terça-feira, 26 de setembro de 2017

Teatro dos vampiros

Se for andar com o pescoço à mostra, é melhor ser vampiro.
Não tem nada a ver com estética, embora também se trate do mundo das aparências. Do contrário não estaria usando toda essa maquiagem, pra esconder a fragilidade iminente. Se tirar fica só um buraco.
A cidade te suga. As pessoas te sugam também.
Às vezes fico pensando se esse monstro tem um corpo, uma barriga, pra onde vai toda essa energia sugada, de tantas pessoas. E é muita gente. Tanto que acho não ter atendido duas vezes o mesmo paciente, ou a mesma ferida. O mesmo sintoma. Lá no hospital.
Trabalhar diretamente com o sofrimento não quer dizer saber de sua procedência ou mesmo saber como tratá-lo. Trata-se apenas de uma série de convicções medonhas. Afirmações. Cada um escolhe as suas no final e finge que é profissional. Ou vai dizer que o Clóvis tá errado quando diz não existirem padrões?
Você finge ser algo, eu finjo ser enfermeira, juntos fingimos ser uma sociedade que no fundo não é porra nenhuma.
Eu finjo me preocupar contigo e você finge que acredita. Só quero ver sangue mesmo.
Quando eu era pequena, eu lembro saber o que queria. Hoje eu procuro. Acho que essa é a ironia da vida: nascer sabendo pra quando estiver "adulta" ir procurar por aquilo que sabia, mas esqueceu.
Só quero ser feliz. Encontrar um cara legal, beber bastante e transar muito.