terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sopro

As cinzas caem de volta na grama. É muito fácil falar de amor e outros brinquedos do homem. O homem não sabe falar dele mesmo, pois confunde suas janelas com seus espelhos. Vê nos outros e só neles os defeitos dele próprio. Mas esquece que não existem 'os outros', nem o 'ele'. Esquece do único, o 'nós'. E por isso espera, sentado na sombra. Enquanto a chama da vida queima suas idéias de papel. Enquanto as cinzas caem de volta na grama.

EI!

'Ei, você com a serra na mão... o que vai fazer? Ou melhor, porque o vai fazer? Só porque estou parada aqui você acha que não sinto dor? Por acaso estou lhe incomodando aqui parada, no lugar onde cresci e vivi toda minha vida, toda ela sem importuná-lo uma vez sequer? Por que devo cair? Estou, por acaso, impedindo o seu avanço, o seu progresso? A sua civilização depende da minha queda?

O avanço do homem exige sacrifícios. Mas nunca dele próprio. O homem avança e se desenvolve, é um ser evoluído e superior aos outros que vivem sobre a terra. Mas que ser tão evoluído é esse? Alimenta-se dos outros, extrai seu sustento do esforço alheio, vive da morte daquilo que foi criado antes mesmo dele próprio. Age sem consciência dos seus atos, das conseqüências causadas por eles, como se fosse imortal. No entanto sente prazer em matar a seus iguais, mais prazer do que em matar seres ‘inferiores’. A cada dia cria métodos cada vez mais eficazes de fazê-lo.

Esse ser tão evoluído destrói e suja e estraga as coisas de que mais necessita para sobreviver, ou seja, a água e o ar. Seu ar fede e sua água é escura, tem gosto de morte. Além de fazer toda essa sujeira, ele ataca quem ajuda a limpá-la. Derruba florestas pra fazer um lápis, no seu lugar planta asfalto e concreto.

O progresso. Está bem. Sacrifícios são necessários. O dinheiro não pode parar de entrar. Quando o mundo estiver quente demais, instalaremos mais aparelhos de ar condicionado. Que farão o calor aumentar ainda mais nos ambientes externos. Só que o sol se tornará veneno.

E nós que nos alimentamos dele? Nós que vivemos sem destruir vida alguma, pelo contrário, retiramos do ar o carbono que é tão prejudicial pra eles, que eles mesmos lançaram lá... nós, que vivemos da luz, vivemos da vida e não da morte, estamos condenadas? Sim, nós não fazemos parte do avanço da civilização. Não fazemos parte da civilização. Somos seres não evoluídos, pois não matamos nem destruímos nada, não queimamos aos outros nem envenenamos a nós mesmos. Mesmo paradas, estamos na contramão. Na contramão de quem se perdeu há muito tempo, e por isso está contra todos e sem sentido. Sem sentido e sem razão, cego e obcecado. Eles lutam pelo verde errado. E nós, que estamos apenas aqui, vivendo, estamos condenadas. Por que a morte é a maior parte da vida deles.

Eu limpei seu ar, dei-lhe sombra nos dias de sol, abrigo nos dias de chuva. Servi pra segurar um balanço, entreguei mensagens de amor. Dei de comer a sua família e nunca pedi nada por isso. Agora me agradece dessa forma? Sou mais forte que você. Tente me derrubar com a sua mão. Não consegue? Precisa de máquinas e ferramentas, armas e atos covardes. O homem é fraco. Vence suas batalhas sem merecimento. Aqueles que caem perante ele, caem por se recusarem a lutar da mesma maneira suja que ele. Caem por serem bons, caem por serem pacíficos. A guerra é a maior ferramenta do homem. Aqueles que não a usam são os verdadeiros vencedores. São estes os seres merecedores da terra. Mas não há espaço para a terra perante a civilização. O asfalto é mais proveitoso.

Darei lugar a que? Um estacionamento, um prédio comercial? Seus filhos brincarão na sombra quente do concreto? Comerão os frutos das chaminés de suas usinas? Os sacrifícios! Precisamos deles para obter desenvolvimento. Serão feitos mais e mais, certo? Os lucros aumentarão, assim como o cinza e a sujeira, em seu mundo e seus corações. O local onde estou agora servirá, em detrimento da beleza e das condições agradáveis em que se poderia viver - em detrimento da vida! - para algo mais lucrativo. Mas, ei, homem! Você cometeu um erro ao esquecer que cadáveres não lucram coisa alguma. Você é vitima de suas próprias mentiras, da sua própria estupidez. Daqui alguns segundos estarei morta. Mas você não terá cometido assassinato, pobre homem, e sim suicídio.'

A pergunta certa é 'o que?'

'Eu sou um profeta, que enxerga além dos conflitos mundanos, dos medos cotidianos, das alegrias efêmeras. Que enxerga além dos rostos bonitos, dos olhos maquiados, além das barbas mal feitas. Eu vejo o caráter nos olhos das pessoas, mesmo naquelas que não o tem. Vejo o medo que escorre de seus gestos e as mentiras que emanam em suas palavras. Eu ouço a música dos seus corações, sinto a força de suas emoções e a fraqueza em suas decisões. Sinto o bem na presença de alguns, ,me sinto mal na ausência de todos, me sinto mal quando digo “sinto muito”. Arrependo-me de coisas que não fiz, de ter duvidado das pessoas que me mostraram o que outras escondiam, de ter fugido da responsabilidade de ser eu mesmo. Mas, no fim, não me arrependo de ter sido tudo o que fui, de ter feito tudo o que fiz, pois foi isso que me fez ser o que sou. E não há mais ninguém que eu queira ser.'

[Ahmiad Damir'haz]

Núcleo

'Gritos silenciaram; mudos, outra vez!

Do que se ocupariam agora,

As vozes que se ouvia lá fora?

Do que elas diziam, o que se fez?

O ideal nos parecia ser eterno

Mas escorreu por entre os dedos

Será que mudaremos tão cedo?

Será que mudaremos o inferno?

Pés calejados, cansei de correr

Dez mil barreiras eu saltei

Mas a pista era um carrossel

“De nada adianta”, ouvi dizer

Quem me falou eu já não sei

Nossa rebeldia era de aluguel.'

Explosão (e a roda gira...)

O tempo passa, ontem é pó.
Vivo, me jogo, mergulho de cabeça,
a descoberta, a fala, o riso, o abraço, o êxtase, o regozijo, a alegria,
a dor, o desespero, o choro, e no fim o silêncio.
E a calmaria, a poeira baixou, não se ouvem mais os ecos, a imagem enfraquece.
A explosão parece um sonho, um sonho que não foi meu, pareço apenas uma espectadora.
Resta só serenidade, vem a paz, uma sabia felicidade, respiro fundo...
Novos caminhos, novos encontros, novos olhares e tudo começa novamente;
a descoberta, a fala, o riso, o abraço, o êxtase, o regozijo...
Terá o mesmo final? Acabara mais uma vez?
Ou dessa vez é A vez? Sem duvida virá a calmaria, mas será que dessa vez restara mais?
Será que desta vez não será um engano?
Será que dessa vez o riso, o êxtase, o regozijo não me deixarão?
Será que desta vez mais que a explosão, haverá o amor e a alegria verdadeira?

So many special people in the world

Tantas pessoas especiais no mundo...
Almas antigas, corações puros, mentes sonhadoras, olhos profundos...
Tantas pessoas especiais no mundo...
Sozinhas, perdidas, confusas.
Sendo lentamente mortas, pedaço por pedaço.
E então, as vezes, uma desperta, e a esperança surge novamente.

Quem sou eu?

Quem sou eu? a resposta a essa pergunta é uma ilusão, se descrever é uma ilusão. Somos milhões de pedaços, de partículas que vão e vem, aparecem e desaparecem, mudam, e tentam se encaixar, quem eu sou agora, não serei dentro de 2 minutos. Quem sou eu? A pergunta sem resposta, tu não é teu corpo, teus pensamentos, teus sentimentos, teus gostos, teus amigos, tua profissão, tua religião, tu não é teu nome, tu não é nada disso. Todos os lugares em que tu vai procurar a resposta, 'quem sou eu?', essa procura, esses lugares te distanciam mais da resposta. Fique quieto, não leia, veja, ouça, pense, sinta, fale, cante. Pare! Durante um milésimo de segundo quase se consegue captar a essência, a verdade, a identidade. Mas em um instante tu já não é mais aquilo, e aquilo que tu captou não cabe em palavras, Tudo que tu tenta colocar em palavras diminui, parece tosco, morto, pequeno, superficial. Quem sou eu? Se quer a resposta, não tente responder. Quando tu propõem a ti mesmo ser assim ou assado, tu te limita dentro daquele personagem, tu é aquela pessoa, tu faz isso e aquilo, tu fala esse tipo de coisa, as pessoas esperam tal coisa de ti, e tu acaba te podando pra caber dentro daquela fantasia. Te convencem de passar a vida inteira tentando se construir. Aprenda, observe, prove, não se identifique, não se construa, destrua, não seja nada e seja tudo.

Desapego

Se encontram, se fundem, se misturam, se tranformam, se separam,
tudo tem uma hora...
seguimos nosso caminho,
deixe para lá,
não adianta forçar ou chorar
de qualquer jeito, de uma maneira ou outra,
sempre teremos qualquer outro guardado dentro de nós.
Afinal, somos tudo e tudo somos nós.
Tudo vem do pó e ao pó retorna, OM!