sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sobre caminhos e calmantes

Linhas se sucediam; fazia-se contas, planos B; carregava-se perspectivas no bolso de trás.
O que aconteceu enquanto eu estive de olhos fechados?
Invenções absurdas tomaram o lugar entre as pessoas. Arranquei de mim um fio de cabelo, e ele ainda era comprido. Torto, crespo, uma merda. Mas aquelas linhas pelo chão... tão duras, sisudas. Que faziam elas ali, intocáveis?

Ergui-me e andei, para ver mais de perto o que acontecia lá adiante. Pensei que seria estranhado, no meio de tanta gente igualmente diferente de mim, mas me enganei. A minha presença não lhes era surpresa. Percebi, com o tempo, que eram todos estranhos entre si.
Terei viajado no tempo ou no espaço?

Tentei me comunicar com um deles, mas só obtive grunhidos em resposta.
Eu não era dali.
Qualquer um que eu visse, qualquer olhar que me tocasse, confirmava esta percepção. Vaguei em vão tentando conhecê-los, mas essa capacidade estava além deles próprios.
Eu não era dali e precisava ir embora.
Sendo poeira estelar, eu não deixara pegadas; voltei-me para dentro de mim, a fim de voltar para de onde vim.
As linhas sumiram, eu estava sozinho. Havia paz, pois havia solidão.

Pisquei num espasmo e um antigo amigo veio até mim;
"Na luz encontrarás uma estrada", ele disse e se desfez.
Eu sou luz, pensei. A estrada está em mim.
Abri os olhos e então eu compreendi o que houve lá fora.
O mundo seguira adiante, mas eu não.
Eu era um grão de poeira que teimava em ser luz.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

E depois da aula de ontem II

É... e depois da aula de ontem?
Onde fui me meter?
Às vezes acho que estou ficando maluco... às vezes.
"90% vem do meio, 10% da genética..." dizia Nara com sua sabedoria e carisma inegáveis, irrefutáveis. Será mesmo por isso altamente questionável?
"a janela do caráter, dos 0 aos 9 anos... depois disso dificilmente muda"
Não. Acho que estou em um sonho, um sonho feliz. Estaria eu chegando perto do sentido?
De frases atemporais proferidas, há uma que fala e escuta, uma relação dialética. Ela diz que quanto mais próximo do sentido chegamos, mais cedo percebemos que estamos sonhando.
Eu sempre gostei da cor branca. Afinal é qualquer cor que quiser, são todos brancos.
Não tenho como almejar dinheiro... normalmente se diz: "mas tu é tão inteligente, foi fazer licenciatura por que?".
Mal sabem que a inteligência está na relutância de se aprender o comum.
Às vezes no silêncio é onde mais se escuta, e na falácia é onde mais se ilude.

Mas uma pessoa realmente é inquestionável justamente quando ela apresenta algo oposto da certeza absoluta. Algo completamente vulnerável às perguntas e principalmente aos questionamentos dos demais.

No pingo da pequenez...
Tenha a certeza de não ter.
Saiba não saber.
E conheça desconhecer.
O MACACO ESPECTRAL SE MANIFESTA
Vão tomar nos seus respectivos cus.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O MACACO ASTRAL SE CANSA
Da ceguez e da surdeira;
Do cansaço só por cansar,
e da merda das reclamações infinitas
O MACACO ASTRAL SE CANSA

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O MACACO ASTRAL SE ESQUECE
Das lições que carrega n'alma;
Das promessas que se fez ainda jovem;
Enquanto junta lantejoulas e tijolos;
Pois ocupa a mente com demência,
O MACACO ASTRAL SE ESQUECE

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O zumbido do ser

Um senhor, certa vez, após uma série de aleatórias conversas, resolveu compartilhar uma história sobre abelhas. Sabe, as pretas e amarelas, aquelas das quais nos esquivamos e nos precavemos de seu surgimento. As mesmas que, em silêncio, apreciamos por seu trabalho servil na natureza.
O conto era como qualquer outro, em que se espera tal moral ao final. Talvez tirado de um livro infantil, ou apenas um texto, modificado através dos anos para vir a servir como lição.
Por tal razão, não foi demonstrado muito interesse a esta pessoa que abrira a boca para partilhar suas palavras com os demais que se faziam ali presentes.

- Ninguém dá ênfase em abelhas! - Pronunciou um rapaz de cabelos avermelhados, enquanto cutucava, em forma de arranhão, a ponta de seu nariz sardento. E prosseguiu por assim dizendo: - Elas fazem o mel, mas, e de quê isso me serve? Não gosto de seu doce. Sua abelha é apenas uma mosca com listras. A diferença é que não vai atrás de porcarias mal cheirosas, e sim, daquilo que venha a lhe ser útil.

- Pelo menos o ser possui hábitos inteligentes, tens de concordar...  - Indagou uma moça bonita ao seu lado.

O dito senhor começou.

Era uma vez um pequeno e novo mundo. Pequeno visto aos nossos olhos, fúteis olhos. A verdade é que era grande. Este era recheado de inúmeros e célebres donos de conhecimento. E lá vivia a mais formosa. A abelha rainha, claro. Ela mantinha-se como protagonista; todos sabiam. A tal celebridade, a mais temida e amada, a prostituta do reino, era a que todos queriam agradar.

- Até o momento, nenhuma surpresa. Você utiliza esse tipo de vocabulário quando conta suas incríveis histórias para as crianças, meu velho? 

O mesmo senhor endireitou a aba do desbotado chapéu verde e, sem dar muita importância à ironia, continuou.

Todas as manhãs, assim que o sol despertava e a luz surgia, as operárias saiam para seu trabalho rotineiro. Elas desejavam apenas voar por aí, espalhar seu zumbido através dos ares, enquanto procuravam incessantemente as mais belas flores. Quando encontravam seu alvo, tocavam-no com seu amor. E transformavam tudo em amor, todo o ar virava leve, e calmo, e simples. E esse sentimento era levado até a rainha que, mesmo sem imponentes atributos, continuava como celebridade, a mais temida e amada, a prostituta do reino. A que todos queriam agradar.

- Mas a maioria das pessoas foge delas, não é? Quer dizer, pelo menos eu. Não acho que elas embelezam nossos arredores. Está certo que são de certa importância em nosso planeta, mas...

- Isso não está certo! - Disse outro jovem, o qual ainda não havia se pronunciado, atrapalhando a fala da moça de boa aparência. - Abelhas são raivosas, não há ser sabido que as aprecie. As aturam, pois precisam. Só servem de trabalhadeiras, caso contrário seria outro inseto a ser esmagado.

Terminando sua história em forma de resposta, o senhor da expressão sofrida e do olhar triste, finalmente revelou a esperada moral.

- As abelhas não querem machucar ninguém, afinal. Elas não querem ferir. Só poderiam ferir a si mesmas, mais ninguém. - Disse certificadamente. - É a releitura de vocês, não? - Perguntou. - Somos nós.

As abelhas irão sempre viver para agradar, para amar. Seja pela protagonista escolhida, seja para com o ramo mais colorido achado.
Mas, ainda sim, serão metade sorrisos e metade lágrimas. Pois, uma hora ou outra, precisarão dividir e jogar sua raiva. Chegará o momento em que a abelha dará, em troca de encravar seu espinho, sua vida. 

O MACACO ASTRAL SE ILUDE
Com promessa e premissa;
Com atitude e atestado;
Sob sua sombra e sobre seu céu;
Falando de tudo e sofrendo calado;
O MACACO ASTRAL SE ILUDE

Diga me...

Diga-me garota
Qual é a sua história?
Para onde você vai?
De onde você veio?

Diga para mim
Que as coisas que precisamos
Nunca são tão difíceis de achar...

Se um dia eu te amar,
Me deixe te deixar...
Ir para onde quiser, para onde puder
Pois tudo que é, um dia não será mais.

Manteremos a liberdade.
O mesmo motivo esquecido por muitos.
Razão da felicidade

domingo, 26 de agosto de 2012

...e não volta mais.

Como todos os jovens, ele era cheio de sonhos.
O mundo era dele, e ele era do mundo.
E aquele, era seu primeiro dia no seu primeiro emprego.
Contemplava seu reflexo, no monitor ainda desligado, imaginando o quão grande seria seu futuro, maravilhando-se com as inúmeras possibilidades que aquilo trazia.
As viagens, as festas, os amigos, o sucesso.

Mas o tempo passou...

E agora, da mesma forma que fez há anos atrás, um senhor calvo, de idade avançada, lhe observa naquele mesmo monitor desligado.
Pensando nas coisas que deixou de fazer.
As viagens, as festas, os amigos, o sucesso.
Agora terá tempo livre pra tudo isso, o tempo que nunca teve, o tempo que dedicou ao seu trabalho.
Contempla uma última vez aquele reflexo, lembrando do rosto do garoto, que muitos anos atrás, com um rosto sonhador lhe encarava.
Hoje é seu último dia, finalmente conseguiu sua aposentadoria, e agora vai ter o sossego, o tempo, e economias suficientes para fazer o que sonhava em fazer quando começou a trabalhar lá.

Mas a vida passou...

sábado, 25 de agosto de 2012

Encontro dos opostos

Lados opostos, tão dispostos, acabam não se encontrando.
Quisessem eles saber que estão de costas um para o outro.
Precisaria que um só falasse e se conectariam.
Coisas distintas que fazem parte do mesmo ser, do mesmo querer.

Já não se pode entender as distâncias impostas pelo nada, pelo inexistente.
Seres diferentes, mas tão iguais, jamais saberiam disso.
Nunca perceberiam tal manifestação do Universo,
Onde tudo não parece ter sentido, mas o tem.

Seria uma questão de má distribuição dos indivíduos?
Ou, quem sabe, algo esteja atrapalhando a visão?
Bastaria descerrar os olhos e dar um passo adiante.
Os opostos estariam frente a frente.
O Encontro, enfim, aconteceria.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O MACACO ASTRAL SE ENGANA
Ao longo das eras, ao longo das pausas para o almoço.
Em cada descoberta, em cada encoxada.
Por mais que ele aprenda, por mais que ele assalte.
O MACACO ASTRAL SE ENGANA

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Um pingo sobre a pequenez

Eu saberia dizer que é importante ser pequeno.
Que não é uma escolha, mas uma aceitação.
Eu saberia dizer que aceitar é uma prática rara,
e que a pequenez de cada um costuma lhe ferir.

Eu arriscaria dizer que somos todos pequenos.
Que ansiamos por grandeza e por glória,
mas que elas não se encontram juntas.
Se eu fosse capaz, ensinaria a mim mesmo
uma forma de conviver em paz com tal tamanho.

Mas... eu não saberia dizer até onde se estende
a vastidão de minha insignificância.
Entendo, apenas, que assim estou protegido
e que resta em mim espaço para crescer.
Pois, na minha pequenez, não ocupo sequer em todo a mim.

Escolho, assim, viver em guerra a minha vida.
Como assim vive cada homem,
e cada um que descobre o seu tamanho.

Diria que é importante ser pequeno
e sendo assim não ocupar-se só de si
e não tomar o seu redor, na faminta expansão
Diria que sendo pequeno eu não me perco
e que o que perco não me faz parte

Enfim, a pequenez permite iluminar.
No espaço que resta em nós,
há lugar pra mais alguém.
É importante saber ser pequeno,
e no apetite voraz do agigantar
não devorar-se a si mesmo.

Saossep

Era uma raça de criaturas cegas.
Dia após dia, minada em grandes janelas luminosas
Janelas que não iluminavam há dias.
Nem mesmo uma consciência sadia.

Mas se eram cegas, como podiam?
Observar, produzir, terminar.
Ver.
Mas não tudo.
Nunca tudo, é loucura.
Quem faria, a tal altura?

Suas telas dependiam de várias outras para funcionar
Uma espécie de rede.
Era o que saciava.
O que separava elas da sede.

Pensavam elas, que no controle estavam.
de toda essa geração de criaturas.
Que não havia problema
Na dependência extrema.

Um dia, todas as janelas param de funcionar
de todas as criaturas, sem exceção
Uma a uma, passam a enxergar
Qual era a causa da sua cegueira
Motivo de sua perdição.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O diário

O garoto estava andando quando a encontrou. No galho de uma árvore crescida, daquelas que exalam um bom cheiro na primavera. Era uma lagarta... ou seria uma borboleta? Pensou ele.
Muito pouca coisa o surpreendia, e aquilo também não o surpreendeu, quando a lagarta começou a conversar com ele.

Conversaram por muito tempo e se conheceram naquele dia.
A lagarta sempre dizia que se achava uma inútil, que sua vida andava sem perspectiva, que os outros falavam mal dela, o que às vezes ela achava certo porque não conseguia enxergar o que ela tinha de bom. Achava que não tinha nada de bom. Achava que nunca sairia de seu casulo
Mas o garoto sempre insistia no oposto. O que ele via eram olhos azuis, asas de borboleta, coloridas e bonitas, ele não via casulo nenhum. Ela não era lagarta... um dia ela foi, mas hoje era borboleta. Uma borboleta que pensava ser lagarta, que pensava que nunca sairia de seu casulo.

Durante a conversa a borboleta acabou achando que o garoto era muito inteligente, muito mais que ela. Ele falava de coisas que ela não entendia, muitas delas não havia como ela entender pois eram coisas diferentes do que ela estava acostumada. E só isso, diferentes. A diferença não faz dele um cara mais inteligente que ela.
A borboleta sabia escrever. Ela sempre dizia que eram bobagens sem sentido, e o garoto achava que eram coisas legais, também diferente do que ele estava acostumado. Mas era só isso, diferente. A borboleta insistia que era ruim, que não era só diferente.
São diferentes inteligências, coisas diferentes. Nem melhor nem pior.

O garoto ficava imaginando se um dia ela já havia se visto. Mas se visto de verdade, ignorando todas as suposições dos outros animais que diziam coisas dela, que no fim ela não era... ele não enxergava assim, e certamente mais pessoas também não enxergariam assim.
Se visto não como alguém que comete erros, que fracassa. Mas como alguém diferente.
Como ele a enxergava. Para ele, a borboleta só não estava voando ainda, porque não havia percebido suas asas.

Para o garoto que pensava ser homem, a borboleta que pensava ser lagarta sempre iria ser uma borboleta.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Bom dia e boa ida

Pisquei três vezes os olhos, com força e vagar. Foi de pouca ajuda. Acho que era fumaça, ou algo parecido, que me estava turvando a visão.
Bati três vezes na madeira da porta incógnita pela qual passei. Foi de pouca ajuda. Depois dela havia um corredor e o anúncio de novas provações deixou-me ansioso.
Quis pôr fé no sinal da cruz, mas ele não estava ali pra me lumiar as ideias. Aliás, de que adiantaria apelar para o mesmo biltre que supostamente me atirou aqui, sem nem um "te cuida"? Era melhor abdicar da prática comum e não acreditar nesta esperança. Confesso que até não achava estranho tantos outros acreditando na existência de um vigilante universal, sentado num trono metafísico. Achava estranho as pessoas terem certeza disso. Algo tão inquestionável não pode ser verdade, penso.
Assim, cruzado o portal em solidão, me encontrava por pouco prestes a descobrir os domínios daquele novo universo;
"Bom dia", me disse um guarda armadurado e inexpressivo do outro lado, e continuou contando o tempo.
"Bom dia, como está?", perguntei.
"Quase lá", me respondeu, e alguma coisa no seu olhar me fez esquecer qualquer rima conhecida. Sua voz drenava a inspiração do meu espírito, deixando-me desanimado para as coisas belas que podia encontrar por ali. Falávamos a mesma língua, mas não das mesmas coisas. Deixei-o lá com sua contagem e segui, na única direção que julgava poder fornecer-me um propósito.
Encontrei restos de pêras, algumas ainda vivas, outras levadas a ruína por algum apetite inevitável; também Cadillac's, velhos, abandonados, uns poucos lustrosos e próprios para uso; e Godofredo, que parecia estar sempre no mesmo caminho que eu. Aproximei-me, por acaso, dele, que continuou a me ignorar, pois enquanto avançava travava um interessante diálogo (talvez devesse dizer monólogo, ou ainda uma palestra!) com um simplório espelho de moça que segurava pelo cabo. Estava prestes a convencer alguém sobre como fora maravilhoso chegar ao lugar onde estava e sobre como cada vez mais fortunas esperavam por ser descobertas nas milhas a serem seguidas. Os contra-argumentos eram silenciosos, porém instigantes. Alarguei alguns passos para afastar-me do bizonho, mas... aquele espelho parecia ter algo a me contar.
Assim, estava eu com os mesmos agouros de antes, não tão maus quanto cansativos; porém eis que, ao que o cansaço se me abatia, percebi estar me aproximando de alguma tenda atraente. E, excluindo-se os pigmeus, agricultores e advogados encontrados aqui e ali, fazendo pouco e criando caso, parecia que uma presença capaz de apaziguar minha solidão ali existia.
Uma fêmea, de porte esguio e ares convidativos, ante a entrada para aquela acomodação. E não me parecia estranha...
Eram cornos em sua testa ou... chegando mais perto, esta impressão foi desfeita. Que presença agradável! Longos cabelos, gestos delicados; ali havia uma explicação para minha jornada! Senti alguma jovialidade se regenerar em minhas vistas.
Andei até a tenda, guiado por um sorriso receptivo seguido de um suave "Olá!", que respondi com um parvo olhar caricato de alegria.
Um véu desfez-se à minha frente e lá dentro minha existência soava mais pacífica. Incenso de maçã verde e uma harpa me acolheram num abraço de prazeres.
Adentrara um paraíso esverdeado, pintado de flores e uma palmeira. Fui seguido a dois passos pela fêmea que me recebera. Sentei-me num sofá sem pés, ficando confortável em instante, e logo excitei-me ao toque daquelas mãos quentes em meu rosto. Também ela descia para acomodar-se naquele leito tão maravilhoso e dar vazão a todas as ânsias que espernearam em mim. Ao que anunciavam-se calores ainda maiores, a fêmea ergue-se e recua como que em repulsa pela última nota lamentada pela harpa antes de silenciar.
"Já ficaste aqui por demais", disse e correu para fora, levando consigo as cortinas, a tenda e o perfume que fora cúmplice da minha hipnose.
Quando voltei a mim, vi Godofredo a cinquenta passos de mim, abrindo uma nova porta, tão sem gosto quanto a anterior; o espelho debaixo do braço, em acordo com os efusivos argumentos, o acompanhava ao responder a um bom dia para alguém do outro lado da parede cinzenta que eu só agora percebia.
"Eu dissera: quase lá!", o desgraçado guarda me recordou, ao se aproximar. E eu sabia que seria assim.
Uma nuvem de fumaça despencava em torno de mim, e minha visão era turva. Pisquei os olhos três vezes, antes de seguir até a porta de madeira, que já estava aberta.
Quase fiz o sinal da cruz antes de passar por ela e dar bom dia ao outro guarda.
"Falta muito?", perguntei.
"Bastante", me respondeu.
Acenei-lhe um adeus com a cabeça e corri em frente.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

É bem assim

Quem já dormiu com o balde ao lado da cama conhece a angústia da dúvida.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Também vou ver o Doutor


Um jovem certo dia conversava com seu amigo, e queixava-se de um problema. O amigo não hesitou em recomendar o Doutor, que era muito bom em resolver problemas. O jovem então foi procurá-lo.
— Bom dia, meu jovem, em que posso lhe ajudar?
— Bom dia, Doutor. Vim até aqui hoje por recomendação de um amigo, que disse que o senhor é muito bom. Eu sofro de um problema estranho, que aparece às vezes.
— E o que seria rapaz?
— Invisibilidade.
— Como é que é?
— É isso mesmo, Doutor. Parece absurdo, mas às vezes sou invisível, e não gostaria de ser. Eu me sinto mal, me sinto menos que os outros...
— Muito bem meu jovem, sente-se aqui na maca.
O Doutor franzia a testa enquanto punha um termômetro embaixo do braço esquerdo do rapaz.
— Saberia me dizer em que situação isso ocorre?
— Sim Doutor, ocorre em alguns lugares públicos, mas não todos. Tipo, quando vou pra aula acontece, mas lá no Bar Biroto não, por exemplo. Mas em outros bares ou sei lá, danceterias, isso acontece bastante.
— Curioso, rapaz, muito curioso. E como você sabe? Como tem certeza que está invisível?
— Nossa, Doutor, é muito fácil. Você praticamente esbarra nas pessoas, mas elas simplesmente não olham. E quando, por exemplo, você encontra uma moça bonita, você tenta olha-la nos olhos, tenta sorrir, mas é inútil, ela não te enxerga.
O Doutor retira o termômetro e percebe que ele está saudável, não tem febre, e elimina uma possível situação de delírio.
— Você tem certeza que não imagina isso rapaz? Pergunto por que, em todos esses anos de medicina, nunca tive uma queixa tão peculiar... Você usa drogas?
— Só as lícitas, só álcool, digamos.
— Freqüência?
— Finais de semana, às vezes na quinta-feira, depende.
— Aham, perfeito.
— O senhor não acha que eu esteja maluco não é? Porque eu não estou, eu não sou...
— Bom, temos que reconhecer que existem casos dentro da psiquiatria que se assemelham bastante com sua descrição, mas isso demanda uma investigação mais profunda. E quando você fala te ouvem?
— Claro, e é mais uma prova. Quando eu falo com alguém, a primeira reação deles é de estranheza, como se fosse uma voz vindo do nada. Mas de alguma maneira sabem que é minha... Outro dia eu até tentei fazer como eles, andar como se não enxergasse os outros, mas eu não consigo, não é da minha natureza isso.
— Perfeito, perfeito... Bom meu rapaz, eu preciso ser franco. Não consigo pensar em alguma causa patológica para essa situação, pelo menos não atribuída a você. Você já pensou no seguinte: se ao invés de você ser invisível, será que não anda no meio de cegos?
O jovem agradeceu à atenção do Doutor, mesmo estando frustrado com o que ele disse, e foi embora.
Segundos depois o Doutor reparou que o rapaz havia deixado um casaco sobre a maca, e pediu para sua secretária algum contato do jovem.
— Fabiane, me consegue um telefone desse rapaz que acabou de sair, por favor.
— Que rapaz, Doutor?


Fioletowy Kapusta

Eu quero dar-me a mim um pseudônimo; um nome que seja bacana de montão, que caia bem numa assinatura incapaz de passar despercebida.
Eu quero dar-me a mim um outro nome, nem que seja pleonásmico, de preferência hiperbólico, enaltecendo as cargas culturais que pretendo e procuro ostentar.
Tem que ser um nome massa, que soe bem aos olhos de quem me vejo, e tem que ter umas duasoutrês palavras inusitadas, bem botinudas.
Atrás dele, eu posso me esconder, posso profetizar e falar obscenidades sem represálias.
Posso chamar o papa de puto, o pelé de meu amor e dizer pra todo mundo que sou um tipo de divindade, o deus do repolho roxo, e ficar por isso mesmo.
Sairei na rua sem ser aclamado, ocultado e protegido pelo meu poderoso pseudônimo. Verei pessoas que não me reconhecerão, mas em seus rostos silentes eu terei a certeza de sua adoração para comigo e minha obra.
Como é bom ser o máximo!

Navegadores

  Coloquei o remo na água, os olhos no horizonte, o futuro na imaginação e as boas lembranças na memória.
Parei por um instante, lembrando de todos que já navegaram comigo em todo esse tempo. Todos aqueles que em algum momento sentaram ao meu lado para remar, para me ensinar a forma correta de remar, ou até mesmo para me orientar, quando eu não fazia a mínima ideia do rumo a tomar. Todos vocês, sem nenhuma exceção, foram muito importantes. Vocês ajudaram a fazer essa grandiosa viagem ter um sentido. Carrego seus nomes e suas memórias comigo, as histórias que me contavam enquanto navegávamos por longas noites, e a coragem que me inspiravam durante as tempestades que tive de enfrentar. Lhes serei eternamente grato.
  Obrigado, também, àqueles que navegam comigo há pouco tempo, àqueles que ainda estão por vir, e àqueles que decidiram seguir na mesma direção, buscando o mesmo destino.
E por fim, quando chegar a terra firme, escreverei seus nomes na areia, um por um, junto com as nossas histórias. Farei isso como uma última homenagem, em silêncio, para mim mesmo. E, sei que as ondas, no seu contínuo ritmo, apagarão o que está na areia, mas elas nunca apagarão o que vocês escreveram em meu coração.
  Agora, porém, tenho de remar, creio ainda estar longe do final dessa jornada, e não há tempo a ficar jogando fora. Ainda há muito o que conhecer, muito o que descobrir.
  Acompanhem-me, então, pois em direção ao horizonte vamos todos nós.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A vasta estepe, um cavalo rápido e o vento em seus cabelos

Continuação de Só de passagem.

Elfa não pensava isso. Era de se esperar, dada toda a sua bagagem histórica, que remontam tempos tão distantes que nem ela mesma se lembrava. Por alguma razão ainda achava que se esconder dentro da própria mente era uma maneira rápida de descobrir quem ela era.

Vasta personalidade tal qual a estepe.

Para ela, o melhor na vida era sempre o que estava por vir. Afinal quando se é escravo em fuga, em Porto de Calim, cada raio de sol do raiar de um novo dia representa um sopro de vida mesmo nos corações mais mórbidos.
E seu coração, sem dúvida era único.

Era 50 a 50, como às vezes fazia nas apostas de jogos, na conhecida taverna Presa da Serpente, numa noite de jogos qualquer.
Sua estatura não era alta nem baixa. Suas orelhas não eram tão pontudas, como a dos verdadeiros elfos, e nem arredondadas como a dos humanos. Sua personalidade era como uma aposta, e ela tinha o fino costume de quase sempre ganhar, em um jogo onde normalmente ela apostava sua vida.
Sem saber... Sem poder... Sem porquês...

Na rapidez de um cavalo saudável...

Durante o dia, apesar da excitação de todo o movimento e rebuliço daquela infame cidade, Elfa somente observava. Era o seu momento de aluna. Sem um mestre para seguir, acabava que vários eram seus mestres. Desde os que pediam esmola até os mais requintados e esnobes figurões donos de palácios, e outras coisas na cidade.
Era um aprendizado sem elo nenhum, pois ela já matara vários de seus mestres.

Sempre em constante mudança, como o próprio vento.

Continua...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

De novo, obrigado

De novo o doutor estava sentado próximo a mim...
Continuava me perguntando como eu me sentia. Eu acho que nunca entenderei suas perguntas...
Entendo, por outro lado, o motivo delas e isso já me basta, para todo lado...
"Tome 100 gramas de soma", Não, obrigado!
Faz tempo que não preciso de remédios, passaram as perturbações. Me sinto bem, tenho paz e tranquilidade. Ironicamente isso dá medo nas pessoas... mas faz tempo que eu já perdi o meu.
Para o doutor, isso é ruim, sou ainda um doente.
Agradeço a sua preocupação, mas a menos que tenha uma solução natural, casual, eu acho que vou seguir meu caminho do meu jeito.

Até ter que inventar um novo sentido pra minha vida.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O encontro de Adolfo na volta da Padaria

Adolfo não pintava mais. Não sentia mais sentido em dar de si às suas obras.
Um dia, dera com a cabeça numa parede de madeira, e a dor tirou-lhe de sua órbita.
Brigou com Sofia, que nada dizia, e esqueceu os segredos das telas e dos tons.
Passavam-se os dias nos seus mergulhos em conhaques e incertezas; remoía as antigas dúvidas revividas por uma hedionda descoberta;
Ora, Adolfo topara com a intragável existência de um limite.
Descobriu-se criatura de alguém maior, ao esbarrar na moldura em que residia o seu existir.
Bem... um dia, havia pensado na hipótese de ver-se a si mesmo pendurado em um corredor... Além disso, jamais compreendera de onde vinham os traços que saíam de seu pincel.
Não sabia onde estavam os outros três lados do seu universo, e nem qual a distância entre cada um deles.
De mistério, ainda lhe restava saber porque diabos estava ali, e como alguém pode ser tão sádico a ponto de deixar sua criatura solta num mundo sem explicações.
Sem saber, ele sabia como era ser Sofia.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

I’ll be there for you

Está tudo bem, eu prometo. Pegue minha mão agora, as coisas se ajeitam.
Nós não precisamos de tudo certo sempre, vamos fazer umas loucuras.
Na verdade, não necessitamos de algo tão insano. Vamos apenas pular um muro, correr feito idiotas. Podemos viver do inusitado, alimentar-nos de incertezas.
Num fim de tarde qualquer, tu passa aqui. Faz assim, sério. Confia em mim.
Não liga, só vem. Estarei esperando, enquanto termino minha xícara de café.
Sem trocar muitas palavras, entramos no carro. Dirigimos pra lugar nenhum.
Podemos ir para o campo. Sei que gostas de tal ar e eu sou apaixonada pelos girassóis que crescem na estrada.
Não haverá ninguém, nada de barulho lá. Altas risadas serão dadas com a ausência de constrangimento. Poderemos, ainda, ligar nossas músicas no volume máximo, sem reclamações. Bom, de qualquer forma, acabaremos com o rádio desligado.
Eu sento no capô e exclamo como a lua está perfeita. Tu resmungas algo relacionado à situação, porém teus olhos sorriem.
Vemos um céu estrelado. Estamos longe da cidade, longe de tudo.
Já é tarde, mas, continue admirando. Eu te resguardo. Não tenhas medo, vou encostar tua cabeça sobre mim.
Juramos afeto e disposição de alma. De tijolo em tijolo construímos algo sólido.
É um tratado de amizade, é sobre um abraço deveras confortante. É sobre ter alguém em quem se possa confiar.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sobre o ato criativo e tudo mais

Rá.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Aí... chega um momento que o cara para pra pensar e não sabe nem se tem certeza sobre a dúvida que está sentindo ser verdadeira ou não.

sábado, 4 de agosto de 2012

Só de passagem...

Continuação de Dias de liberdade

Afinal, estou somente de passagem? Pensava a elfa, que nem elfa era. Segurando uma adaga fria como o vento que soprava naquela noite.
Encarava os dois sujeitos que estavam atrás dela, também armados.
Era uma mistura, exatamente igual à sua própria vida, uma mistura de coisas, habilidades e aprendizados... tudo menos memória. Uma mistura de raças naquela enorme e perversa cidade...

Muita coisa certamente era apenas passagem. O roubo que fizera na semana passada, numa noite de taverna e jogos. Se passava muito bem por uma inocente. Uma inocente mentira aos olhos de quem não ousaria acreditar que não fosse verdade.

Os dois sujeitos vieram em sua direção. Em um movimento rápido e um momento de sorte conseguira matar um deles. Seu rosto passou a poucos milímetros da lâmina de um dos golpes.
Acabou não contendo o sorriso de alívio diante da possibilidade de sobreviver novamente, mas dessa vez não passaria ilesa, sem pagar nada pelas suas peripécias noturnas...
O preço foi muito baixo perto do que ela já aprontara nessa cidade.
O outro homem armado havia lhe acertado na sobrancelha dois pequenos cortes. Não fosse a sua agilidade, teria ficado cega.
Sua lâmina foi parar direto nas entranhas do sujeito, que antes de morrer ainda havia falado que
"sua fuga estava com os dias contados".

Ela olhou em volta. Não havia mais ninguém ali. Estava começando a se acostumar com algo perigoso. Estava começando a acostumar com a morte.
Seguiu pensando que um dia talvez seria ela própria que seria atingida por uma espada ou um punhal, e ficava imaginando como seria a sensação.
Suas ações sempre acabavam chamando atenção, seja no silêncio da escuridão, ou ao lado de outro ladrão... Como ela mesma, agitada como um besouro...
Andando em um beco escuro, passou ao lado de um mendigo que estava em sono profundo. Ficou encarando-o por algum tempo. Muitos deles já a haviam ajudado, alguns até morreram envolvidos em seus esquemas...
Era quando se pegava pensando em caridade ou vontade de ajudar outros... Mas estava só de passagem.

E seguiu caminhando nas sombras limpando o sangue da sua adaga...

Continua

Ei de ver o doutor

Eu tenho que ir ver o doutor, eu sei que tenho, eu vou vê-lo e espero que ele me considere um caso especial, um lunático de marca maior, espero que o meu caso seja um grave distúrbio que ninguém mais tem, tomara que ele diga "puxa, que coisa" e coce o cavanha, e ache o máximo fumar um charuto e contar sobre o cara biruta que foi e disse umas coisas que ele não tinha ouvido nem visto nem imaginado, talvez lido de canto em algum tomo secreto sacrossanto do conhecimento psicoanalistógico-moderno-às-verda, e que o meu caso seja complicado e meio que insóluvel, porque uma loucura qualquer não me basta, já virou moda e eu queria mesmo é ser diferente, desigual decimal e tudo mais, queria ser coisas que não se é por aí, já que calço o mesmo número que todo mundo, já que gosto da mesma marca de mandolate que todo mundo, então eu queria que pelo menos nisso eu fosse um caso raro, inédito, ou pelo menos underground de uma maneira vistosa, vigorosa, impetuosa e que faça alguém dizer "mas olha só, que figura", então vou ver o doutor e esperar que ele me diga o que fazer pra curar esse troço estranho e esse zumbido no ouvido.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Novo

Mais um rabisco humano chegando, pensara. Talvez não se encaixe da forma como deveria, mas seus pés não diminuíram o ritmo. Após tomar ânimo, partira.
Durante sua caminhada, prestava atenção nas belezas que ali a cercavam.
Viam-se aves e árvores, cada qual com sua própria sabedoria. Sobre seus ombros, avistava um grande morro, onde o sol fazia sua morada. À frente, perfumadas flores e belas macieiras. Enxergava também um velho balanço, já enferrujado devido aos anos de inóspita solidão. Mas tudo era sereno. E tudo era bonito.
Quando se deu por conta, estava parada, sendo analisada por inúmeros olhos.
Para quebrar seu exterior intacto, alguém pronunciou: - Diga olá, menina. Tu não estás sozinha!
E dando um sorriso de lábios cerrados como resposta, sentiu-se bem vinda.

Palavras perdidas

Uma ideia surge e ele começa a rabiscar algo num pedaço de papel qualquer. Palavras soltas, sem nexo, que não dizem nada. Continua a escrevê-las, sem nenhum compromisso ou obrigação de fazer tal coisa.
Após um tempo transcrevendo aquilo que sentia, ou não, leu o que resultara. Aquilo parecia gritar em sua mente, mesmo não tendo se esforçado ou querido dizer alguma coisa. Aquelas letras juntas tinham, sim, muito sentido.
Releu suas próprias sensações uma infinidade de vezes, dobrou o papel, colocou em seu bolso e saiu. Caminhou algumas quadras, viu uma lixeira, pegou a anotação e a colocou fora. “Isso é por demais revelador e não deve ser visto por mais ninguém”, pensou ele.
Continuou a andar e nem olhou para trás. Esqueceu seus pensamentos e não tentou descrevê-los novamente. O papel, onde tudo era revelado, foi destruído ou parou em algum local sem vida, onde ninguém jamais voltará a lê-lo.

O Rei

Enquanto brandia seu brilhante cetro, o rei gritava com seus súditos, que sem se importarem muito com as ordens e muito menos com as punições, continuavam a circular em torno de seu trono a uma distância segura, ouvindo seus decretos abafados pelo barulho das carroças que ali perto passavam.
- Serão condenados a forca todos aqueles que não se curvarem diante do rei ao cruzarem por ele! - gritava, enquanto fiapos de saliva caíam em sua exuberante barba, deixando-o com um ar medonho, afastando a moça que carregava uma criança em um braço e um saco de trigo na outra. Se realmente era trigo, ele não sabia, mas preferia imaginar que fosse.
Amarrado ao lado de seu trono, estava sua montaria, o alazão Cusco, como o rei gostava de chamá-lo. Nome que, ao ser exclamado, fazia o animal erguer as orelhas, olhar para o lado, e parar com qualquer coisa que estivesse fazendo, fosse coçando a orelha com a pata ou lambendo seu próprio traseiro.
E assim segue o seu reinado, até que talvez o frio do inverno faça com que ele não resista em seu gélido castelo de pedra. Mas ninguém vai sentir sua falta mesmo, não é? Sempre haverá um novo rei, assim como por muitos anos fora naquele reino.
E seus súditos não se importarão. Para eles ele é só um velho maluco, sentado em meio a calçada sobre sua caixa de papelão, brandindo aquela velha garrafa plástica revestida com papel alumínio enquanto grita aos ventos seus absurdos comandos, com os quais apenas o pequeno cão parece, mas não muito, se importar.
Que tenha vida longa!

Meus amigos me dizem que eu estou errado


E não é só um, são todos eles.
Quando eu acho que as coisas estão organizadas, eles vêm e bagunçam tudo.
Aí você cresce num lar onde as pessoas te dizem que você tem que conquistar as coisas, e isso se faz trabalhando.
E que temos que estudar pra ser alguém na vida.
E você questiona todas aquelas matérias que você aprende na escola, sobre quando você vai usar aquilo na vida.
Na maioria das vezes, nunca. Mas aquilo te dá uma coisa linda. A capacidade de pensar.
Uau, cognição.
Então, temos tudo definido, vamos estudar, ter uma profissão, comprar uma casa, ter um filho, morrer.
Só que os amigos dizem que isso está errado, muito errado!
Você tem que fazer festa, beber, tocar guitarra!
Existe coisa no mundo melhor que isso?
Eles me dizem que é isso que eu devo fazer, o que eu gosto.
E que as pessoas no mundo são muito gananciosas, só pensam em dinheiro.
Temos que romper com esses valores, temos que quebrar esse paradigma!
Êxito profissional não é sinônimo de felicidade, dá pra viver com pouco dinheiro.
Até que vem outro me me diz que isso é errado, que eu tenho que pensar grande!
Você tem um negócio de família, tem que levar isso adiante!
Você vai ganhar muito dinheiro, sem grande esforço, já está tudo pronto.
Ninguém lembrou de perguntar o que eu quero.
Ok, o que você quer?
Pois é, eu não sei.
Ok, agora eu sei.
Vou fazer um curso, ter uma profissão que me dê satisfação e uma vida confortável.
Vou comprar uma casa, reunir meus amigos, ter uma mulher e uns guris.
Ufa, decidi, é isso que eu quero.
Como assim cara, e não vai mais tocar?
Você está satisfeito com isso?
Poxa, precisava perguntar isso?
Eu não sei, droga!
Meus amigos me dizem que eu estou errado, e todos eles me dizem o que fazer.
É tanto barulho nos meus ouvidos que eu não consigo me ouvir.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Enfim

Talvez num sonho sonhado em alguma tarde, tempos atrás - ou
Tentando me projetar pra lugares que construí na minha mente - ou
Sentindo saudade de algo que eu simplesmente imaginei e nunca conheci melhor que isso;
De alguma forma, por algum motivo, eu me perdi.