quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Pacotinho

Nem sonho nem pesadelo. Uma mistura de ambos. Mistura para bolo. Parabéns. Tudo pronto, tudo em caixinha, tudo muito inho, porcariazinha. Nem sempre tive noção disso, mas hoje penso que pedir respeito é uma das coisas mais degradantes que uma pessoa pode fazer numa conversa. O que tu faz com o respeito dos outros? Enfia onde?
Nada é mais duradouro do que o "hoje em dia", um intervalo de tempo eternamente presente, em que as coisas nunca param de mudar e são, por incapacidade nossa de perceber as diferenças, sempre as mesmas, irreconhecíveis.
Me dê um pouquinho de respeito, um respeitinho. Hoje valoro muito mais o desprezo, a contundência de apontar um dedo na cara, por mais que doa. O desprezo nunca é fingido. Deve ser isso. A calçada, os corredores e as filas do supermercado, a presunçosa linha do tempo de uma rede social - tomados por bons sentimentos fingidos. Tudo pronto, empacotado. Apenas cláusulas do contrato social. Interações ultraprocessadas, relações sociais zeramente nutritivas. Tão malfeitas que engolimos sem pensar, sem nem fingir muito que fingimos acreditar. Se deixar, nem barata come.
Mas não o ranço. Esse só existe se for de verdade. Fruto em uma feira de orgânicos. Procedência garantida. No ranço você pode confiar.