quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Alguma emoção cívica ao ouvir o hino nacional?

    Eis a questão. Lambedores de botas e fetichistas militares dirão que a resposta é um sonoro SIM, carregado de uma emoção positiva em lembrança a um passado glorioso que jamais existiu. Odiadores da história como são, repudiam a noção cada vez mais realista de que o passado nada mais é, senão um vórtice de coisas absurdas que até hoje respingam no compasso moral da sociedade, se é que ainda existe um.
    Uma família de retardados em uma posição de poder, praticando crimes de modo quase diário. Um velho idiota dono de uma loja absolutamente patriótica, patriota para os Estados Unidos da América. Um presidente. O menor presidente do mundo. O mais fanfarrão no pior sentido possível. Um criminoso, um assassino. Propagador de pseudo-ciências, assuntos falsos e violência sem sentido. Pois afinal existem muitos inimigos do Brasil, todos querendo implantar o comunismo a qualquer custo dentro de uma idéia ridícula e paranóica suportada por outro velho ainda mais ridículo que odeia o sus, mora nos EUA mas no primeiro sinal de saúde frágil vem ao Brasil se tratar exatamente no lugar que mais despreza, pois afinal o país desenvolvido onde mora não tem nada parecido com o sus, e lá precisa pagar caro por saúde, assim como ele julga ser o "justo" a ser feito. Não com ele, mas com a maioria pobre do Brasil que por sinal já banca quase tudo o que é feito por aqui. Bolsonaro e Olavo de Carvalho, que dupla. Haja chapéu de alumínio.
    Claro, vão me dizer que 'futebol, política e religião' não se discutem. Por isso que a religião é quem manda, a política vira futebol e o futebol serve de sobremesa no jornal do almoço. Um anestésico pro povo avulso, depois de uma enxurrada de merda, causada pelo protagonismo do mito, uma merda, um xurrio, tão grande a ponto de respingar pra fora do brasil. Mas daí é muito legal, porque além de ser uma piada sem graça aqui dentro, vira uma piada ainda mais sem graça lá fora. Afinal, se relacionar bem com outros países não cabe para o menor presidente do mundo.
Semana passada fiz a segunda dose da vacina. Sou privilegiado. Diferente de um tio meu, que foi entubado e faleceu. Diferente de vários amigos e amigos de amigos. Porque o governo patriota achou por bem fazer esquemas de compra de vacinas, fazer piada com quem tem falta de ar e atrasar vacinas até mais baratas. Sem falar em usar os próprios brasileiros como cobaias pra um remédio que não serve para o contexto, acusando outros de fazer exatamente o que eles fizeram com o tema: politizar. Acontece que para quem diz odiar a política é exatamente assim que funciona, não é porque odeia a política ou não quer ver política, mas busca uma política bastante específica. Nesse caso, a pior possível.
    Esse brasil profundo que surge do esgoto na verdade não é nenhuma novidade. Todo o fedor da graxeira já estava presente antes só não encontrava apoio oficial. Tava escondido nas piadinhas em churrascadas de domingo, nos chavões habituais preconceituosos.
Então é muito conveniente que política e religião não se discute. Uma espécie de censura disfarçada de defesa de bons valores. Como acusam o bicho papão do comunismo de fazer, mas é como disse Leonel Brizola, só é capaz de ver nos outros os próprios vícios, as próprias mazelas. Nesse viés é ainda mais conveniente que a miséria volte e se faça presente. Senão quem eu vou ajudar e tirar uma selfie? Fazer a boa ação do dia? Ou ainda melhor, usar os problemas socias descontrolados pra responsabilizar os outros pela minha incapacidade de governar ou pensar em soluções.
Não.
Nenhuma emoção cívica ao ouvir o hino nacional.