domingo, 28 de maio de 2017

Do mingo


Enquanto engatava a segunda, para esperar sem pressa a abertura do sinal, senti um golpe sem força. Fui atingido por um pacote enviado do fundo do porão, me lembrando que eu pouco passava de um saco de ossos, remexendo pela estrada. Todo aquele brilho verde de repente inundou as ruas, calçada, fachadas, automóveis, a esperança de poder seguir sobrepondo-se à prisão que vigorava até então, dizendo: é seguro, vão. Dois para lá, dois para cá. Os segundos eram contados, e eu engatinhava sozinho pelo caminho até a zona onde residiria, perdido no próprio rastro que eu deixaria. Estava num local de onde é fácil sair, difícil entrar, incrível de se estar.
Sozinho, então.
Mas em trajetória de reencontro com outras órbitas que tantas vezes se aproximam e se afastam, nosso próprio sistema lunar.
De certa forma, recuperando a consciência de que só se perde cada coisa uma vez; e que algumas te tiram e tu nada pode fazer; e que tu pode conseguir outras coisas várias, algumas melhores, outras que substituirão aquilo que deixou de ter, mas nunca serão as mesmas.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Se sentir um lixo é se sentir bem

Afinal, o que mais explicaria essa manada de gente reclamando?
Gente que não pára.
Na cidade que não pára. Talvez devesse, pelo menos um pouco.
Os sorrisos amarelos nas fotos pra justificar um retrato falado. Uma instituição falida.
Uma grande empresa, palavras-chave.
Uma grande confusão na cabeça, não é para menos. Um monte de comportamentos doentios aprendidos e apreendidos. Apreensão. Há.
Um belo montante de piadas sem graça, uma conversa que não agrada. Um papo de surdo e mudo.
Comer lixo pra sustentar engravatados com pose de bons moços, dizendo que os bandidos são os outros. Reclamar do outro. Há cusação.
Um grande grupo de culpados identificados, atrás de uma porta fechada. "O que tem pra hoje." quando "se iniciam os trabalhos.", porque é bonito fazer da loucura uma coisa legal.
Estudar pra se sentir superior. Não a toa, é o ensino superior. Não porque é mais feliz, pelo contrário.
Trabalhar pra adoecer. Adoecer para reclamar. E reclamar por prazer, pois foi só o que restou.
Se sentir mal é normal, é a vida.
Se sentir um lixo é se sentir bem.
Mas só pode se sentir um lixo sem aparentar. Se aparentar estar se sentindo mal, vem os dedos da acusação. Da manga de paletó. Paletó de madeira.
O morto agradecido, de ter morrido ainda em vida, de tanta tristeza, de se sentir um lixo, de ser tratado como lixo, de ter perdido o sorriso e por isso, agradecido. Viveu uma vida boa.
Morte por sufocamento é uma coisa boa também.
E depois dá velório. Assunto para os próximos dias. Melhor ainda, a morte de alguém pra poder dizer como tudo tá no fundo do poço e, portanto, ótimo.
A vida boa é aquela com muito sofrimento, nenhuma alegria, muitas reclamações, muitas acusações, nenhum afeto, muita violência. O lixo é bom.
Se sentir um lixo é se sentir bem.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Lost

Uma vida, uma jornada. Momentos de sabedoria perdida.
Redenção.
Sentir-se um fardo.
Um fardo para si e um pouco mais para outros. A balança desequilibrada.
Onde está o brilho de antigamente?
Uma fonte, uma luz, o coração de uma ilha.
Agora tudo escuridão.
Perdido no caminho e com medo de caminhar.
Um problema nas pernas que não permite andar.
Problema de coração, nem frio nem calor.
Uma ação entre amigos. Doação.
Há migos?
Perdido.