segunda-feira, 30 de abril de 2012

Para mais um dia de esperança

Quando uma máscara
Sozinha, entre tantas
Quando se está cara a cara
Como é possível entre tantas gentes.

Na maioria, seres decentes
Na ponta do lápis
no fogo de um canhão
O homem ainda é capaz de sentir a solidão

Quando a saudade aperta,
Quando nos lembramos
que a morte é certa
É muito, fato.
acreditar, duvidar, raciocinar
Melhor mesmo é sempre parar.

No auge de muita ganância
é onde começam aos poucos
Na base, de troncos ainda ocos
As primeiras fagulhas de tolerância.

Para mais um dia de esperança.

domingo, 29 de abril de 2012

Foi

Um pássaro bicando o vazio; Quando sente as gotas de chuva, ele foge. Se refugia no abrigo de um abraço. Sua mãe, seus medos. Debaixo do telhado de amor, nenhum dos dedos gelados o alcança.
O pássaro veste um chapéu. Com a bengala de cavalheiro, afugenta um gato maroto que tenta leva-lo pro inferno.
Mas pra lá ele não volta. Agora ele é livre, é poeta; desaprendendo a voar, deixou de ser prisioneiro do céu.
Por isso bicava o vazio - queria acordar o pássaro de novo. Mas seu bico virara dentadura. Os lábios rachados sopravam um cansativo assovio, em vez do velho trinado.
Mas é assim; um homem paga o preço por suas escolhas. "Homem"! Engraçado chamar-se assim, ele que há pouco era pássaro. Saudade desse dia até havia, mas o vento entre as penas não era melhor que o calor por entre abraços.
Agora, mais do que nunca, precisava deles. Pensava nisso quando pisou na grande poça que o fez despertar.
Olhando em volta, viu que ainda era pássaro. Mas agora era diferente! Na experiência de homem, decidiu ter um ofício: cobraria para cantar. "Claro!", pensou ao decolar. Lá em cima no céu, decidiu subir na vida.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Desponta de pingo

Andaram no azul
sem asa bater;
Plantaram feijão
sem sujar a mão.
A soma se fez
um dedo por vez;

Lavagem a seco!,
aí não me meto,
não vejo no escuro
não fujo pro muro.
Inventaram sabão,
inventaram prisão.

Mas tem uma coisa
que robô não faz
que é filosofar
e eu sei que não dá
pra se programar
máquina que saiba
se perguntar.

Espelho

A nossa sociedade é mesquinha, idealista, covarde e atrasada. Sonho em dar razão aos socialistas. Não quero que dê certo, quero que dê errado, pois é dando-se errado que novas coisas acontecem. Eu não gosto do controlado. E você, já se olhou no espelho hoje?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Por que?

Uma ferida na carne se trata com um curativo;
Uma ferida no orgulho se trata com outra ferida.
Me explica essa, Mestre Marco.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pingo de vista

Cá uma poça
ou uma lagoa
Eu a encaro
Ou me faz cara?
Lhe tomo espelho
Um profeta
Eu pateta
Ou ela esperta?
Quem que me conta
O que eu escuto?

Letefon

Poucos sabem o seu apelido
poucos sabem a sua existência.
O guardião de supermercados de bairro
Será mesmo só isso seu propósito?
Sujeito incógnito...

Poucos ainda, sabem
Que possui uma arma.
Roubada nos tempos passados
Seria uma pistola?
Seria desconhecida?
Uma arma mágica de dentro de uma cartola?

Hoje mesmo meu caminho cruzou o deste cidadão.
Empurrando sua bicicleta...
Passei andando, em minha pressa,
Quando se faz ouvir seu cumprimento
"Óba!" Ele disse.
Retribuí o gesto.
De Letefon, o velho sujeito.
Há muito desaparecido,
Mas sempre retorna em tempo...

sábado, 21 de abril de 2012

Matriz

Leva-se em média um tempo muito grande para aprendermos o óbvio, uma faculdade inteira, para vermos que as artes fazem bem aos homens. No dia a dia, a figura parece diferente, todas as artes ficam em segundo plano, não são incentivadas... "Vem cá, você trabalha também ou você é só músico?"

Precisamos parar de encarar a realidade pela desgraça, antes que seja tarde.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

E depois da aula de ontem...

O problema de hermenêutica.
Um velho com cara de louco gritando na frente de um bando de jovens agitados. Desavisados.
Nós, jovens, dávamos risadas das supostas coisas engraçadas do velho louco professor. Um sábio.

Ironicamente ele fazia tudo parecer um teatro logo após explicar que em textos ou obras de arte, devemos perceber as coisas nas entrelinhas, pois isso seria a hermenêutica. Compreensão e interpretação.
"Fujam do controle! Vivenciem! Estamos todos tão presos no método!" "Puta merda!" Ele gritava, agitando os braços.
Não havia como não rir: A raiva e as piadas ao mesmo tempo, jogadas e misturadas, formavam bases criadas.
A sabedoria de tudo aquilo estava justamente em chamar aos jovens para algo importante, de maneira engraçada.

E seria de fato engraçado, se no fim não fosse trágico.
Pois após cessarem as risadas, a aula acabada, e os jovens em disparada para suas casas, a maioria esqueceu e no fim o que se aprendeu foi justamente nada.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Qualquer

A moça esperava. Sentada, olhava em volta, envolta no vulto do passado que seguia.
Esperava não para ir adiante, mas por uma chance de voltar.
Alguns juízos lhe diziam que isso é impossível. Outros, que bastava acreditar.
E nisso se alternavam a tristeza e a esperança, a cada reabrir da cortina que cobre os olhos de gente.
É difícil fugir do que queremos encontrar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Para a mão invisível...

Você não sabe quem eu sou. Mas eu sei quem você é. Você, há muito tempo vem semeando a destruição, plantando o falso, mas colhendo só o lucro... que no fim não é lucro algum. Você é responsável pela morte de milhões de pessoas vítimas de uma necessidade básica ridícula, provocada por você mesma, para um fim obscuro... desconhecido. Eu lhe condeno, mão, culpada por todos esses crimes contra a humanidade.
Você, afinal, nunca vai ler este texto. Daria risada dele lendo.
Mas eu tive um plano... e vou te usar para fugir de você mesma, não quero mais que você me sugue em prol de coisas desnecessárias.
Vou lutar contra você, vou poder fazer isso. Vou lutar contra você, e mesmo que eu não vença, meu sorriso será grande o suficiente para engolir qualquer obra sua... quando me perguntarem "o que você fez pelas pessoas daqui?"
Eu vou poder dizer que te desafiei, prestando atenção naquilo que você não quer que ninguém preste. Você se empenha tanto e o faz muito bem, nos escravizando, para que não vejamos, ou não sintamos, o fedor insuportável da sua merda.
Vou poder dizer que fiz algo não só para mim mesmo, mas para meus iguais. E coisas assim não vão embora conosco, elas ficam por aqui, impedindo a sua merda, mão, de se sobressair totalmente.

Se me fizerem essa pergunta, poderei apenas abrir um sorriso. Agora, você parece nunca morrer não é mesmo? Nunca sentirá a alegria desse tipo de sorriso... e eu te condeno mais uma vez por tentar impedir.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cíclos

Há bastante evidências de que o cíclico seja uma realidade. São pequenos fragmentos de tempo que tem início meio e fim. Não é nada muito complexo, está à nossa volta, está em nossa vida, nos planetas, no universo...
Mas ainda existe algo em nós que nos faz desconfiar de tudo. É natural, afinal a dúvida é o que nos faz ir em busca do propósito.
Eu ainda acredito que estamos no fim de um ciclo. Temos de estar... Isso tudo deve acabar. Terror, solidão, intolerância, incapacidade de amar. E você ainda acha que isso é o normal a se levar?

De tão pouca coisa que sobrou a se acreditar, uma das alternativas é se aproximar das poucas e fracas luzes para que elas pareçam mais fortes... e para que possamos ao menos usar a ilusão em nosso favor.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

(In)visibilidade

Será que o que faz as pessoas desviarem o olhar quando as olhamos nos olhos é a mesma coisa que há em nós que torna surdo os ouvidos para os gritos de sofrimento humano?

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Futuro do pretérito

Quando ele acordou, o dia já estava perdendo as últimas fagulhas de luz fraca, um dia nublado como vinha sendo a sua vida. Levantando sem arrumar os cabelos ou escovar os dentes, apenas colocando um coturno negro e uma jaqueta de couro.
Andou vagarosamente por uma rua comprida, com as mãos no bolso, uma vez que os primeiros sopros do inverno estavam à caminho. Havia pouca gente na rua, já estava ficando escuro. Eram vistas garotas de programa e um ou outro policial, algum movimento em frente ao clube Vezúvio.
O seu local preferido, no entanto, era logo após uma cerca ordinária em cima de uma coxilha, seu último refúgio, de onde ele observava uma paisagem que gostava muito: as luzes da cidade à noite.
Era um mistério para si próprio o quanto gostava daquilo, o mistério da noite... parecia que sempre havia algo acontecendo nas sombras. Na verdade para ele, isso era tudo o que sobrou na vida, este último mistério. Todo o resto já havia sido perdido ou desperdiçado.
Enquanto pensava tudo isso ele acendeu um cigarro e ficou contemplando a paisagem. Dali era possível ver um prédio de uma empresa onde trabalhou apenas um ano, que parecia cinquenta. Apesar de tudo isso ainda tinha boas lembranças daquele tempo, quando ele ainda era novo.

Lembranças. Tudo o que havia sobrado de sua vida. Hoje ele estava bem mais velho e tudo estava muito mais frio. Não se pode dizer que ele não lutou pelo que acreditava, pelo contrário... Mas ainda assim, acabou sozinho... Não havia mais nada para acreditar nem nada pelo que lutar, na sua visão acabou o caminho.
Lá longe era possível ver as luzes dos carros passando, parecia uma espécie de circuito em um manto negro. Talvez aquilo lhe agradasse por lembrar as estrelas, do céu noturno, do último mistério que ele tentava desvendar...

Olhando novamente aquele prédio da empresa, lembrou quando ainda estava lá e olhava daquela mesma janela para onde estava sentado, vendo as luzes do outro lado, e com medo de que um dia o que ele vivia hoje, se tornasse realidade.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Jornada para o centro da mente

Para longe, no espaço,
se explodiu a expedição.
no encalço de um retrato,
retratando a razão.

Lá de longe, diziam
dava pra dizer em raro efeito
pro pessoal lá da esquerda
como é o lado direito.

Mas tal plano foi-se falho,
pois a imagem que se fez,
por mais ampla que fosse
trazia um só lado a cada vez.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Mur(r)o

Faz tempo que estamos entre os muros. Muitas coisas se venderam por tão pouco, me entristece apenas imaginar.
Talvez não seja tão pouco quando se trata da sobrevivência, mas às vezes ainda é melhor morrer. Quanto mais se sabe, mais responsabilidade e mais inquietação se acumulam e ainda não estamos falando do julgamento.
Mas antes de escalar o muro, precisamos saber a sua altura... e às vezes o que existe atrás dele, tomando o cuidado para não pisar nos corpos, vítimas da merda que está espalhada por aí. Podemos nos considerar perdidos quando isso não mais tiver importância.

Devemos partir através deste mar de rostos?
Dançando no deserto se divertindo à beça.
É tempo de festa e não vivemos em uma nação fascista.

domingo, 1 de abril de 2012

F

E aí você começa a ver que nada tem. Todos os segredos silenciados, o afastamento, separação... e você nada pode fazer. Além de ficar vendo que tudo o que restou foram lembranças... e olhando em volta, não há ninguém ali, apenas fracasso.
As lembranças em uma passagem de jogo eletrônico, uma música de piano. Uma trama audiovisual. As coisas que parecem não voltar... as únicas que realmente importam. Todos os meios para acessar a lembrança estão ali. Agora, meios para se criar novas oportunidades não estão.
É como contagem...
Contagem regressiva.

Eu falhei.