quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pontas (nós)

Somos pontas, somos sobras.
Partes que não se encaixaram, objetos que não ficaram no padrão fabricado.
A velha história das ovelhas negras... sim, os lobos não gostam da nossa diferença e nos apontam como erradas para aquelas que não souberam olhar em volta.
Cada um de nós é a peça que sobrou da caixa de um velho quebra-cabeça diferente, por não fazer parte da figura uniforme formada por ele.
Justamente as nossas formas excêntricas, cantos tortos, as falhas ao nos copiar, o erro na fabricação de mais um clone indistinto, justamente o nosso não encaixar fez que nos juntássemos. E uma das coisas que nos mantém unidos é o fato de não nos querermos espalhar, neste amontoado de corpos de plástico e mentes murchas. Porque não há razão para ser apenas mais um, quando se pode ser único.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Egocentrismo.
Todo mundo despreza, e todo mundo pratica.
Sempre se perguntava se estava fazendo o que era certo.
Se devia ser honesto consigo mesmo e curtir a vida,
ou se devia pensar mais no futuro, no que era certo, nos que os outros pensavam.
Tinha medo de errar o ponto, de pender de mais para um lado.
Mas continuava, continuava vivendo, apesar da sombra dessa duvida.
Tinha tanto medo de machucar os outros.
E a sensação de estar perdendo algo a acompanhava sempre.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Siga

Deixe as lembranças guardadas, saia e traga novas companheiras para as antigas recordações.
A nossa mente só foca uma coisa de cada vez. Não há porque dedicar dois momentos a mesma coisa.
Se você pudesse mudar?
Se você pudesser ser outra pessoa, morar em outro lugar, ter outra situação economica, outra familia, amigos, bagagem, personalidade. Se você pudesse ser qualquer coisa, viver de qualquer maneira?
O que você faria?
Você vive e assiste a si mesmo.
Você conhece os caminhos. Vocês sabe a verdade.
Mas só observa a você mesmo seguir seus desejos.
Se permite errar, ve seus erros e acertos,
com a paciência e um sorriso de um pai.
Ele amava,
ninguem entendia.
Era muito pra esse mundo.
Coração muito grande,
mente muito aberta,
muita energia pra gastar.
Insaciavel, queria tudo.
Saber tudo, entender de tudo, ouvir, ver, amar tudo.
Queria viver, viajar, experimentar, se expressar, se divertir, ser ele mesmo, ser feliz.
Amava a vida, queria dissolver-se.
Fundir-se com a natureza, os amigos, a arte, a filosofia, o universo.
Queria ser um com o cosmos.
Ele queria tudo, não sabia ser menos,
não sabia parar.
Não entendia limites, correntes, barreiras.
Não podia ser podado, era uma alma livre.
Mas uma alma livre presa a um corpo de carne e osso.
Aos limites do tempo e espaço. E as regras de uma sociedade atrasada.
Incompreendido, censurado, pressionado, difamado. Apanhando de novo e de novo.
Assim corrompemos e perdemos outra alma de ouro.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

É...

Talvez o tolo só quisesse saber para onde o dedo apontava...

Engenheiro (O)

Todas estas coisas devem estar ligadas a mesma engrenagem;
O sol, a lua, os ponteiros do relógio e essa esteira estranha na qual eu ando, obras de um engenheiro maluco.
Pois o tempo é leve e louco - corro com força para aproveitar melhor os momentos que tenho, mas a esteira roda e gira a engrenagem, mexe os ponteiros do relógio, empurra o sol e puxa a lua, tudo vai embora com pressa. E quanto mais eu corro, para aproveitar o pouco que resta, mais rápido tudo vai adiante, me deixando sem saber quem segue e quem foge. Talvez os dias só estejam com pressa para conseguirem acompanhar o ritmo dos meus passos.

Meus cabelos caem junto com as folhas do calendário e a linha do meu olhar. Mas as minhas rugas serão bem-vindas, pois as terei cedo de tanto sorrir.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A sombra do Monolito

Aprender é lembrar de uma coisa que ainda não sabíamos...

Fantasma

Depois de tudo, ela surge do nada.

Um sorriso e um cigarro;
Não, não tenho fogo, sinto muito...
Caixa de fósforos, fogo, fumaça, sorriso, silêncio;
Retribuo sorriso;
Oi, como vai?
Sorriso, silêncio, olhar vago;
Fala minha língua?
Sorriso, silêncio, olhar vago, mão carinhosa;
Ah, tá... bah, agora não dá mais, chega dessas coisas...
Mão no cabelo, carinho no rosto, abraço;
Não, não é por mal, mas já é hora...
Retribuo abraço;
Onde tá a faca?
Abraço solto, sorriso, silêncio;
Ah...
Sorriso, silêncio, se vai;
Ah...

Nem uma palavra, nenhum sentido, nenhuma expectativa.
Um fantasma veio e se foi, de mão gelada e corpo quente, sorriso amável, olhar chapado, mente distante;
Uma lembrança curiosa, de alguém que não se lembrará.
Mas ficarei gravado no seu subconsciente, memória que ela não teve.
O fantasma serei eu.

domingo, 11 de outubro de 2009

Chama-se de louco quem faz algo que não se entende. Chamar alguém de louco é, então, chamar a si mesmo de estúpido.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

É claro

Um homem sentado em uma cadeira, em frente a uma pequena mesa redonda. Em torno da mesma mesa, mais três cadeiras, todas desocupadas.
- Oi, posso pegar uma cadeira?
O jovem, que acabou de chegar, pergunta, depois de ter passado e cumprimentado seus sete amigos e amigas que estavam mais perto da entrada do bar. A cabeça do homem se movimenta para dizer que sim. O rosto diz que tanto faz. O jovem agradece com um sorriso curto e despretensioso, vai para junto dos amigos.
É claro que pode, pensamos, de perto dele. O sujeito está aí há tempos, bebendo sozinho esta cerveja ou a anterior. Ninguém veio sentar com ele e nem virá, parece. Coitado.
"É claro que eles não entendem", pensava ele vendo nossas caras de uma quase compaixão que era, obviamente, insuficiente para nos candidatarmos a lhe fazer companhia.
É claro que não podemos entender que ele não esperaria amigos num bar, não guardaria assentos para eles. Porque eles não os conseguem usar, porque eles não precisam deles. Eles circulam por lugares onde as cadeiras não param de pé. Onde os homens não param de pé.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ele chegou, comprimentou os amigos e avistou ela.
Ela sorriu, gostava dele. Se sentia bem em sua presença.
Ele sorriu de volta, tomou coragem e foi falar com ela.
- Oi, tudo bem?
- Tudo, e contigo?
- Tudo certo. Sabe, to querendo falar contigo faz um tempo. A gente se conhece faz pouco, mas sinto que te conheço muito bem, somos muito parecidos. Vamos sair para conversar, tomar alguma coisa?
Ela virou as costas e foi embora. Era claro que ele era igual aos outros.

domingo, 4 de outubro de 2009

O Operário da Grande Operação

Quebra, se quebra, cola, corta, monta
Se muda, se acerta, cabeça já tonta
Braços de muitos, trabalha sozinho
Mão ferramenta não sabe dar carinho

É...

Há algo triste atrás daqueles olhos...
Hm... vamos fazê-los sorrir!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O senhor que saiu do seu caro carro com cara de triste assim me fez pensar...

Na verdade, o meu maior medo é saber do brilho da juventude em meus olhos ser substituído pelas rugas de uma sabedoria amarga, sem descobrir, depois de todas as facadas que me levaram, pelo que procurava eu, nesse tempo todo, olhando em frente, ao horizonte, ignorando as pedras e as flores que pisei. Saber que as doses de tristeza, que eu engolia e trocava por um sorriso, se plantaram em meu rosto, que agora é velho e morto. Saber que eu só tinha uma chance e a desperdicei.