Enquanto engatava a
segunda, para esperar sem pressa a abertura do sinal, senti um golpe sem força.
Fui atingido por um pacote enviado do fundo do porão, me lembrando que eu pouco
passava de um saco de ossos, remexendo pela estrada. Todo aquele brilho verde
de repente inundou as ruas, calçada, fachadas, automóveis, a esperança de poder
seguir sobrepondo-se à prisão que vigorava até então, dizendo: é seguro, vão.
Dois para lá, dois para cá. Os segundos eram contados, e eu engatinhava
sozinho pelo caminho até a zona onde residiria, perdido no próprio rastro que
eu deixaria. Estava num local de onde é fácil sair, difícil entrar, incrível de
se estar.
Sozinho, então.
Mas em trajetória de
reencontro com outras órbitas que tantas vezes se aproximam e se afastam, nosso
próprio sistema lunar.
De certa forma,
recuperando a consciência de que só se perde cada coisa uma vez; e que algumas
te tiram e tu nada pode fazer; e que tu pode conseguir outras coisas várias,
algumas melhores, outras que substituirão aquilo que deixou de ter, mas nunca
serão as mesmas.