sábado, 21 de novembro de 2020

A primeira vez

No início eu me perguntava se eram homens ou macacos. Parecia muito real. Era bonito, era esquisito.
Mas eu sempre fui esquisita nos gostos. Com filme não ia ser diferente. Era um milagre eu já não o ter assistido com o meu pai antes.
Cinema mudo, acho que chamavam. Mas era bonito. Eu preciso tomar cuidado. Se tivesse ido no programa do abu, eu teria dito que choro diante da beleza, sem dúvida.
Depois dá uma confusão. Claro, macacos entediados, é assim agora, teria sido assim no início também.
Aí vem a pancadaria e jogam o osso pra cima... E eu pude entender um dos momentos mais incríveis da história do cinema.
Um salto. Uma viagem. De macacos a astronautas. Da superfície ao espaço. Somente na imaginação mais viva.
E começava a dança cósmica. Danúbio azul. Eu teria apostado que nunca iria funcionar, mas lá estava. Me fazendo ver como eu ainda era ingênua na arte de falar. Mas falar não se resume a só palavras, como eu mesma aprendi naquele momento.
Uma orquestra, uma arte milenar. Tudo em perfeita harmonia. Uma celebração da humanidade.
E assim como em outros poucos momentos da minha vida, era possível olhar pela janela do meu apartamento, em meio a tanto desastre e angústias, tristezas e sofrimento... Olhar o céu infinito até as estrelas e os astros... E acreditar que o futuro é lindo.
Pois alguém, há muito tempo atrás me convenceu, naquele preciso momento, através de suas palavras silenciosas.

Sorri.