sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Hell march

Avança a marcha infernal. A porta dos desesperados.
Solução mágica, instantânea. Saudação. Meia-volta volver!
Armas para todos, dedo no gatilho. Coração vazio e esperança enforcada. Se não mudar de ideia, baixa a porrada!
Mitos perversos ressurgindo como salvação da humanidade. Ideias antigas, apresentadas como novas e eficientes.
E aqui do meu casulo entre quatro paredes eu observo. Que também tem fumaça e fogo. E também mata, mas apenas a mim e só mata aos poucos. Mas a ameaça que apresento está atrás desse cabelo pintado, dessa cara lavada e boca escovada.
Vejo amigos e familiares em comemoração enquanto a marcha avança. Em defesa da vida e pra botar ordem na casa.
Fazia tempo que não sentia medo.
Fazia tempo também que avisei que isso ia dar merda.
Saiu o time da seleção, com camiseta da cbf, pra entrar o outro time, o time da solução. De arma na mão. Porrada na vagabundagem, pois a culpa não é minha.
E fica cada vez mais difícil definir quem merece morrer e quem não. De bens ou de bem, que cidadão que merece perdão? Que deus abençoe. Aí já se trata de outro exército.
Vão aumentar os plantões e vou ter bastante trabalho.
Se é que não vai espirrar nada em mim.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Sorte do dia

A lua inconstante, muda o semblante, enquanto as faces coladas trocam de fase em suspiros e pausas. 
Algumas frases de vida se unem, as peles de tom semelhante se entendem e o corpo se estende ao som de fortes batidas. 
Enquanto a energia se renova, sorrisos crescentes. Cores quentes imergem à imensidão.
Nunca antes vivido um encontro tão único. Estes, sim, chamados únicos. 

Sós.
Nós.

Que sorte.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Obstáculos

Não há nada que separa o desejo da lembrança. Mas se trata de droga perigosa essa, mais que o cigarro, mais que a maconha, o álcool, até mesmo os prazeres sensoriais. É peça pregada.
Sonhei a noite passada que brincávamos de esconde-esconde pelas cascatas, éramos tão jovens. Éramos tão mais alegres, os pés sujos, as caras lavadas, pra pular a cerca do lugar onde não devíamos ter ido. Propriedade particular. Lembrança privada. Talvez sonho coletivo. Chegar em casa e levar um puxão de orelha do meu pai, nossos olhares se encontrando após, contendo o riso sapeca.
Acordei com uma vontade de repetir o feito, voltar no tempo uns dez, doze anos, pra antes da catequese obrigatória e o início das aflições. Trocar o uniforme por um biquíni, correr pelos campos de mãos dadas, fazer promessas idiotas de se casar no futuro, nutrindo um amor quase de verdade. Lembrei que nos esquecemos de fazer uma cápsula do tempo, enterrar debaixo de uma árvore pra desenterrar dez, doze anos depois. Melhor tentar conter a lágrima nostálgica. Nem mais deve estar em São Chico, nem mais deve existir cascata, deve estar em uma outra selva de pedra como eu, acordando de sonhos memoráveis com vontade de voltar atrás.
Mas não me olhe assim, guria. Tu sabe tão bem quanto eu, que a chance de eu estar certa é maior.
Igual, se rolasse algo, ia ser mais uma decepção ou então só mais uma aventura infrutífera de curta duração.
E ela já levantava me olhando com aquela cara alinesca de reprovação e indício do meu azedume já conhecido.
Queria ser como ela, no fim.
Queria ser uma boa amiga.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Shhh

Ironicamente, ainda não estou pronto para ele. Talvez seja a música, minha dj da criação, se é que dá pra chamar de criação este ato de cuspir da mente pro texto. Em alguns contextos, mais parece destruição, desconstrução, fragmentação. Ótimo! Poder olhar para pequenas partes e apreciá-las melhor do que aquele todo confuso e difuso, aquela floresta de ideias borradas pela miopia de uma mente inquieta. Que nesse momento de agitação mental algo se elucide e na calmaria a seguir eu possa apreciar serenamente algo que nunca tinha percebido na confusão que se segue dia após dia.

Scataplam!

Zook pode ser chamado de Nook, então nunca se sabe. Sebe, a cerca que nos cerca já vai alta demais, já é tarde demais, mas somos tão jóvis, eu já tenho 30, nunca NUNCA NUNCA NUNCA mais terei 20 e poucos, nem mesmo 20 e muitos, é passado, estou bem passado, torrado, defumado pelas letras e pelo sol que brutaliza meus meio dias e as saídas em busca de comida, por ruas sem nome, matando a fome, matando o tempo, matando as células, carcinando, o dia passando, a tarde chegando, malpassando de vez em quando, ultimamente melhores, algumas sonolentas, pança cheia e mente vazia, mas o que importa é o saco, saco suado, as tardes são quentes e as noites ventosas, secando o suor, chovendo é melhor, o que importa é a cara, o que importa é atitude, o que importa é o porto, o que comporta, se bem comporta, belo porte, belas tetas, boas ideias, anote para nunca mais, há mais, mais o que dizer, mais o que pensar, não sei se importa, que importante seria dizer, dizer, dizer, contar como eu me sinto, mas não consigo sentir nada além dessa vontade de sacolejar, não posso acreditar em um deus que não saiba dançar, faz sentido, sabichão universal tem que saber os rituais pagãos, saber mexer os quadris, está tudo nos quadris, são eles que importam, são eles que portam e parem, parem de inventar coberturas, desenhar arquiteturas, parem de esconder parede a dentro, cortina a fora, parem de guardar seu sorvete para mais tarde, parem, ele derrete, chupe agora, chupe, engula, engole tudo, manda ver, quero ver, quero mais, sempre mais, chega.