sábado, 18 de junho de 2016

Se eu pudesse quebrar em mil pedaços
o que quer que fosse
sem precisar juntar os cacos,
o que restaria intacto
aqui,
agora,
a meu redor?

Intervalo

Julia!
Foi o que ela disse. Não sei quantos minutos tinham se passado, dez ou doze, talvez dezessete. Eu estava no carro, no banco de trás, depois estava no ônibus, olhando pra trás, por fim no metrô, olhando para um hipster-retrô, sem muito amor. Aliás, amor nenhum. Um pouco de desprezo até.
Para resumir, eu estava viajando longe, longe dali onde estávamos sentadas. Tentei não pensar que era mais um dia cinzento, e nesse meio tempo estive torcendo para meu café não esfriar. Intervalo. Estava doida por um cigarro, e muita vontade de soprar fumaça na cara de um pessoalzinho a troco de nada, mas não na cara dela.

Eu gosto da Aline.
Era gente boa, mas curtia muito falar sobre os outros, sobre dinheiro, sobre quanto gastaram e o que fazem em seu perfil na rede social. É. Sempre tem um 'mas'. Não tem uma frase que diz que gente inteligente discute sobre ideias e não sobre pessoas? Não sei como eu gosto dela. Talvez seja justamente por nossa diferença.

Julia!
Ela disse de novo. Eu devia estar com aquele meu olhar vazio pro nada, como quem acorda cedo no inverno e não quer levantar. Olhei pro meu café, estava no finzinho. Depois olhei para aquele rosto me olhando, me analisando, me diagnosticando, quase como os médicos dali. O quê? Perguntei. Tomei o último gole de café gelado. Acho que aquele gosto estava parecido com a minha postura diante de tudo o que ela falava antes. Gelado e amargo.
Parece que tu não tava aqui sentada, te falei um monte de coisa e tu meio que desligou.
Sorri com a metade da boca e me levantei.
Não, eu to tranquila. Respondi no meu melhor estilo, evasiva, pra evitar ter que falar sobre o que eu não quero, sem parecer que não me importo.
Não ouvi uma palavra do que ela havia dito.
Não me interessava.
Eu não tinha nada pra falar.
Era o fim do intervalo, de volta ao trabalho. Virei as costas e saí pelo corredor.

terça-feira, 14 de junho de 2016

E teus princípios?

Pois bem. Ele disse. Quem? não sei. Bem ou mal, faz-me rir.
Ali onde a coisa enrosca, e não é preciso muito pra ver.
Nunca pensou muito, isso é coisa pra dois ou três, mas gostava de uma tabela pronta. A ética. E o que era afinal? Mais uma coisa para se reclamar. É a crise. O preço. Um apreço pela reclamação. Há preço? Ao contrário de deus, há. O adeus que nunca deu. Pois, nunca vão embora os incomodados.
Há quem se retire, em um retiro, de muita tranquilidade. Aliás, retiro o que disse. É difícil se controlar quando é mais fácil falar da boca pra fora, e enunciar verdades para um mundo externo de impermanência que, quando você pensou em dizer, não mais lá está tal mundo para que seja enunciada verdade alguma sobre o que quer que seja.
Seja você, dizia a letra. A letra que na verdade é composta por texto composto por palavras compostas por letras, e essas sim, por fim deveriam receber o nome em questão.
Mas para o desenrosco é necessário mais que falar inutilmente. Mais que princípios.
E os seus princípios?
A pergunta que não cala. No entanto, me calo em riso silencioso cada vez que ouço ou me lembro dessa fala.
No fim, não há o que responder.