terça-feira, 18 de setembro de 2012

A estrela

Anos atrás, uma menina sorria em frente ao balcão. Os olhos furiosos de seus pais lhe encaravam, enquanto acertavam com a atendente o imenso prejuízo que a criança causara àquela loja.
Mais uma vez havia corrido demais, falado demais, causado imensa vergonha para com seus parentes, os quais não entendiam o porquê daquele ser tão pequenino conseguir causar um estrago tão grande.
Quebrar objetos valiosos, derrubar torres de comida, bater em colegas, fingir-se de inocente... Ser a menor e mais jovem não a impedia de realizar tais feitos magistrais.
E todos se encantavam e lhe diziam que possuía uma estrela; que ela ainda era minúscula, mas já brilhava; faltava apenas crescer. Transformar-se-ia somente em luz. E o dito condizia, pois parecia ter sido instalado fiações ao redor da menina.

Passaram-se primaveras. Não fazia mais uso daquele cabelo escorrido, nem da franja reta lhe cobrindo os olhos. Sua visão ficara mais intensa e sua mente ganhara uma amplitude ainda mais luminosa, mais desejada. A necessidade de estar sempre em movimento, continuava, mas já não era algo que predominava. Destruir brinquedos, iniciar guerrinhas juvenis, se meter em conversas de mais velhos... Era o que pouco existia. Subira alguns degraus e sua estrela aumentara de tamanho.
E todos lhe doavam abraços e afirmavam que serias grande. E continuavas reluzente; parecia um holofote. Seu interior encapetado e seu rosto angelical pediam por atenção. Ansiavam por palmas e sorrisos, e os conseguia. Habitava em si algo cândido, sincero. Não eras má, apenas feliz.

Vieram alguns invernos. Junto deles, tempestades, jorrando tinta negra por cima de toda sua luz. Ocorreu, então, o início de uma série de cortes de energia em sua constelação. Quem imaginaria que, a suposta criança que enxergava tudo com seus imensos e curiosos olhos, não veria o abismo de escuridão que estavas por vir.
E todos, agora, lhe viravam a cara por conta das decorrências. E não existia mais esperança de uma Via Láctea em seu caminho. 


Por onde andaria a falante dona das encrencas? Aquela causadora de afeto, que, incessantemente, vivia por perguntar sobre a origem de tudo.
Desejemos que ela ainda exista. Escondida, em algum lugar secreto.
Sabe-se lá onde. Até então ninguém desvendou seus mistérios. Um levantar de sobrancelha continua sendo pouco para quem tenta desenredar seu interior.
Será que a menina sorridente do balcão sentiria orgulho da adulta que se tornara hoje? Deve ter esperado mais daquela que segurava todo o brilho do mundo nas mãos.
Mas era peso demais, não suportou carregar sua estrela. Deixou-a cair; sua luz acabou por se apagar.   


E nem todos, mas, alguns, torcem para que não tenhas se apagado completamente. Porque aquela pequena deves continuar ali, agarrada àquele corpo astral que lhe fora dado na infância. Mesmo que agora ela olhe para o horizonte e não pronuncie nada.

É incerto, mas, talvez, com apenas um clique, ela se acenda novamente.

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