terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Char II

Te aproveitaste da minha solitária caminhada para me acompanhar em silêncio, esperando pelo momento certo para, novamente, tentar me abraçar. Mas por ter visto a tua face, e ter sentido teu cheiro, sei quando estás próxima, e pude sentir teus olhos acompanhando meus movimentos, por debaixo do teu manto invisível.
Esperaste com calma, até que me voltasse a mim mesmo, aos meus pensamentos, aos meus segredos que até mesmo tu desconheces.

Neste momento, fechaste tua mão, que, atravessando meu peito, apertava meu coração, cessando o ritmo que garantia a minha existência física.
Neste momento, pude ver teu rosto novamente, e sorri, enquanto caía de joelhos, vendo que ainda és a mesma. Sabendo que para mim, nada és.

No meu sorrir, percebeste teu erro, e viste que não podes tomar o que ainda não te pertence.
Sei que voltarás. E também sei que, nesta próxima ocasião, trarás contigo teus amigos.

Mas eu não temo a ti.

Y

Deixem de ser idiotas!
Não existe lugar para todos. É fácil falar que é possível realizar um sonho bastando apenas acreditar nele, no conforto de uma casa de luxo, com um carro de luxo. É a mentira estampada com o selo oficial, que nos fizeram acreditar.
Nós nos perguntamos por que eles sempre mandam os pobres. Nós sabemos a resposta. O miserável incomoda, no momento que você o olhar no rosto terá de ajudá-lo. Mas nós negamos a nossa própria humanidade quando admitimos que atualmente AINDA exista um conceito como invisibilidade social.
Precisamos da mudança, agora, eu não consigo acreditar em uma mudança que dê mais importância para uma máscara e uma venda nos olhos do que para as consensualmente verdadeiras perspectivas de liberdade, justiça e transparência. Sim, elas são mais do que palavras, são perspectivas. E não devemos nos deixar enganar para que pensemos o contrário.

Existem pessoas que não tem possibilidade de sonhar. E eu não me importo se são ou não dignos do sonho, eu apenas me importo porque são pessoas. Como eu e como você. Isso basta.
E quem achar que não basta, pode ir se juntar às putas, colocar a mão para cima e abanar como se não se importassem.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Medo

Que loucura!
Tenho medo.
Olhando em volta, não há ninguém ali.
Venha comer alguns químicos comigo...

Loucura... Ninguém se importou.
Mesmo que não importando nosso estado, daria minha alma para salvar sua vida.
Porque eu não tenho escolha. Mas primeiro de tudo, porque eu o faria de bom grado.

Mas, e se eu te pegasse pela mão e te guiasse pelos campos? E você me faria entender o melhor que eu pudesse... Ainda que sejam poucos os campos que restam.
Toda a vez que eu tento ir, para onde eu realmente quero ir... Chego exatamente onde eu estou, porque eu já estou lá. Ao menos já cheguei.

Tem alguém aí que me ouve morrer ou chorar?
Tem alguém aí, quando tudo estiver para acabar?
Estou apenas passando o tempo. Quando na verdade, queria mesmo te fazer inteira de novo.

São apenas palavras... não podem fazer nada. E eu também não sei o quê pode fazer.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Estranha coincidência

Estive por contemplar o fim de uma série de livros a qual acompanhei. É como se uma máscara fosse desfigurada pelo tempo. Uma série que começava com um ar sem preocupações, até na música se percebia isso. Porém, no fundo havia uma certa inquietação. O final, no entanto, já mostrava um rosto, uma "máscara" completamente diferente. Muito mais sombrio que no começo.

Foi quando percebi que era um molde, por assim dizer da própria vida. Começamos de maneira inocente, pura e criativa. Terminamos de uma maneira muito mais "madura". Cheio de medos, cheio de inquietações. É como se o tempo e a luz fossem nos transformando. Como se o meu rosto no espelho hoje fosse uma deformidade daquilo que um dia eu fui. Que não sou mais.
De fato. Quanto mais se sabe, se pensa que sabe, mais inquietante vai ficando, mais sem resposta... mais frio. E é esse o frio capaz de te empurrar para um beco sem saída, à procura de abrigo, à procura de um abraço.

É isso que nos faz ter medo do "outro", ou do problema dele. Pois, uma vez (co)existindo junto comigo, se há intolerância, há conflito, e há um problema.
Ironicamente o conflito é solúvel com a prática que leva justamente à inquietação, e ao mesmo tempo à paz individual.

E para os que dizem se tratar de uma mentira, é apenas uma mentira estampada com o selo oficial. E não há nada oficial que um dia não irá se libertar.

Assim como um dia entenderemos que todos somos pessoas, e como tais devemos ser tratados.
Assim como um dia, não precisaremos mais ter medo de sentir.

Eu não tenho mais. E você?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ninguém vai nos salvar agora...

Onde você espera ir, quando as bombas começarem a cair?
Onde você espera que o "outro" vá, quando as bombas começarem a cair?

Caindo como uma espiral para o chão. E ainda assim somos todos pessoas, isso deveria bastar.
Quando as balas começarem a produzir manchas de sangue... não na calçada, nem na terra...

A intolerância nos leva a aceitarmos coisas que não deveriam nem estar em questão.
Curiosamente, a prática que leva a tolerância, é a fina linha que separa os "loucos" dos "normais".
A mesma espessura que separa o entretenimento da guerra...

Não vamos deixar que um símbolo como a morte use a máscara da vida. Isso existe...
Não precisamos admitir violência quando assumimos que o outro é violento.

Deixe a vida lhe mostrar, que você tem uma mente e é uma pessoa.

Percepção III

Afinal, na existência ou não, tudo o que somos é um reflexo abafado do que queremos, a geração profética da água engarrafada.
Quanto maior o sonho maior o grito... Sonhando gritar.
O despertar às vezes é brusco. Queremos, também a "normalidade"... Queremos a tranquilidade, a felicidade... a liberdade.
A raiva passa a nos mover com mais frequência. Talvez por isso temos o costume de odiar.
Odiar quando alguém nos chuta de nossas mentes de volta à existência... Não é porque nos querem mal... é apenas uma lembrança de que mesmo no meio de tantas coisas negativas, ainda temos o que saborear. Mesmo no meio do breu total. Só existe a escuridão porque em algum lugar existe ou já existiu alguma luz.

E vale a pena não deixá-la apagar-se.

Mas ainda assim temos uma missão.
E então, novamente, nós olhamos para o sol...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O meu refúgio

Eu precisava de um lugar seguro. Pra me proteger, pra me salvar do mundo maligno, das gentes ameaçadoras. De todo o querer que se tem pelo tempo de todos, das responsabilidades e do sucesso.
Uma conchinha solitária, onde eu pudesse me esconder da chuva e da fúria, das descargas e destroços.
Por uma incrível sorte, nas curvas sinuosas da minha estrada sem chão, encontrei exatamente o que eu precisava, o paraíso entre um par de braços. Lá me sinto em paz, lá está tudo bem.
Mas... também há tempestades lá dentro, as vezes, por causa das pesadas cargas que eu levo pra lá, minhas próprias nuvens negras.
Então percebi que nenhum escudo poderá me proteger de mim mesmo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Balé dos patos

Os patos eram felizes. Eram todos iguais, brancos como a neve, vivendo em um rancho perto de um açude. Sempre que nadavam, suas penas refletiam alegremente as cores produzidas pelos raios solares e eles assim enfeitavam a paisagem para o dono do rancho.
Um dia, nasceu uma pata cinzenta, com características diferentes dos demais. Ela teve um patinho que nasceu negro como o piche. Ele veio a ser um pato triste durante seu crescimento. Os outros patos não gostavam muito dele, pois ele gerava desavenças na comunidade. Sua cor era estranha, feia, os patos caçoavam dele porque ele não refletia cor nenhuma quando o sol aparecia.

- Filho, você nunca será capaz de refletir qualquer cor... - Dizia a pata cinzenta.

Sua mãe não refletia as cores tão bem como os outros patos, mas ao menos refletia.
Ele queria ser como os outros, não queria ser um pato preto, ele passava calor quando o sol aparecia, era ruim demais...

- Filho, você nunca será capaz de refletir qualquer cor...

Ele começou a odiar sua mãe porque ela mesma assumia que ele era ridículo. Tentou se pintar de branco, não deu certo, suas penas grudavam, foi insuportável e ainda assim não refletia tão bem...

Um dia sua mãe veio conversar novamente, ele sempre a havia interrompido.

- Filho, você nunca será capaz de refletir qualquer cor... pois não há o que refletir. Você sempre foi um bom pato, sempre teve dificuldades mas fez sempre o que achou ser certo. Diferente dos patos brancos, que supostamente deveriam ser mais felizes e não são, são felizes na mesma intensidade. Eu tenho orgulho de você.

- Mas eu não entendo, você diz que eu não tenho como refletir cor nenhuma.

- É porque o preto é a soma de todas as cores.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ao cair da noite, elas vem chegando
como insetos em sua procura pela luz.
Emoções estranhas, que, bem lentas,
consomem a paz que a razão produz.

Fazendo dos leves sussurros do vento,
o maldoso som de vozes debochando.
Eis que uma voz me chama, tudo para,
e o vazio vem ao meu encontro, quando,

a memória e a imaginação se juntam,
para criar o teatro sempre parecido.
Onde braços que empurram a quem ama,
são os que envolvem o desconhecido.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

E se eu te pegasse pela mão e te guiasse pelos campos?

Ver as coisas com os olhos exteriores. É com grande felicidade e grande tristeza que esta prática acontece. É, ao mesmo tempo, extraordinário que seres humanos, animais do planeta Terra, consigam se abster de toda e qualquer forma de opinião ou ponto de vista e enxergar o redor com os olhos do universo por assim dizer.
Ao mesmo tempo, está cada vez mais difícil deixar florescerem os sentimentos, o apego... As pessoas estão cada vez mais para dentro. É difícil depositar em alguém confiança, carinho ou pior ainda, amor. Mas o amor de verdade, não aquele do cara do comercial. E cada vez mais as pessoas estão se mostrando como seres ordinários, sem nada de especial, só pessoas. Fica a pergunta, é algo de nossas fantasias infantis ou existe coisas como o "verdadeiro"?
Deixemos isto como outra questão.

Infelizmente a felicidade pode ser encontrada, entre outros "lugares", na perspectiva "desperspectivada" que foi citada acima, no início deste texto. Uma vez que você vê as coisas nuas e cruas, fica menos penoso não sentir nada. Por nada nem por ninguém.

Eis, que chegamos a um conflito. Somos, de fato, movido por sentimentos. O que será de nós sem eles? Ao mesmo tempo, a felicidade é um sentimento. E é possível chegar nela sem sentimento nenhum. Será esta a felicidade nua e crua?

Talvez fazendo isso estaremos amassando as flores com a pedra diária. Mas, quem garante que não iremos ver beleza em cima da colina, observando um grande vazio? De novo, se abstendo da perspectiva humana. Nesse caso para encontrar beleza naquilo que você tem, não importando o que for, mesmo se for um grande nada. Acho que essa é a lição que podemos tirar disso tudo.

O bolo

Você mal entende o sentido das palavras, mas eles já lhe falam sobre o bolo.
O bolo vai estar logo ali, no futuro, apetitoso, do jeito que você gosta, do jeito que quer.

Mas exige um certo sacrifício.

Eles querem que você faça seu caminho até o bolo. Lhe mostram os obstáculos, os desafios que virão na procura, tudo o que é necessário superar.
Mas eles nunca te dizem onde, exatamente, no meio de tudo isso, o bolo vai estar.

O bolo sempre está um pouco mais a frente.

E você se deixa enganar por eles. Por aqueles que, muito antes de você, já seguiam em direção ao bolo que lhes foi prometido, mas ainda não o encontraram.
Encontrando na busca do doce sabor do bolo, apenas o falso sabor da esperança.

O bolo é uma mentira.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Pinças e carapaça

Ele avança, remodelando. Transformando o bonito em bizarro.
Espalhando suas sementes de morte.

Nesse caminho, quem tenta ditar o futuro até pode ser ele.
Mas quem cria o labirinto sou eu.

O medo que eu tinha, já perdi.

Barreiras

E, ironicamente, o mais difícil são os gestos simples. Subir um morro e apreciar a vista, dar um abraço, conversar até o sol nascer, jogar um jogo entre amigos. Há tantas coisas enquadradas na categoria "simples".
Entretanto, há também uma barreira de dificuldade inexplicável, por vezes intransponível. Obra, provavelmente do próprio karma, pois são nessas coisas que estão os maiores tesouros... incontáveis, inimagináveis e impagáveis. E a chave para esta porta maravilhosa está na tolerância, na falta de preconceito, no equilíbrio...

Um é obra do karma. O outro é obra dos loucos... porém felizes.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Justo

O ser humano deveria ter a habilidade de ser simples, de viver simples.
Complexidade seria uma palavra riscada do vocabulário, compreendida como algo teórico, jamais visto ou praticado.

Por que temos o dom de complicar? As vezes de propósito, as vezes sem querer querendo, mas vivemos numa linha longínqua da simplicidade.

O ser humano deveria ter a habilidade de reconhecer. Reconhecer que a sua vida não é perfeita e nunca será, mas que mesmo com momentos bons e ruins, que com certezas e dúvidas, ainda temos sentimentos nobres a serem degustados e enaltecidos. Ao invés disso, passamos mais tempo reclamando do que poderia ser melhor, nos colocando "pra baixo".

Justo ou não, não mudamos a história, mas podemos construir um futuro melhor e podemos aproveitar essa amarga mistura que é a mente e o coração.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Revolta passageira

... Maldita mente inquieta
que a todo tempo trabalha
sem nenhum descanso sequer.
Maldito mundo insano
que brinca com as suas convicções
e que nenhuma licença requer.
Esta é uma combinação perfeita
para bagunçar, o que nunca esteve no lugar
pra te fazer compreender
que nunca haverá compreensão.
E por isso, se existir uma única certeza
é que a cada dia, o futuro será enlouquecedor!


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Soluções (só lições)

La cucaracha, la cucaracha,
ya no puede caminar
porque le falta, porque no tiene
las dos patitas de atrás.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pare!

Eu quero ir para casa.
Não quero saber de gente quebrando muro e se tocando pedra.
Abra um sorriso, somos todos iguais. Há quem diga que nunca vamos ser, mas somos sim.
Chega de limpeza étnica. Chega de morte cultural.

Um bandido é muito mais do que um cara com uma arma que rouba dinheiro. O bandido vem de algo que a maioria das pessoas almeja para sua vida.
E no meio desse caminho acaba sustentando tudo o que nos prejudica, e acaba virando vítima também.

Não se esqueça: não se incomodar já não é mais uma opção. Não se envolver, também deixou de ser. Estamos todos incomodados e todos envolvidos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Empurre a pedra, mas...

Devemos empurrar a pedra lomba acima, para cima da colina, dia após dia. Não há exceções. Apenas cuide para não amassar as flores pelo caminho, pois quando estiver em cima da colina elas não farão parte da paisagem que você, e somente você, irá ver.
Talvez por isso mesmo tantas pessoas amassam as flores pelo caminho.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O senhor é legal

Prefiro ser a cara da mentira do que a cara do homem do comercial. Pois o homem do comercial está na terra da mentira, onde o maior mentiroso é aquele que fala a verdade.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A vida é boa, as pessoas que complicam ;)
Liberte-se, a vida é para ser vivida =)
Ka.

Frio é o vazio

Somos bilhões.
Há tantos por aí, alguns são seres humanos, outros não. O pior de tudo é que somos bilhões de pessoas.
Nenhuma é tão especial a ponto de não existir mais nenhuma outra. Relatividade.
Nenhuma é passível do divino. São fagulhas de divindade que existem, vem e vão, vão e vem.

Só pessoas.

E no meio de tudo isso, tentamos olhar para o sol...

I can't play with you no more

That was what mama told me.

Eu não consigo acreditar... mas me disseram que tu não deixa teu cabelo solto.
Tu não deixa teu espírito solto. Tu não deixa teu amor solto.
Tudo preso, mente presa. Ideais e intestinos, tudo preso.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Freak

Eu disse que não ia mudar, que não tinha problema, e que entendia.
E assim foi, é, e será.

Mas hoje, pensando melhor, não lembrei de tu ter dito o mesmo.
E em ti, algo mudou.

Alho free

Aí eu estava indo saciar a minha fome. Um pacote de pão de alho. Ao menos dizia para fazer em forno convencional, comida rápida, o rei do pão.
Na embalagem dizia "alho free", ora... um pão de alho sem alho? Logo abaixo dizia: "o único que não deixa aquele odor ruim na sua pele ou no seu hálito"

...

Desde quando as coisas naturais são ruins? Quem disse que devemos repudiar e desprezar todo o natural e sempre prezar pelo artificial?
Eu digo e repito, que os limites estão cada vez mais longes. Somos capazes de modificar geneticamente uma ave para vender no natal, apenas porque não gostamos da carne que a ave tradicional ofereceria... E o pior de tudo, não sabemos nem o porque dessa tradição.

Modificamos nossos rostos para que eles não mais pareçam reais, para que as pessoas nos achem mais bonitos.

E depois, há quem diga que o filme Matrix não passa de ficção. Claro, a ficção de nossas próprias vidas, afinal, para eles é a verdade que assombra.