quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As pedras e os magos

São vários os motivos que podem levar um sujeito à loucura, nesta época. Um barulho incessante, um mendigo dançante, a tv bandeirantes... O zunido do telejornal das 7 que começa às 8, e as gracinhas sem graça da novela das 8 que começa às 9. É claro que tudo isso foi aprovado pelo Ministério da Saúde, e é óbvio também que o mesmo adverte para os males que tudo isso que ele aprovou, causa. Mas não falemos da causa... a causa não convém.

Acontece que as pedras, assim como os magos, nunca se atrasam, nem estão adiantadas... Elas estão precisamente no momento certo. E estão aqui há muito tempo. Algumas estão a pouco. Estão aqui desde um tempo que não podemos nem sequer imaginar, tal a sua magnificência numérica. Se é que podemos considerar o tempo como algo mensurável por nossas mentes pequenas.

Há quem irá desconsiderar tudo isso também, em função de um único ponto de vista. Fanáticos...

Depois de muito tempo, todas as pedras no caminho, e todo aquele que empurra sua própria pedra, colina acima, para seguir empurrando no outro dia, e no outro, e no outro... Olharão para elas e verão algo mais. Mais uma prova do feitiço que nos impulsiona nessa imensidão universal. E as pedras, ao invés de inimigas, se revelarão como sábias detentoras de pensamentos, algumas com um sorriso outras mais sérias mas não tanto. Afinal, não há nada de errado em celebrar uma vida simples.

Sobre Garoas

Mapa do tesouro; nada me trouxe
O ge pe ésse não funcionou
Nos búzios nenhuma resposta
A sorte do dia se repetia.
Nada solvia a questão proposta

Mapa do espelho; nada mostrava
O doutor não me ajudou
No tarô nenhuma outra pista
A sorte do dia se repetia
Nada alivia o ardume da vista

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Homem de negócios

Quero subir o degrau empreendedor. Ser dono. Quero ser dono de coisas e pessoas, quero fabricar muito, produção em alta.
Vou ter muitos escravos, sim, escravos, pois normalmente eles trabalham contra vontade por um valor injusto, em função do meu lucro. Preciso sobreviver no mercado.
Legal, na negação. Com a lei do meu lado, vou fazer eles comerem o lixo que eu fabrico por um preço especial. Claro que alguns pagarão com a vida. Mas quando o fogo aperta, a moral afrouxa e é aí que queimo os recursos do mundo, depois me viro e me escondo, porque a culpa não é minha, a culpa é do governo que deveria fiscalizar. A culpa é do sistema.

Ainda assim vão olhar para mim como o novo gênio. Percorrerei o caminho para o sucesso.

Sou o regulador cruel que fuma cigarro. Sou o que você quer e precisa ser, sou o grande irmão.
Sou o propagador do genocídio mas não sou culpado por ele, o sistema é que o é.

Sou dono da mentira estampada com o selo oficial.
Sou o único caminho possível.

Sou dono de uma multinacional.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Cavalheiro das Cartas


Havia algo de doce na caixa de correio fincada no gramado da casa sem cerca em frente a padaria. As vezes, Sílvio chegava ali sem perceber para onde estava indo. De repente, mão abrindo a bolsa, notava a caixa vermelha, as velhas letras garrafais anunciando precariamente a utilidade daquela estrutura de metal, e sorria, ansiando bem de leve pelo momento de abri-la e ouvir o rangido que sempre acompanhava este momento. Parou em frente a ela e, supreso com algum sentimento de frustração, notou que nada havia para entregar ali, desta vez.
- Hm...
Há tempos que isto não acontecia. Pensando, agora, percebeu que tinha alguma correspondência para aquela casa todo dia e era isso que lhe dava aquela sensação doce de chegar ali. Ora, para um homem que vagueia tanto por ruas e casinhas indistintas é natural sentir certo regozijo em rever um lugar do qual se lembra de outras manhãs; aquele C, intacto em meio as outras letras quase completamente comidas pela ferrugem, lhe acolhia com um calor inesperado.
Ainda estava parado em frente a caixa, esperando algum motivo para abri-la, e seu pensamento caminhava numa direção que ainda não havia seguido: o quão inusitado era, nos dias de hoje, uma pessoa receber correspondências todos os dias! E, não que ficasse bisbilhotando, mas acabara notando que não eram as tradicionais cobranças e propagandas, porém cartas escritas por pessoas, pessoas que queriam se comunicar com alguém que morava naquela casa branca em frente a padaria. Não com um alguém; sabia muito bem como ela se chamava, afinal, as vezes depositava os envelopes com o destinatário virado para cima e, sem querer aqui, nem ali, acabara adivinhando o nome do ser vivente: Leila, como a moça de quem gostara no colégio e que foi morar no Alagoas, onde concluiu o segundo grau.
De qualquer forma, comunicar-se por carta é um hábito louvável, de singela beleza, acreditava Sílvio, otimista; ele, que pegava tantas cartas nas mãos, nenhuma para si. Ele, Sílvio, carteiro há 4 anos, nunca recebera um obrigado por entregar a correspondência tão bem entregue. Não costumava pensar nisso, nem esperar que lhe agradecessem, mas... ele agradecia a moça da padaria, quando ela lhe alcançava um copo de suco de goiaba ou uma taça de café com leite sem açúcar!
“Sou um agente invisível”, pensou. “Não um profeta, mas um carteiro. Os outros falam através de mim, mas eu não sei o que dizem, e o narigudo do telejornal transmite as notícias mas ele também as escuta e eu, eu não sei de nada, eu conheço a carta pelo lado de fora, se é verdade ou mentira eu não sei, não sei dizer, sei que ela não estaria ali sem mim, alguém tinha que entregar, trazer até onde deve chegar e sou eu que faço isso, sou eu, o Sílvio, aquele que entrega cartas pra viver, não por gosto nem por esporte, nem pelo benefício da caminhada e de uma vida bem arejada, sou o Sílvio que entrega as cartas pra ganhar uns trocos e sobreviver, pra estar vivo amanhã e depois e entregar outras cartas, e depois ter mais pra entregar, porque enquanto eu entrego, alguém escreve, cada um com seu papel, eu entrego mas não leio nem escrevo nem recebo, eu pego ali e levo pra lá, é isso que eu faço, é a entrega da correspondência, pra me entregarem um salário que eu entrego no caixa do mercado, na farmácia, no consultório, na borracharia, no raio que o parta, em qualquer merda de lugar que me ajuda a sobreviver mais um outro dia, um outro dia no qual eu vou entregar uma outra carta, um pacote, qualquer porcaria, na casa de algum incauto que não vai me dar bom dia, que não vai saber que sou o Sílvio, só o carteiro, isso eles sabem, porque eu me visto declaradamente como isso, pra representar o papel que eu aceitei, por ser um agente invisível da comunicação antiquada, no charmoso hábito de mandar uma porra duma carta dum lado pro outro, pro paspalho aqui entregar, o Sílvio, que não tem nada a ver com o que eu quero dizer pra alguém que ele não sabe quem é, porque ele só conhece a caixa de correio e nunca vai bater nem na porta da casa onde ele vai entregar cada uma das cartas que ele tem naquela bolsa feia e pesada que ele tem que carregar pra lá e pra cá, esperando o dia acabar pra se preparar pro próximo, onde ele vai fazer o mesmo que fez no anterior” e nisso abriu, com raiva, a tampa da caixa do correio da casa de madeira em frente a padaria, só para ouvir de novo aquele barulho e detestar as vezes em que gostou de ouvi-lo.
Preso à tampa, um pedaço de folha de caderno trazia uma mensagem escrita em caneta azul;
Dizia “Obrigado”, e ao lado dela estava uma carinha sorridente desenhada.
Puxou o bilhete, tirou-o da caixa, enquanto desfazia a carranca. Guardou-o no bolso de trás da calça, enquanto começava a sorrir. Pegou de volta, rasgou em dois e guardou de volta a parte maior, onde estava escrito o agradecimento. Tirou a caneta do bolso da camisa, escreveu “De nada” na outra parte da folha e colocou-a de volta na caixa de correio. Baixou a tampa, voltou-se, caminhou e seguiu descendo a rua pela calçada, procurando o próximo endereço.
Havia algo de doce naquela caixa de correio.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Adão e as pílulas

    Adão tomava, com certa frequência e certa fé, uma larga pílula verde alaranjada com sabor adocicado. Rapaz, aquilo era bom demais. O efeito que tinha sobre ele, obviamente positivo, era de um poder incrível. Esta maravilha medicinal ele a trazia consigo, para o caso de uma dose fazer-se necessária em momentos imprevistos. Pois, segundo ele bem sabia, aquele remédio era prescrito a todos e a qualquer um, e não há de haver quem desaprove o seu sabor.
    Engolindo frequentemente aquela magia, sua mente estava inexoravelmente ligada ao efeito que aquilo produzia, seu pensamento seguia o fluxo que levava a droga, aquela linda droga, pelo seu sangue, pelo seu corpo. Com o passar do tempo, via naquela pílula uma resposta além de qualquer dúvida e ali estava sua mensagem para o mundo. Ora, passara pois a receitar este remédio a seus próximos, àqueles que amava ou queria bem.
    Jorge, seu compadre, aceitou de imediato a sugestão, enfiando na boca a pílula que Adão lhe alcançou logo na primeira vez que tocou no assunto. E ela entalou na sua goela. O sabor era horrível, até mamão tem gosto melhor, Jorge constatou. Isso magoou Adão profundamente; ocorria ali uma ofensa à maravilha de sua vida, a pílula fantástica que mudou sua mente e seus dias. Descartou aquela que fora cuspida por Jorge e insistiu que ele provasse outra, proposta que foi aceita com alguma relutância. E era a mesma coisa. "Não pode ser", ele pensava.
    Deixou de lado aquele infeliz e buscou outros companheiros para compartilhar a pílula: vizinhos, amigos, sua esposa e seu filho; seus colegas, seu patrão, sua sogra e seu irmão. Alguns gostaram, outros não. Outros ofereceram suas próprias pílulas, as quais Adão não foi capaz de aceitar e nem imaginava que tomassem. Outros, principalmente os mais próximos, ele tentou fazer engolir a força, enfiar goela abaixo.
    Tempos depois, o mais comum era que este assunto, a ingestão do que era oferecido por ele e por outros, acabasse quase sempre em briga, sempre em discussão. Entre malefícios e maledicências, jamais era obtido algum acordo e as relações com quem discordava daquela prática eram difíceis, tempestuosas.
    Um dia, envolveu-se nas tais contendas um antigo amigo de Adão que era médico, o doutor Dario. Quando o objeto da discussão foi exposto, ao perceber do que se tratava, ele resolveu estudar o vidro de remédio e seu conteúdo por um instante. Adão, que respeitava a opinião de seu amigo, ficou estarrecido ao receber o parecer. Aquilo era bala de funcho.

O problema do Outro...

O problema do Outro, ocorre quando encontramos Ele.
O problema do Outro, ocorre quando projetamos n'Ele nossas expectativas.
O problema do Outro, acontece quase sem querer, mas só acontece se a gente quiser.
O problema do Outro, acontece quando estranhos passam na rua, e por acaso dois olhares se encontram...
O problema do Outro, ocorre quando queremos que Ele pense e aja como nós mesmos.
O problema do Outro ocorre quando 'Nós' e 'Eles' são partes diferentes da mesma coisa.

O problema do Outro ocorre.

O problema do Outro, ocorre porque cada um é um universo...
O problema do Outro, ocorre porque todas as pessoas morrem, mas nem todas elas vivem.
O problema do Outro, ocorre quando eu julgo saber de algo absoluto.
O problema do Outro, ocorre quando eu quero ser seu dono, tirar-lhe a liberdade, cercá-lo com o Muro dos Relacionamentos...

O problema do Outro, ocorre.

Mas o problema do Outro, pode ser você mesmo...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nem um sinal

"Amor é a resposta."
Foi o que um grande amigo dizia, enquanto sentado sobre a pedra fria eu pensava no fim, esperando que o mensageiro trouxesse seu sonoro chamado. Mas ele não veio em momento algum.
Ele não estava lá para me trazer um pingo de tranquilidade. Não conseguiu fazer seu caminho pelos números. Não está aqui, agora, enquanto escrevo este texto.
Enquanto as faíscas de fogo cruzavam o céu de forma ameaçadora, nem um sinal.
Enquanto as nuvens passavam e traziam a visão da lua, nem um sinal.
Enquanto pingos sinalizavam a volta delas, nem um sinal.
Por instantes permiti que as gotas caíssem em meu rosto, de olhos fechados, pensando em um arco-íris. um arco-íris que simplesmente não iria aparecer ali, que não me brindaria com suas belas cores, com o qual eu ocupava minha mente incessantemente. Ignorei por um momento o som, que mesmo tão perto, parecia tão distante.
Observei o amigo que havia me dito a frase inicial. Ele mirava algum ponto entre a paisagem a sua frente e o limite da sua imaginação. Mas eu sabia que os nossos pensamentos paravam em lugares semelhantes, a um, dois, ou dez passos de distância, talvez. Mas para ele, o mensageiro havia chegado, deixando-o com um sorriso estampado no rosto.
E para mim, nem um sinal.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Cael

A beira do penhasco, ele agora se encontrava cercado, sem outra opção, exceto a imensidão do paredão rochoso que se estendia verticalmente à sua frente e, dezenas de metros abaixo, o chão. Fitou por um breve momento o horizonte, lembrou-se do motivo que o trouxera até ali e sorriu. Com mais um rápido olhar por cima do ombro esquerdo, observou parte das pessoas que ali o cercavam e, ainda com aquele mesmo sorriso estampado em seu rosto, impulsionou-se para frente, deixando para trás faces perplexas, que provavelmente nunca poderiam entender o motivo pelo qual ele saltara.
Caía, porém não sentia medo, sentia apenas felicidade, sabia que aquele não era o seu fim, sabia que nada poderia levá-lo daquele lugar antes que encontrasse o que buscava. Apreciou cada instante da queda, do vento, do sol, recordando muito do que havia passado até chegar ali, aguardando ansiosamente que o seu objetivo estivesse logo em frente.
As rochas lá em baixo se aproximavam, fechou os olhos.

Aos Antigos Caminhos III

Cadê a lua?
Cadê a paz?
Pra onde foi aquela menina, que espalmava as mãos sorrindo, deixando o pó para trás?

Aos Antigos Caminhos II

Cadê o sol?
Cadê a luz?
Pra onde se foi o pequeno garoto, cujos mistérios ninguém traduz?

sábado, 5 de janeiro de 2013

Sempre há alguém para tentar te convencer...

Você é um merda!
Não.
Você é um merda!
Não.
Você é um merda!
Não!
Você é um merda!
N...Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!Você é um merda!

Talvez eu seja...