terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sobre dádivas e dúvidas

A chuva dói-me em meus ossos. Sua queda é permanente e irrevogável. Traz-me a lugares que por pouco não desconheço, leva-me a visitar os quartos escuros da minha cabeça.
Ali não há repouso; não estou só.
Murmuram em mim os fantasmas que engoli em dias passados, espectros de promessas e premissas.
Este, que tinha tudo para ser um dia comum, revela-se uma distinta reprise do que tem sido todos os outros. A mesma frase das linhas anteriores, mas sublinhada com tinta vermelha.
São quietos, sossegados, estes fantasmas que me acompanham ao revirar velhas ideias, velhos vislumbres.
Entenda, não há nada demais sobre o dia de hoje. Decidi dizer algo sobre o que penso, perceba, não exatamente o que penso, mas a parca expressão que consigo dar ao que transita em minha consciência. E é isso que eu tento, com certa frequencia, e nisso eu falho sempre que posso. Continuo procurando uma explicação.
O copo com água que repousa a meu lado me diz que ainda tenho algo a dizer.
Mas não sei, não sai.
O que dói em meus ossos pode não ser a chuva; pode ser que a dor nem seja nos ossos, não sei dizer. O doutor não me ensinou como identificar os sintomas das diferentes crises que brotam aqui.
Renunciei a um suposto futuro brilhante - de brilho a ponto de me ofuscar, e me recolho a contemplar o melancólico passar de um dia sem sombra.
Eu passo por ele, mas não ele por mim. Guardarei memória do momento em que olhei em volta e percebi que eu não estava lá.
Quando, em meio aos vultos expectantes, eu segredei a mim mesmo a minha ausência, o copo estava, então, vazio.
E os fantasmas, silenciosos, concordam comigo em gestos suaves, ao afirmar que já basta deste assunto para um dia de chuva.
Que ela caia como bem entender; já está quase na minha hora de sentar-me com eles.

Upon us all, a little rain must fall

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