quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Calça Jeans e Cachos Comportados

Pif-paf, normas e regras.
Correias e códigos, um cinto e um assento; equipamento inicial para um humano plebeu.
Induzido a uma conduta, conduzido a labuta; o início da aventura cotidiana, desventura tão mediana e até medíocre.
Catapou, ninguém chegou.
Equilibrado num pé só, recito os versos que aprendi numa manhã, dez anos atrás.
O desafio de sair; o desafio de voltar. Em desatino, desafino ao saltar cama a fora, embora caminho adentro eu nem me lembre em qual pé fiquei em pé nessa manhã.
Eu visto jeans, porque o meu pau e a minha bunda precisam de um disfarce para poder andar lá fora, para poderem respeitar algumas normas.
Não lembro de ter lido sobre como levar em paz a minha vontade de causar destruição e cagar alguns a pau. Talvez ler algumas notícias sobre o oriente médio, ou comprar um carro novo.
Eu uso creme pros meus cachos ficarem bem comportados, pra que eles sejam tolerados aqui e ali, e essa é uma norma que eu não sei mais deixar de seguir.
Outra norma que eu sigo sem saber é engolir em seco, no susto, as inquietudes gorgolejantes que me afloram em momentos de solitude.
Deixar pra lá, me embriagar, comer um pastel, uma pastilha ou uma pilha de bolacha Maria; a fórmula infalível que estou fadado a repetir; porque as bolachas não saciam, apenas silenciam, por um tempo, o apetite que me toma e me leva a querer devorar meio mundo de vontades, de desejos e suspiros.
Em algum lugar perto do meu cu, uma marca imperceptível de carimbo atesta: sou um homem civilizado.

domingo, 23 de setembro de 2012

Das perguntas sem resposta

Fugiam buscando a imensidão celeste
De longe, apenas pontos negros ao esbranquiçado céu do crepúsculo
Procurando abrigo e respostas, arriscando-se no vasto desconhecido que se estendia para além da pequena portinhola, agora aberta
As escuras cores do mundo estendiam-se abaixo de suas asas, limitadas pela fina linha do horizonte, evitando a criação dos gradientes na mistura dos tons
A si chamava Livres
Seus olhos castanhos traziam consigo contos ocultos, sugeriam incertas possibilidades
Mas a fala lhes era vaga, mantendo histórias em segredo, preservando dúvidas
E na visão dos que pouco sabem, não passam de pontos lá em cima, migrando para lugares mais quentes em resposta aos instintos naturais
A mim, porém, estas solitárias incógnitas parecem ser bem mais
Criado nas dúvidas, alimentado com possibilidades, amante dos sonhos, vejo as coisas como poucos
A nós chamo Únicos
Há horas o sol se foi, e olhando para o céu, aguardo pelo brilho de seus olhos
Enquanto teimo em obter respostas que podem guiar-me também ao horizonte, mesmo que me sejam lançadas apenas mais perguntas
E aguardo, dia após dia, poção após poção, para que talvez os frascos verdes vazios tragam algum sentido na misteriosa dança do curinga

Aos Antigos Caminhos I

Cadê o leve?
Cadê o belo?
Pra onde se mudaram as pessoas, cuja casa vazia estão pintando de amarelo?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sobre dádivas e dúvidas

A chuva dói-me em meus ossos. Sua queda é permanente e irrevogável. Traz-me a lugares que por pouco não desconheço, leva-me a visitar os quartos escuros da minha cabeça.
Ali não há repouso; não estou só.
Murmuram em mim os fantasmas que engoli em dias passados, espectros de promessas e premissas.
Este, que tinha tudo para ser um dia comum, revela-se uma distinta reprise do que tem sido todos os outros. A mesma frase das linhas anteriores, mas sublinhada com tinta vermelha.
São quietos, sossegados, estes fantasmas que me acompanham ao revirar velhas ideias, velhos vislumbres.
Entenda, não há nada demais sobre o dia de hoje. Decidi dizer algo sobre o que penso, perceba, não exatamente o que penso, mas a parca expressão que consigo dar ao que transita em minha consciência. E é isso que eu tento, com certa frequencia, e nisso eu falho sempre que posso. Continuo procurando uma explicação.
O copo com água que repousa a meu lado me diz que ainda tenho algo a dizer.
Mas não sei, não sai.
O que dói em meus ossos pode não ser a chuva; pode ser que a dor nem seja nos ossos, não sei dizer. O doutor não me ensinou como identificar os sintomas das diferentes crises que brotam aqui.
Renunciei a um suposto futuro brilhante - de brilho a ponto de me ofuscar, e me recolho a contemplar o melancólico passar de um dia sem sombra.
Eu passo por ele, mas não ele por mim. Guardarei memória do momento em que olhei em volta e percebi que eu não estava lá.
Quando, em meio aos vultos expectantes, eu segredei a mim mesmo a minha ausência, o copo estava, então, vazio.
E os fantasmas, silenciosos, concordam comigo em gestos suaves, ao afirmar que já basta deste assunto para um dia de chuva.
Que ela caia como bem entender; já está quase na minha hora de sentar-me com eles.

Upon us all, a little rain must fall

Explosão de Pensamentos


Lá estava o indivíduo, em seu momento mais solitário, refletindo sobre seus atos.
Atos que normalmente o levara a outras reflexões e encadeava uma série de tristes lembranças.

Talvez ele saiba que não pode mudar o que aconteceu, que deveria aprender a superar o que considera seus erros.
Talvez ele não tenha aprendido a jogar com as cartas. Pra que usar o Coringa? Aquela era a Dama de Copas?
E não adianta, os pensamentos continuam batendo na sua porta e sendo convidados a entrar.

Mas, como já dizia o sábio ancião-não-sei-quem, estamos em constante mudança. Quando passar novamente pelo rio, nem ele e nem você serão os mesmos.
E com este indivíduo não é diferente.

Em meio ao seu caos interno, ele lembra de um momento especial: o primeiro beijo. Ah, aquele beijo.
Este momento que estava escondido ainda permanece claro em sua memória como se fosse ontem.
Tudo parecia acontecer novamente. As pessoas em volta desaparecendo, o tempo parando, o abraço confortável e a clara troca de sentimentos entre duas pessoas.

E os pensamentos se retiraram, deixando um grande sorriso como presente.

A estrela

Anos atrás, uma menina sorria em frente ao balcão. Os olhos furiosos de seus pais lhe encaravam, enquanto acertavam com a atendente o imenso prejuízo que a criança causara àquela loja.
Mais uma vez havia corrido demais, falado demais, causado imensa vergonha para com seus parentes, os quais não entendiam o porquê daquele ser tão pequenino conseguir causar um estrago tão grande.
Quebrar objetos valiosos, derrubar torres de comida, bater em colegas, fingir-se de inocente... Ser a menor e mais jovem não a impedia de realizar tais feitos magistrais.
E todos se encantavam e lhe diziam que possuía uma estrela; que ela ainda era minúscula, mas já brilhava; faltava apenas crescer. Transformar-se-ia somente em luz. E o dito condizia, pois parecia ter sido instalado fiações ao redor da menina.

Passaram-se primaveras. Não fazia mais uso daquele cabelo escorrido, nem da franja reta lhe cobrindo os olhos. Sua visão ficara mais intensa e sua mente ganhara uma amplitude ainda mais luminosa, mais desejada. A necessidade de estar sempre em movimento, continuava, mas já não era algo que predominava. Destruir brinquedos, iniciar guerrinhas juvenis, se meter em conversas de mais velhos... Era o que pouco existia. Subira alguns degraus e sua estrela aumentara de tamanho.
E todos lhe doavam abraços e afirmavam que serias grande. E continuavas reluzente; parecia um holofote. Seu interior encapetado e seu rosto angelical pediam por atenção. Ansiavam por palmas e sorrisos, e os conseguia. Habitava em si algo cândido, sincero. Não eras má, apenas feliz.

Vieram alguns invernos. Junto deles, tempestades, jorrando tinta negra por cima de toda sua luz. Ocorreu, então, o início de uma série de cortes de energia em sua constelação. Quem imaginaria que, a suposta criança que enxergava tudo com seus imensos e curiosos olhos, não veria o abismo de escuridão que estavas por vir.
E todos, agora, lhe viravam a cara por conta das decorrências. E não existia mais esperança de uma Via Láctea em seu caminho. 


Por onde andaria a falante dona das encrencas? Aquela causadora de afeto, que, incessantemente, vivia por perguntar sobre a origem de tudo.
Desejemos que ela ainda exista. Escondida, em algum lugar secreto.
Sabe-se lá onde. Até então ninguém desvendou seus mistérios. Um levantar de sobrancelha continua sendo pouco para quem tenta desenredar seu interior.
Será que a menina sorridente do balcão sentiria orgulho da adulta que se tornara hoje? Deve ter esperado mais daquela que segurava todo o brilho do mundo nas mãos.
Mas era peso demais, não suportou carregar sua estrela. Deixou-a cair; sua luz acabou por se apagar.   


E nem todos, mas, alguns, torcem para que não tenhas se apagado completamente. Porque aquela pequena deves continuar ali, agarrada àquele corpo astral que lhe fora dado na infância. Mesmo que agora ela olhe para o horizonte e não pronuncie nada.

É incerto, mas, talvez, com apenas um clique, ela se acenda novamente.

Eis que um dia o capetinha que mora no Modo Aleatório escolhe uma música dentre dez mil, e a frase, tantas vezes ouvida, de repente faz sentido. E, simples assim, a confusão de pensamentos e não-cores vira arrepio e sorriso.

'Não é o prédio que tá caindo, são as nuvens que tão passando.'

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Antonieta só assistia comédias românticas da Sessão da Tarde. Chorava e sorria, sozinha, embrulhada em lenços de papel e pipoca de micro-ondas. Sonhava em encontrar O Amor Verdadeiro, em Viver Feliz Para Sempre. Sonhava grandes gestos de amor, declarações inesperadas, uma paixão tão arrebatadora quanto a do comercial que provava que quanto mais, melhor.
Antonieta encontrou o amor, um dia. Aquele de verdade, da vida real, nenhum roteiro ou garantia de final feliz. Encontrou-o em um rapaz de beleza e sonhos medianos, sentimentos controlados, ações pensadas.

Antonieta encontrou o amor, mas nunca soube. Acenou com a cabeça, sorriu e disse até-logo-vou-pra-casa-ou-perco-o-filme.

domingo, 16 de setembro de 2012

O fanatismo chega, o respeito se retira.
No fim do caminho tinha uma placa
Uma placa ilegível de pare

sábado, 15 de setembro de 2012

No meio do caminho tinha uma vida
Nunca se soube o que houve do caminho

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Quero Tocar Seus Pés


Não apenas pelo ato em si, mas por todo o contexto que isso representa.
Pelo menos pra mim, os pés tem algo de intimidade.
Logo, tocar seus pés representa uma situação ideal de conforto e intimidade.
De cumplicidade até, eu diria. Se eu estou tocando seus pés, é porque você consentiu.
Você quis também, e me aceitou com todas as peculiaridades que cada pessoa tem.
Tocá-los significa confiança.
Você não estaria tão à vontade com um estranho, sentada no sofá da sala numa tarde de domingo, ou no banco de trás do carro, voltado de viagem, com os pés no meu colo.
Seja você hipotética ou real, eu quero fazer isso.
Um ato ímpar de um par.
Um par de dois, dois pés e duas pessoas.
Poderia dizer também que se tenho liberdade pra tocar seus pés, tenho liberdade pra mais coisas também.
Como ir te buscar de blusão, bermuda e chinelo.
Do jeito que eu levantei da cama.
Quero tocar seus pés, e quero que isso represente pra ti o mesmo que pra mim.
Que, naquele momento de nossas vidas, isso traga uma tranqüilidade tamanha que não vamos trocar esses minutos por nada, nem um de nós por outro, nem nada.
Mas antes disso vou esfregar minhas mãos, pois elas estão geladas.
No meio do caminho tinha um Asdrubal.
Tinha pau, pedra e fim no meio do caminho.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

No meio da pedra tinha um caminho.
Tinha uma pedra no meio da pedra.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Meus encontros com o acaso


Todos os dias, sem exceção, são um campo potencial para o acaso.
Por um grande acaso, cheguei primeiro no óvulo da minha mãe.
Desde então, nesses esbarrões eu sou agraciado por situações, eventos, lugares ou pessoas que só enriquecem essa incrível jornada que eu recém estou aprendendo a seguir. É isso que chamam de vida, acredito.
Graças ao acaso de cair em uma sala de aula, e não em outra, conheci amigos que trago perto até hoje.
Há quem vá dizer que não, que são coisas do destino, que são forças cósmicas, um pai celestial etc.
Mas cada um tem suas crenças, e eu tenho muita pouca idade pra tantas convicções.
A única convicção que tenho agora é a certeza do acaso.
Por vezes infeliz, por vezes primoroso, mas constante e infalível.
Outros dizem que nosso subconsciente já tem as respostas de nossas escolhas, e que não há margem para acasos.
Mas já se pensou que a Terra fosse o centro do Universo... Já se pensou e se disse muita besteira.
Eu acredito no que eu sinto, e sinto como se fosse um balde cheio de coisas boas que recebi dos outros, e que estou sempre pronto para derramar meu conteúdo sobre quem tiver o interesse nessas experiências.
Eu só digo "que sorte, que sorte eu tenho".
Não que as minhas experiências sejam melhores que as dos outros, mas é o meu ponto de vista, é como eu me sinto, e me sinto fantástico. É o que isso significa pra mim.
Estou ganhando vivência, experiência.
Sabedoria.
Mesmo que sejam gotas, grãos minúsculos, mas são meus. E podem ser de quem mais quiser, eu divido. Aliás, melhor uma troca, um intercâmbio.
Pessoas, lugares, eventos e situações que o acaso me trouxe, que sorte a minha.
Me sinto, às vezes, descrente de tamanha sorte, como se estivesse num teatro.
Um teatro dos sonhos.
Mas é melhor, é de verdade. Palpável.
Espero poder compartilhar dessas experiências por um longo tempo, com os meus de agora e com os que o acaso trará.
Só não por acaso escrevi esse texto, esse eu de fato quis, basta saber pra quem o acaso vai mostrá-lo.
Aguardo mais surpresas positivas do acaso.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Expressar por que, mesmo?

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Critérios para Ser


Parece bem simples, à primeira vista.
E na verdade é, por que o complexo depende de quanto sabemos à respeito dele.
Partindo da idéia que sei tudo, prosseguirei.
Não se pode Ser a menos que os que São o reconheçam como algo que É.
Essa é a sua verdade absoluta daqui pra frente.
Como prosseguir? Fácil, Seja.
Aqueles que São estão sempre muito ocupados administrando Suas existências, então clame por Sua atenção.
Uma vez que a consiga, parabéns, você nasceu.
Ainda que ínfimo, você É.
Aprenda com eles.
Aprenda com Seus exemplos de dezoito anos de história. Isso é quase uma vida.
Absorva cada vírgula de Suas frases e filosofias, pois estas vieram daqueles que Foram antes destes que hoje São.
E que você também Será, tão lindamente.
Cuide da cada detalhe de sua existência, cada fio da sobrancelha deve ser cuidadosamente aparado e penteado.
Prepare-se para esquecer o erro e o fracasso.
Prepare-se para aprender a ver as vantagens de cada situação, e usá-la com destreza.
Ser é o máximo, o ápice, o gozo mental emocional de uma fatalidade biológica.
Para aqueles que nunca Foram, passam a vida na clausura e escuridão da inexistência, mesmo que portadores de CPF e RG.
Ser é fácil, basta se obter os meios. Se não por mérito, por interesse daqueles que São no seu potencial.
Alguns são verdadeiros foguetes, saindo do nada à estratosfera social em segundos.
Graças ao potencial.
Todos que São o viram, ele pode Ser como nós.
Pode ter Nossos símbolos tatuados na pele, Nossas sacras imagens publicadas em sua redoma de compartilhamento intelectual de acesso absurdamente restrito.
Só os amigos podem ver.
Como eu sei?
Porque morro de inveja, e fui bisbilhotar.
Eu nunca Fui.
Nunca consegui tocar aqueles semi-deuses que capturam cada por de sol em caixas mágicas que levam nos bolsos.
E que só os que São as possuem, só Eles tem o potencial. Os foguetes sociais.
Mas pelo menos eu tenho o bom senso de não tentar pseudo-Ser.
Já vi alguns que tentaram, e pareceram patéticos com seus trajes não oficiais, mas sim réplicas vindas de fornecedores não autorizados.
"Nunca Serão", dizia um dos mais célebres e profundos refrões proferidos por Eles em suas capelas mágicas, onde todos estão ao mesmo tempo sem estar.
Eu entrei nessa capela, afinal é pra lá que vão os que querem luz, mas não participo de Seus rituais.
Só fico sabendo destes pelas mensagens em código que Eles trocam entre eles.
E minha boca saliva e meu coração dispara.
Como eu queria... Queria Ser.
Queria que me olhassem e dissessem "ele É, com maestria".
Vou ter que aprender a lidar com a frustração de nunca ter alcançado tal título de nobreza.
Enquanto isso sigo com os meus, que assim como eu, sonham com o dia que vão olhar por cima, dignos de um lugar privilegiados em suas pirâmides. Tão imponentes quanto Mufasa e Simba ao contemplarem o nascer do sol.
Sonhamos com o dia em que poderemos entoar, em uníssono, o poderoso jargão que identifica aqueles que São.
Eles batem no peito e dizem, à plenos pulmões:
"É nóis".

12 mentiras majestosas

Nessa de começar a escrever, as mesmas palavras clichês veem à cabeça, não é?
Agora existe beleza, existe amor, existe esperança de que o novo dia seja melhor.
Outrora era mais fácil falar de sentimentos e da dor. Ou de sofrimento; da morte.
Há muito mais além de meras falas em bocas duvidosas, basta enxergarem o contexto.
Através de cada um exala a real verdade. Aquela verdade que vocês escondem sem cuidado.
Veracidade atochada em critérios absurdos, mas que, indiretamente, trazem um significado.
E será assim, não será? O velho moinho continuará girando e girando e girando...
Resumir-se-á em derramar a água de cada um, a mesma água de sempre; suja ou limpa.
De noite, quando deitarmos, o chavão deitará junto de nós.
Amanhã, ao acordar, escreveremos as mesmas palavras clichês.
De novo aquelas que não saem da nossa cabeça. As da natureza pessoal do homem.
E sei lá, cada qual entende como quiser. Como o corpo permitir.

Na medida de um coração

Confinada em uma pesada armadura ela estava, armadura que era leve na verdade, fora forjada por elfos... Elfos como um de seus companheiros, ali presente, de longa data e de longa vida. As gotas de suor que tomavam conta de sua bela face não escondiam toda a bravura que seu olhar transmitia. A bravura de incansável guerreira que ela era, mas também de mãe que ela não fora... E nunca mais viria a ser.
Apesar disso, suas mãos estavam firmes na belíssima espada que empunhava, forjada por divinas criaturas e sustentada por luz. Como a luz de uma manhã.

O ambiente era de irrelevante escuridão.
A batalha que se seguia era grande, envolveria eventos que perdurariam por eras tornando nomes, antes simples, em refrões nas músicas dos bardos, muito refinadas.
Onde ela estava, do seu lado estava um elfo e de outro lado estava um meio-orc. Pulsantes em energia e firmes no pulso. À sua frente estava Bhaal, um deus obscuro cujos planos só se podia imaginar, e era nele que todos os olhares se fixavam, nele e no seu exército de criaturas sombrias. Ele estava ali para matar aquela mulher e seus companheiros. Apesar de parecer uma luta desigual, as expressões dos três aventureiros não demonstrava medo ou receio, ainda que naquele precioso e preciso momento, descia Lathander, o deus de todas as manhãs e de todos os recomeços. O deus daquela humana.
Seus companheiros não dividiam a mesma fé, mas acreditavam em propósitos semelhantes, acima de tudo nela e em sua bondade.

Ela tinha um coração forte. Tudo o que sentia era a vida aflorando em suas veias, em um corpo agitado brandindo a sua espada muitas e muitas vezes, contra tudo aquilo que ela não acreditava. Era um enorme exército e um deus maligno, mas sua crença na manhã do dia seguinte era muito mais forte, mesmo que ela nunca mais fosse ver tal espetáculo. O seu deus estava lá lutando lado a lado com ela e seus companheiros.
Eles eram arremessados e jogados para os lados, se protegiam um ao outro. O elfo representando sua raça na agilidade e sagacidade de um guerreiro do arco e da flecha, o meio-orc na força física e também de espírito, afinal, não era de ontem as andanças dos três. Formavam excepcional sincronia.
Entre movimentos e golpes, inimigos e aliados, um portal se abre trazendo os defensores de Corellon, amigos de Lathander.
Somavam-se as forças, e se equilibrava a batalha. Mas toda a batalha tem início, meio e fim. Assim como toda vida tem início, meio e fim.
Não importa a força de um coração, nem quão fria é a razão.

A moça também tinha um coração puro. De uma pureza que só uma criatura mortal poderia ter, assim como a certeza de que um dia ele pararia de bater.
Era um coração que pararia de pulsar, e isso era inevitável pois ela nunca teria parado de lutar.

"Aloria, saia daí!"
Foram as últimas palavras que ela ouviu. Atrás dela estava o adversário, aquele outro deus, empunhando uma enorme adaga do tamanho de um homem ou do sonho de muitos. Em um breve momento, o tempo de um lamento, ele a golpeia imediatamente nas costas. A adaga a atravessa e sai pelo peito coberto pela bela armadura forjada por elfos, mas que, assim como ela, não era capaz de resistir a um ódio tão grande. O sangue escorreu como uma lágrima, igual às que ainda ardem, e pingou com a força de uma pancada.
No belo rosto de Aloria, se esvai a expressão de bravura que durante muito tempo havia encontrado um lar quase permanente naquela face.
Foi um momento silencioso, o próprio pesar já parecia presente.
Suas mãos antes firmes, agora aos poucos se abrem, deixando sua espada escapar entre os dedos. Enquanto antes era sustentada por luz, agora, sem a portadora para empunhar, deixa de luzir, e aos poucos se apaga no ar.
Seus olhos se arregalam por um breve instante, momento em que Bhaal retira sua adaga, e Aloria cai para sempre.
Como a vida que existe sem por quê, e o adeus, que às vezes se dá, sem saber.
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (
) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )
( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Caminho

A trilha era cheia de obstáculos: pedras, tocos, buracos... Além de se encontrar num local íngreme. Uma vegetação rodeava o caminho, onde flores eram tocadas por abelhas, borboletas e beija-flores. Seguia por ali sem muito reparar no que lhe cercava, já que almejava, apenas, o fim da trilha, criando coragem para realizar aquilo que tinha em mente. Queria muito, se prendeu nesta ilusão.


Não levava nada consigo, pois não precisaria. Seriam alguns minutos para pensar e realizaria seu grande feito. Seu maior ato de coragem, quem sabe, já que nunca foi dominada por ela. Algumas coisas passavam em sua mente: Estava realizando o correto? Isso seria covardia ou coragem? Não tinha as respostas, mas havia tomado uma atitude.


Ela já diminuía seu passo quando um raio de sol iluminou uma parte do caminho, o que a fez observar a beleza que a contornava. Seguiu, apesar de maravilhada com o espetáculo da natureza, onde pássaros pousavam nos galhos das árvores, o perfume da flora encheu seus pulmões e o barulho de um córrego distante chegou aos seus ouvidos. Um leve sorriso surgiu em seu rosto.

Continuou o caminho, porém um novo olhar apareceu em sua face. Mais formosuras se revelavam a cada momento: o voar de uma borboleta, as pétalas caídas de uma margarida, o bater do vento na copa das árvores, os raios de sol ultrapassando a vegetação e iluminando as pedras. Tudo parecia tão belo, tão diferente, tão iluminado. "Não, não devo admirar a beleza. Vim para cá justamente pelo contrário: o feio dominou o mundo, só o ruim faz parte do cotidiano e a tristeza deixou tudo cinza.", esbravejou.
Logo à frente, depois de uma grande elevação, se encontrava o topo do penhasco. Chegou esbaforida, sentou no chão e ficou olhando para a grama. Fantasmas, antes escondidos, surgiram com maior força. Pensamentos sombrios e ideias lhe dominavam. Queria acabar logo com aquilo.

Encaminhou-se até a beira de uma grande pedra e olhou para baixo. Um abismo se encontrava ali. "É chegada a hora, me vou.", disse. Abriu os braços, olhou para a frente e assim ficou. Não conseguia acreditar no que via. Não entendia a maravilha que tinha ignorado por tanto tempo, tudo que havia deixado de admirar.

Sim, o sol, que já se localizava no horizonte, estava se pondo. Com sua coloração alaranjada, descia através do céu. Apolo, junto de sua carruagem de fogo, deveria ser o responsável por aquilo, pois só os deuses seriam os autores de tal obra de arte. Os tons, as luzes, as nuvens acompanhando o conjunto... A maravilha era de encher os olhos.

Mais elementos completavam a obra: o astro rei estava se encontrando com grandes campos verdejantes, os quais se perdiam de vista. Constatou que as coisas não eram tão ruins quanto imaginava, beleza existia e era infinita, bastava olhar ao redor. O rosto, que antes lutava contra a tristeza, passou a estampar um sorriso largo, cheio de vida. Um sopro de alegria chegou em suas narinas e seu olhos passaram a brilhar.

Agora, afastada da beira do desfiladeiro, viu o quão fraca estava, como sua alma estava cinza e sem vida. Havia se deixado abalar por nada, por egoísmo, por capricho. Agora, sim, tinha coragem, não para pular, mas para caminhar até o horizonte. Coragem para seguir a vida, o belo, seus sonhos.

Sabia que o caminho teria locais sombrios e dias de tempestade viriam. Porém, viu que existia algo positivo nisso: admirar as pequenas coisas e sentir que o caminho, apesar de tortuoso, a fortaleceria. Deu o primeiro passo para o desconhecido e seguiu em busca do horizonte.

Fome

Gomez queria devorar o mundo.
Não que quisesse mascar nossas carcaças ou nossas carroças, ele só tinha um apetite inusitado.
Sabe?
Ele queria abrir bem a boca e dar uma dentada no meio da África, ficar com fiapos de savanas entredentes, se babar com o oceano Atlântico, e depois soltar um arroto em vintesseis idiomas diferentes.
Coisa boa, lhe parecia.
Babaquice, parecia à Ester, sua esposa.
Gomez não era um cara de vícios ou práticas nocivas; apenas tinha um certo tesão por rimas com verbos no infinitivo e aforismos.
Também era um grave caso de falta de inspiração e originalidade. Mas isto não o prejudicava em suas rotinas, posto que não lhe eram características importantes.
Vivia informado com as notícias do mundo nos telejornais, e daí provavelmente viesse a voraz vontade de devorá-lo.
Gomez queria devorar o mundo, e frequentemente explicava isso ao doutor Dario, seu dentista, que vez ou outra refazia a obturação fodida de Gomez.
As pirâmides do Egito eram sempre um problema.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O Ritual

Já está escuro e Sérgio se prepara para percorrer o mesmo trajeto de quase todos os dias, depois de mais um dia trabalhado na fábrica.

Andando pela rua rapidamente, se depara com várias faces e números. De repente, um caminhão de som passa em sua frente,  cantando uma música desconhecida. Este é só mais um dos tantos que passaram ao longo do dia, lhe dizendo o que deve fazer e afirmando que isso é agir “conciente”.

Ainda tenta encontrar uma explicação para absurdo ritual, mas acaba se perdendo em meio a seus pensamentos.

Na tentativa de pará-los, começa a pensar na bebida que irá encontrar quando chegar em casa. Tudo que quer é um pouco de paz, mas essa paz é das mais difícies de se encontrar.

Chega o momento de preparar o seu drink. Muito gelo no copo, um pouco de veneno, e a sensação de que alguma coisa está melhorando.

Mas não se engane, é uma mera tentativa de parar o inevitável. Seu ritual irá recomeçar amanhã.
 

Sobre o que nos mantém

Sabemos que para uma árvore quanto mais tempo ela existir, mais firme ela fica presa à terra. E sabemos que existem árvores de mais de 100 anos...
Mas e nós? O que nos mantém?
O que te mantém firme nessa corrida de cavalos invisíveis? Uma corrida que para se movimentar você precisa estar firme no chão como uma árvore enraizada, estável, porém quando isso acontece você não consegue se mover na velocidade que precisa?
Eu também não sei se a frase acima está completamente certa, ou faz completo sentido, se é que você também está perguntando isso agora.
O que mantém, nós, seres pequeníssimos e de tão pouco tempo, tão voláteis ao tempo?

Eu sei que precisamos de muito e de cada vez mais, para acordar no dia-a-dia, para levantar. Às vezes sabendo que é uma guerra perdida, ou sabendo que é uma pequena batalha vencida. Há quem diga que só conhece a paz quem aprende a lutar. Aposto que o mesmo que falou isso não se deparava com uma guerra invisível, que tudo até a paz é de duvidar. Uma vez que você não pode confiar...
Ou então quando lemos uma distopia e não sabemos se ela é real ou não... se a guerra é real ou não. Pensamos saber que a vitória não é possível.

O que te mantém na esperança? Pois, se não é a esperança que te faz abrir um sorriso em um novo dia, ou dar bom dia à cavalos, seja de noite ou de dia, o que mais faria? Gostaria que houvesse alguém que possa me explicar.
Mas quando não há nada a se apegar, somente podemos deixar passar. Ainda há uma esperança, que reside justamente em uma dúvida. A certeza da dúvida de que a realidade nem sempre foi tão cruel. O contrário que nos mostra aproximadamente 2000 anos de história documentada... O mais próximo da verdade que poderemos chegar. Também sem nunca alcançar.

Não tenha tanta certeza. Pois foi ela que negou a infinidade do universo. Foi ela que entregou pessoas ao fogo... E também foi ela que entregou o Nobel da Paz à um homem que falava da guerra...
É ela que faz o ministério da saúde só falar de doença, e o "ministério da verdade" só falar de mentiras.
É ela que nos joga colina abaixo, no caminho tortuoso da pedra que devemos empurrar, do dia-a-dia sem temor... que cega nossos olhos quando estamos perto do amor.
É ela que te joga contra mim, e eu contra você.

Vamos juntos duvidar de um mundo com toda sorte de barreiras e cercas, para que se abra a possibilidade inquestionável de um outro onde possamos fincar nossas raízes e fazer parte do todo.

Folhas ao vento

Somos todos folhas, folhas dessa mesma árvore, folhas que se encontraram no chão.
E o vento que nos move, que nos aproxima, que nos separa, que nos empilha e que nos leva embora, é o resultado dos nossos desejos.
E por causa de nossos segredos, nem mesmo o mais estudioso sabe para que lado o vento vai soprar.

Pelo doce sabor do bolo

Eu gostava de bolo, e eu queria aquele bolo, e gritei isso pra todo mundo. Mas não me ensinaram a fazer por mim mesmo, e, em minha comodidade, esperei que alguém o trouxesse até mim, me servisse fatias do tamanho da minha fome, e mais outras, depois, do tamanho da minha vontade de comer. E que até mesmo, talvez, o bolo viesse sozinho ao meu encontro. Mas não tirei um pé do lugar.

Alguns mais próximos a mim pensavam em se servir, mas com ameaças infantis, eu os afugentava. Afinal, eram meus preciosos amigos, deveriam me respeitar em minha vontade de comer o bolo, mas também deveriam aceitar minha incapacidade de me servir.

E por fim, alguém que não havia pronunciado sequer uma palavra levantou-se, serviu-se e foi embora, deixando apenas migalhas.

E lá estava eu, chorando como um tolo, ofendendo o vento e os ouvidos de quem me cercava, me lamentando, e culpando a vida, o universo e tudo mais, menos o verdadeiro culpado, por ter perdido a chance de saborear o que eu tanto queria.

Arco-íris

Hoje descobri que és um arco-íris.

Tais cores, tal beleza.

E é por isso que amas a chuva, porque sabes que talvez, quando ela estiver passando, terás uma chance de espalhar tua cor. Terás uma chance de brilhar para que todos vejam.

Mas de certa forma também amas o sol, porque sem ele não poderias existir. Precisas da combinação d'água e da luz para seres completa.

Sabendo disso, decidi que para onde quer que eu vá, desejo que sempre haja nuvens chuvosas logo a frente, e que o sol nunca deixe de me seguir. Assim, enquanto minhas pernas tiverem forças para continuar caminhando, poderei estar junto de ti. E quando finalmente não conseguir mais seguir o caminho, poderei me sentar, e admirar mais uma vez, uma última vez, com imensa alegria no coração, toda a tua beleza, toda a tua cor.