terça-feira, 4 de setembro de 2012

Caminho

A trilha era cheia de obstáculos: pedras, tocos, buracos... Além de se encontrar num local íngreme. Uma vegetação rodeava o caminho, onde flores eram tocadas por abelhas, borboletas e beija-flores. Seguia por ali sem muito reparar no que lhe cercava, já que almejava, apenas, o fim da trilha, criando coragem para realizar aquilo que tinha em mente. Queria muito, se prendeu nesta ilusão.


Não levava nada consigo, pois não precisaria. Seriam alguns minutos para pensar e realizaria seu grande feito. Seu maior ato de coragem, quem sabe, já que nunca foi dominada por ela. Algumas coisas passavam em sua mente: Estava realizando o correto? Isso seria covardia ou coragem? Não tinha as respostas, mas havia tomado uma atitude.


Ela já diminuía seu passo quando um raio de sol iluminou uma parte do caminho, o que a fez observar a beleza que a contornava. Seguiu, apesar de maravilhada com o espetáculo da natureza, onde pássaros pousavam nos galhos das árvores, o perfume da flora encheu seus pulmões e o barulho de um córrego distante chegou aos seus ouvidos. Um leve sorriso surgiu em seu rosto.

Continuou o caminho, porém um novo olhar apareceu em sua face. Mais formosuras se revelavam a cada momento: o voar de uma borboleta, as pétalas caídas de uma margarida, o bater do vento na copa das árvores, os raios de sol ultrapassando a vegetação e iluminando as pedras. Tudo parecia tão belo, tão diferente, tão iluminado. "Não, não devo admirar a beleza. Vim para cá justamente pelo contrário: o feio dominou o mundo, só o ruim faz parte do cotidiano e a tristeza deixou tudo cinza.", esbravejou.
Logo à frente, depois de uma grande elevação, se encontrava o topo do penhasco. Chegou esbaforida, sentou no chão e ficou olhando para a grama. Fantasmas, antes escondidos, surgiram com maior força. Pensamentos sombrios e ideias lhe dominavam. Queria acabar logo com aquilo.

Encaminhou-se até a beira de uma grande pedra e olhou para baixo. Um abismo se encontrava ali. "É chegada a hora, me vou.", disse. Abriu os braços, olhou para a frente e assim ficou. Não conseguia acreditar no que via. Não entendia a maravilha que tinha ignorado por tanto tempo, tudo que havia deixado de admirar.

Sim, o sol, que já se localizava no horizonte, estava se pondo. Com sua coloração alaranjada, descia através do céu. Apolo, junto de sua carruagem de fogo, deveria ser o responsável por aquilo, pois só os deuses seriam os autores de tal obra de arte. Os tons, as luzes, as nuvens acompanhando o conjunto... A maravilha era de encher os olhos.

Mais elementos completavam a obra: o astro rei estava se encontrando com grandes campos verdejantes, os quais se perdiam de vista. Constatou que as coisas não eram tão ruins quanto imaginava, beleza existia e era infinita, bastava olhar ao redor. O rosto, que antes lutava contra a tristeza, passou a estampar um sorriso largo, cheio de vida. Um sopro de alegria chegou em suas narinas e seu olhos passaram a brilhar.

Agora, afastada da beira do desfiladeiro, viu o quão fraca estava, como sua alma estava cinza e sem vida. Havia se deixado abalar por nada, por egoísmo, por capricho. Agora, sim, tinha coragem, não para pular, mas para caminhar até o horizonte. Coragem para seguir a vida, o belo, seus sonhos.

Sabia que o caminho teria locais sombrios e dias de tempestade viriam. Porém, viu que existia algo positivo nisso: admirar as pequenas coisas e sentir que o caminho, apesar de tortuoso, a fortaleceria. Deu o primeiro passo para o desconhecido e seguiu em busca do horizonte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário