segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eu não tenho onde acender incenso

Engatilhada na goela, uma reclamação. Esta não alveja o escapamento do automóvel, tampouco o cigarro da senhora que segura a bolsa firme e temerosamente, enquanto atravessa a avenida a caminho do ateliê de corte e costura.
A reclamação, essa, está guardada para a imperdoável queima da minha profana vareta de incenso.
Seja no meu calabouço particular, na sala de chá ou no sacrossanto tribunal da praça pública, pouco importa; haverá uma voz a se erguer em protesto a este ato inaceitável que eu ouso apreciar.
Resta, assim, passar no Joe Surfboards e ver se ele já consertou minha prancha.
Caso a loja esteja fechada, acendo um incenso por lá mesmo, entupo minhas narinas com o odor hediondo e fujo, antes que a chuva divina, enviada pelos incansáveis vigilantes, me venha castigar.
Se a fumaça ainda souber me proteger, que eu não ouça seus gritos de protesto, nem seja agredido pelos seus olhares julgadores enquanto corro de volta para a colcha de retalhos em que me disfarço.

2 comentários:

  1. Na próxima sessão de jip, leve consigo um pacote destes profanos artefatos que quero corromper meus sentidos com o odor insuportável e impregnável. Compartilharei de sua miséria egrégia, enquanto olhamos para além do que podemos ver...
    o/

    ResponderExcluir
  2. Caro mestre Abrabvanélsen, eu até levaria, só que o Luí, aquele pulha, não gosta e até detesta!
    Mas quando ao resto, há de se haver.

    ResponderExcluir