terça-feira, 23 de abril de 2013

Pois

    Tempos faz que não sou tomado de assalto, vitimado por aquela agressão que atropela o sujeito que sente e que sabe; que joga ao chão o ser vivente; arranca carne; ceifa razão. Tempos foram em que me vi de abrir braços frente a ataques repentinos nunca explicados.
    Há tempos que palavreio e que no palavrear me perco; mergulho no que digo e no que não digo volto a superfície turbulenta que tanto quis exilar.
    Há poucos que sei dizer me entendem, há pouco eu diria entender.
    Que gosto bom tem lembrar de uma ideia que só se viu passar; colhê-la de volta nos teus braços, sentir o peso que tu mesmo nela cresceu.
    O que já interpretei como fuga, hoje descobri uma descoberta:
    Entupir as narinas e rasgar a pele; chafurdar nos pensamentos desordenados e abrir os olhos encharcados de novidade, condenados a perder um mundo inteiro no seu próximo piscar. Sair, pois, a saracotear.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Que se cumpram os propósitos.
Que se atendam os anúncios.
Que expressem apenas por expressar.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Inotória notícia

No cardápio de quinta passada, um prato refinado: metáfora existencial. Mas o cozinheiro, com bloqueio criativo, se esqueceu de pôr o sal.

Os poemas tinham um aspecto indigesto e negativo. Estavam visivelmente contaminados, sendo rimados só com verbos no infinitivo.

Hoje pela manhã, um pouco antes das onze, dois sujeitos ocultos foram verificar uma denúncia. Clientes do estabelecimento tiveram problemas digestivos e verborragia catatônica, depois de um jantar suspeito por ali. Descobriu-se que a eles foram servidas sentenças com alta concentração de pleonasmos e gerúndios, tudo mal cozido e temperado.

Descobriu-se na investigação que o estabelecimento estava com a licença poética vencida; foi, portanto, fechado para revisão ortográfica e o responsável foi encaminhado para reabilitação.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Um conto sobre vingança ou inveja narrado de um ponto de vista pouco expositivo

- Pássaro Saulo! O que você fez? Ave avarenta! Não voará outra vez!

Bilada

O tecelão na teia que ele teceu;
Alguns cães nunca conseguem morder o próprio rabo;
Outros se engasgam com ele.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

New Rose

  Em seu refúgio, Rosa abriu os olhos e percebeu que, mais uma vez, adormecera tendo consigo sua jóia. Bendizia a sorte, que lhe dera tanta fortuna, entretanto, não conseguia ignorar tamanha ironia. Justo ela que andava desacreditada destas riquezas fora agraciada com algo tão raro e especial! Sentia-se feliz! Muito feliz!

   No passado, Rosa perseguira em sonhos os passos do Andarilho. Mas somente em sonhos, visto que a realidade lhe impusera raízes em um jardim (naquele tempo, ao menos, era assim que ela acreditava ser). Tudo o que almejava era dissipar aquela névoa cinzenta que insistia em ocultar a primavera sempre que o Andarilho parecia finalmente sentir-se bem, sentado em um dos bancos em meio às flores. E mesmo empenhando toda sua força e coragem, a nebulosidade sempre se refazia e os espinhos, por gostarem desse tipo de clima, surgiam mais e mais.

   Naquele tempo, mesmo diante do Espelho, Rosa era incapaz de ver a si mesma pois ainda tinha seus olhos vendados.
   O Espelho notara que Rosa era diferente dos demais. Não se deixava hipnotizar pela própria imagem refletida. Mas também não parecia se deixar alegrar pelo brilho do Espelho que sorria para ela; pelo contrário, rumava cada vez mais ao Abismo de Submissão. Intrigado, suspirava pensando na conduta do Andarilho que descuidara dos passos de Rosa: "Ah, se eu tivesse ao menos a metade de uma flor! Meu zelo e meus carinhos se devotariam à ela! Estaria eu errado por pensar assim?".

   Cotidiano ria os observando perdidos naquela ilusão.Tudo não passava de um circo armado por ele e seu amigo Destino, para que Rosa e o Espelho fossem incapazes de ver um aos olhos do outro. Os olhos refletem a alma e se isso ocorresse, reconheceriam de imediato o motivo pelo qual sabiam em seu âmago que já haviam estado frente a frente em outro lugar, muito tempo antes.

   Hoje Rosa sabe que não eram suas raízes que a mantinham naquele sonho confuso, mas a Megera que a puxava pelos pés e lhe aprisionava o andar. Descobriu que a escuridão almejada pela Megera nada mais era que a ausência de luz nas retinas de quem se apega às vendas de Cotidiano e assim, deixou pra trás as sombras, fazendo com que o "sem-fim" da história da Megera fosse o próprio final de sua história em comum. Agora, sonha desperta. Em seu coração permeia a certeza e em seu relicário a jóia brilha como nunca.

   Dia destes, Rosa volveu seus olhos para o interior da jóia e ali teve uma agradável surpresa! Como em um sonho bom a jóia lhe mostrava o desabrochar futuro de um de seus botões. No futuro, Rosa teria como companheira uma Rosinha. Suspirou e agradeceu, em paz. No amor, Rosa encontrou resposta e da resposta Rosa fez seu caminho.

Inexistente!

Para a pessoa que teve a maravilhosa ideia de mudar o fundo do blog:

Sinta-se abraçada.

*-*

terça-feira, 2 de abril de 2013

E aprendo e esqueço mais uma vez; que as coisas não são as mesmas por mais de um instante.