segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A raiva como resposta quase sempre... O calor das lágrimas quentes. A sensação de incapacidade, de fracasso e solidão mental.
No deserto do consciente as areias se movem exaustivamente, ventania constante.
Apenas um vestígio... o último refúgio humano.
No meio das areias, corroído pelo tempo, eis o meu templo.
Vou e volto dele de vez em quando, quando não vejo mais saída aqui.
Suas muralhas me protegem, de alguma forma, de todas as adversidades.
A ida é demorada e penosa, pois as areias agitam-se com firmeza, impedindo o meu avanço rápido.
A volta é sempre mais tranquila, não há ventania e sempre tem um pôr-do-sol... um próprio mecanismo de defesa contra a insanidade?
Seria ideal nunca precisar visitá-lo, mas acredito que não tenho essa sorte. Ninguém tem.
Da mesma forma que ninguém um dia aprende. Todos estão sempre aprendendo, desde o momento do nascimento até o momento da morte.

sábado, 29 de outubro de 2011

Quando a raiva se esgota, e nada ainda foi suave, só nos resta a tristeza.
O momento em que descansamos para a próxima luta em vão; Tentar voltar ao passado, tentar fazer algo de útil, tentar tentar...
Dia após dia, se vai tudo o que você um dia foi, para o bem ou para o mal. Mas é a verdade que assombra e é o descaso que condena.
A verdade que nos leva à dúvida, e a dúvida que nos consome.
E se um dia você não conseguir mais acordar? Ainda te chamariam covarde...
E se um dia você acordar e levantar, te chamariam pretensioso.
Se um dia você souber não saber, te chamariam de mentiroso.

Talvez quando nada mais faz sentido, sentido há.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O jovem Jurandir

Jurandir estava contente; À base de muito raciocínio e digestão intelectual, formou, por si mesmo, uma sólida, consistente, opinião.
Ali estava ela, sintetizando todos pontos de vista em que Jurandir já se pôde apoiar. Deu um passo atrás, após posicionar, em frente a janela, o monumento que erguera.
Um pouco mais de longe, era possível contemplar aquela obra em sua plenitude. Fisicamente, era não mais que um tijolo de barro vermelho, maior que ele próprio.
Bem ali ficaria sua inestimável opinião, decidiu.
E do outro lado da antiga janela, pedras e folhas e galhos iam e vinham sem serem notados. A ele, estes não passariam de conversa fiada.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Frank não é fácil.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

(Im)possibilidades e ferramentas

Nos dão tantas ferramentas... é como dar para um artista uma máquina que fará para ele tudo o que ele imaginar. Talvez por conhecer os meios da arte e alguma técnica ele fará muitas coisas, ou não.
Dizem que uma pessoa que faz muitas coisas, só conhsegue fazê-lo por, justamente, ter exatamente muitas coisas a fazer. Uma pessoa muito ocupada.
Até é verdade, mas acho que isso não se aplica ao montante de coisas que há a se fazer.
E esse montante é produto, em parte, destas mesmas ferramentas que nos são oferecidas no mundo de hoje... e com elas, fazemos montes de coisas. A maior parte desse monte é destinada à estagnação, imersão... transe.... e transição também. É como uma prisão.

Possuímos tantas ferramentas de transformação e construção, e na maioria das vezes tudo o que transformamos é nós mesmos. Nos transfomamos em prisioneiros. E ainda ajudamos a construir apenas a prisão e não a saída dela.

Desde sempre construir foi muito mais difícil.
E continuará sendo. Para alguns, essa é a graça, assim como a graça está na jornada e não no objetivo concluído.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Oh! Admirável mundo novo...

E foi em quase pleno silêncio que li uma voz talvez não silenciada.
Em uma sociedade dita perfeita e feliz, alguém ainda reclamava o seu direito de ser infeliz.

Chegaremos a tal ponto será? Onde será que os desejos se confundirão com a realidade, e o que se tem, além de ser real, será também um desejo? Um desejo realizado?
Naturalmente que você dirá que isso já acontece, e eu vou ser obrigado a concordar.

Depois de tanto ler, estive por cansado. Como se tivesse caminhado por muito tempo, no mesmo lugar.

Acho que no fim a jornada é melhor do que o objetivo concluído.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O meu caderno

Eu tenho um caderno meio velho, com folhas de papel reciclado.
Faz um tempo que venho tentando me lembrar de comprar outro, porque esse vai acabar logo.
Há alguns instantes, resolvi dar uma olhada pra ver quanto sobra dele.
De trás pra frente, de cara, vi um recado de um amigo, me mandando beijocas, e a minha risada em resposta logo abaixo, seguida de um desenho de um gato... ô.o
Continuei folhando, vi algumas anotações de rpg, um desenho que não sei quem fez, algumas páginas em branco. Uma equação que teimou em ficar ali, a qual não sei mais resolver.
Segui um pouco mais e vi uma página povoada pelas mãos de minha amada, com anotações da sua aula, naquela letra que ela insiste chamar de feia e que eu tanto acho bela. E, junto a elas, um belo desenho que me fez abrir um inevitável sorriso grandão.
Revi anotações de alguma aula de história, e agora lembro que na verdade foi por isso que abri o caderno, de início. É claro, acabei me perdendo nas lembranças assim que o abri, da mesma forma que nos perdemos ao abrir o baú de memórias da nossa cabecinha oca, conversando com um amigo ou olhando pra parede do banheiro.
Vi uma declaração de amor ao Elisbelto, e ri de ser chamado assim.
Achei mais umas folhas em branco e pensei que ainda cabia muita coisa ali.
Vi uma declaração de amor do Elisbelto, em uma carta que escrevi, entreguei, mas mantive comigo.
E isso me lembrou que muitas páginas saíram desse caderno para virarem cartinhas queridas, guardadas com muito carinho por essa moça linda de quem falei.
Eu vi um gráfico, que eu nunca entendi, demonstrando algo que eu descobri não me interessar.
E isso me lembrou que muitas páginas saíram desse caderno porque eu estava de saco cheio de estudar cálculo. E agora penso que as memórias dessas complicações artificiais, assim como as páginas, se foram embora pouco a pouco. Ufa.
Eu vi idéias anotadas, coisas de gênio e de jegue, esboços de letras, poemas, histórias, harmonias musicais, mapas de rpg, a data de um dia comemorado a toa.

E ag0ra, depois de escrever tanta coisa que tão pouca gente vai ler, pensei... cabe tanta coisa num caderno tão pequeno, e essas coisas se abrem tão maiores enquanto eu vou lembrando... céus, a nossa vida é um amontoado de memórias esquecidas.
Imaginei ser absurdo anotar e lembrar de tudo que fizemos. E pensei ser algo bom, saber que, pelo fato de estarmos escrevendo na areia, deixaremos que mais alguém escreva naquele mesmo lugar. Depois que o mar levar embora nossas consciências e nossos cadáveres.

Voidwalker

Verifiquei se o tênis realmente estava confortável com aquela meia, concluí que sim. Ficaria assim. A calça Jeans não era a vestimenta mais confortável do mundo, mas servia. Era resistente, e era de resistência que eu precisava. Uma camiseta preta, com escritas que naquelas hora não faziam o menor sentido, mas a cor me agradava. Terminei de jogar algumas coisas na mochila, sem esquecer da toalha, é claro. Coloquei tudo nas costas e me certifiquei de que tudo ficaria bem, ali, pelos próximos meses. Quando finalmente tive a certeza, escrevi um bilhete, para mim mesmo, quando voltasse, "siga sempre o sol" dizia ele. Prendi-o na porta da geladeira, com o auxílio de uma cenourinha feliz. Tranquei a porta, joguei a chave em um bolso da mochila que eu pretendia não abrir por muito tempo. Dei alguns passos, e me voltei para contemplar, por um último momento, o lugar que meu coração tanto amava, o lugar que eu chamava de lar. Não sabia quando que voltaria, e se voltaria novamente algum dia. Senti uma gostosa saudade, e com um pouco de luta fechei os olhos com aquela imagem completa na minha mente, dando as costas àquele lugar ainda de olhos fechados. O sol de final de tarde me ilumina, agora, e meus pés pedem para sentir a estrada, pedem para me levar para onde eu nem sei se quero ir. Mas... sei que no final vai valer a pena.

Desconhecido, aí vou eu!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Você não pode ver que eu amo o meu pau?

"Meu pau é muito maior que o seu.
Meu pau pode sair andando pela porta.
A minha merda fede melhor que a tua.
A minha merda fede por todo o chão."

Por isso talvez que as pessoas ainda são convencidas a terem o que não precisam. Eu tenho certeza que houve um tempo em que não se tinha quase nada, e ainda assim a felicidade estava presente.

Hoje em dia tem gente que precisa ter e aparecer, como se não bastasse, pra provar alguma coisa que não prova nada a ninguém. Uma "extensão peniana", se autoafirmar.

É o que sempre me intriga.
Quando tínhamos trens, provavelmente alguém nos convenceu de que precisávamos de trens.
Depois nos convenceram de que o trem não era bom. Bom eram os caminhões, os ônibus...
Praticamente já nos convenceram, também, de que as máquinas são melhores que as pessoas.

Para onde você espera eles irem quando as bombas começarem a cair?

Então, nós olhamos esperançosos para o céu.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Tangerine (the silent parting ways)

Onde foi parar a Tangerina? Eu não sei dizer. As discussões e teorias, muitas murcharam e sumiram.
Os cumprimentos doidos (a aranhinha) escorreram entre os dedos, e os restícios foram batidos embora na parte de trás da calça.
Os verdes gramados foram patrolados.
Ao contrário do modo como o velho tauren abdicava de um toco, abdicamos pouco a pouco do pequeno santuário compartilhado. A paz foi deixada de lado, embaixo de uma pilha de folhas num canto qualquer, para procura-la em outro lugar, nos lugares dos outros. Foi embora a graça no fazer nada, no nada mais além de alguém.
Menduim, menduim. Os sonhos não são mais os mesmos. Nem se tem mais a diversão curiosa de iniciar os projetos nunca acabados, inacabáveis.
Teias de aranha. Mais presos, quanto mais tempo passa.
Na verdade, as silenciosas despedidas não fizeram vítimas indefesas. Todos escolheram, sem optar, por um caminho diferente. Fazem falta os atalhos entre eles. Ainda são tão poucos...

Um dia, ouvi dizer que "A saudade é um desvio na linha da existência, como uma âncora que prende nosso barco no meio do mar, enquanto as ondas seguem adiante.". Agora penso que talvez sejam várias âncoras pequenas; presas na nossa pele, como anzóis. Sinto saudade de anteontem, do fim do ano anterior, do fim de uma tarde sem data, muito tempo atrás. E diante disso, não sei pra onde ir.
Não sei pra onde vamos.

Onde quer que vocês tenham ido... obrigado por, um dia, terem vindo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Aaah!

A maravilhosa sensação de encostar a cabeça no travesseiro e, mesmo sem companhia, não se sentir só.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Na verdade eu esqueci do título. Então... pensa num por ti mesmo.

O fogo... que foi que fizemos com ele?
Estamos aquecidos pela não-sinceridade dos lençóis térmicos.
Que fizemos para que fossem embora as corujas?
A sabedoria dos pardais e professores nos serviu melhor.
As conquistas perdem o valor depois de conquistadas?

Trancafiadas em cofres estão as coisas mais inúteis que nós temos. Pois não as levamos conosco. Tiramos dos outros, e de nós mesmos, o privilégio de te-las por perto.
E, presas num baú sem peso, frágil como uma fé, estão também esquecidas nossas verdadeiras razões. As chaves que abrem os baús outros, cada um-a-um. Segredos que nem seus donos vão conhecer.
O homem hoje falha em ser orgânico, humano, espontâneo. Fez seu trabalho automático e assim tornou a si próprio, político de poliéster.
Assim, no meio da fraude do global, vivemos barco a barco vizinhos, presos por âncoras que nem lembramos como erguer.
Uma liberdade comprada sem contrato, paga em infinitas parcelas do tempo em que morremos.

Avohai

Avohai era um velho invisível.
Desses tantos velhos(as) que conhecem os segredos da terra, das plantas e dos animais.
Passam despercebidos na correria do mundo moderno, onde todo o conhecimento destes sábios vai se perdendo aos poucos, todas as ciências de baixa tecnologia.

Um bom chá para curar essa asia.

Mas Avohai também era um velho indivisível.
Barbas longas, semblante de caçador e botas de peregrino.
Sobre os resquícios de tudo o que sobrou do céu.
Todos os prédios enormes que não dizem nada, nada do que diria Avohai.

Avohai, avô e pai.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Somos Poeira Estelar

Como melhor nos convir:
Seremos pombas, brancas sombras.
Dançando aqui e ali,
entre gentes e gestos,
seremos migalhas e restos,
do pão que é dado ao vivente,
com a mão da história envolvente,
seremos condor, colibri,
e, em cada vôo, a verdade que nunca vi.

Somos nossa própria poeira,
em cada passo na estrada,
e nosso inegável destino
de um dia só sermos pegada.