravilhada com o espetáculo da natureza, onde pássaros pousavam nos galhos das árvores, o perfume da flora encheu seus pulmões e o barulho de um córrego distante chegou aos seus ouvidos. Um leve sorriso surgiu em seu rosto.

Continuou o caminho, porém um novo olhar apareceu em sua face. Mais formosuras se revelavam a cada momento: o voar de uma borboleta, as pétalas caídas de uma margarida, o bater do vento na copa das árvores, os raios de sol ultrapassando a vegetação e iluminando as pedras. Tudo parecia tão belo, tão diferente, tão iluminado. "Não, não devo admirar a beleza. Vim para cá justamente pelo contrário: o feio dominou o mundo, só o ruim faz parte do cotidiano e a tristeza deixou tudo cinza.", esbravejou.
Logo à frente, depois de uma grande elevação, se encontrava o topo do penhasco. Chegou esbaforida, sentou no chão e ficou olhando para a grama. Fantasmas, antes escondidos, surgiram com maior força. Pensamentos sombrios e ideias lhe dominavam. Queria acabar logo com aquilo.

Encaminhou-se até a beira de uma grande pedra e olhou para baixo. Um abismo se encontrava ali. "É chegada a hora, me vou.", disse. Abriu os braços, olhou para a frente e assim ficou. Não conseguia acreditar no que via. Não entendia a maravilha que tinha ignorado por tanto tempo, tudo que havia deixado de admirar.

Sim, o sol, que já se localizava no horizonte, estava se pondo. Com sua coloração alaranjada, descia através do céu. Apolo, junto de sua carruagem de fogo, deveria ser o responsável por aquilo, pois só os deuses seriam os autores de tal obra de arte. Os tons, as luzes, as nuvens acompanhando o conjunto... A maravilha era de encher os olhos.

Mais elementos completavam a obra: o astro rei estava se encontrando com grandes campos verdejantes, os quais se perdiam de vista. Constatou que as coisas não eram tão ruins quanto imaginava, beleza existia e era infinita, bastava olhar ao redor. O rosto, que antes lutava contra a tristeza, passou a estampar um sorriso largo, cheio de vida. Um sopro de alegria chegou em suas narinas e seu olhos passaram a brilhar.

Agora, afastada da beira do desfiladeiro, viu o quão fraca estava, como sua alma estava cinza e sem vida. Havia se deixado abalar por nada, por egoísmo, por capricho. Agora, sim, tinha coragem, não para pular, mas para caminhar até o horizonte. Coragem para seguir a vida, o belo, seus sonhos.

Sabia que o caminho teria locais sombrios e dias de tempestade viriam. Porém, viu que existia algo positivo nisso: admirar as pequenas coisas e sentir que o caminho, apesar de tortuoso, a fortaleceria. Deu o primeiro passo para o desconhecido e seguiu em busca do horizonte.