quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Niels Coelho, Paulo Bohr e a aristocracia do pistolão


É cult colocar a palavra "quântico" entremeio a teorias místicas. Acreditar em multicórnios também.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O que é que há, meu amigo?

O que há nesse lugar,
inferno,
que causa tanto interesse?

O que há no teu livro,
palavra,
que expressa tanto ódio?

Haveria alguma falta:
de explicação,
de algo para aquietar-te à noite;
ou há algum problema insolúvel,
um erro incorrigível,
um segredo perdido naquilo que deixaste de lado dia-a-dia para dedicar-te ao amanhã;

o que é que há, meu amigo?

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Vi-te a me ver

Eu vi a mágica nos teus olhos. Vi, como um solitário vagalume em meio a imensidão de morcegos, o profundo pesar de uma alma que passa. Perfeita trilha sonora seria o apito de partida de um navio, naquele momento. Oh, triste olhar lançado sem vigor, morrendo a cada passo em frente. Havia, ali, de tudo que pode ser belo: tristeza, mistério, reflexão; saudade, misericórdia e esperança; havia um fogo frio do mundo espectral, lumiando a mão do fantasma que se arrasta fora da tumba buscando vingança, buscando alívio, seu relógio de bolso, o fim que lhe negaram.
Esta noite eu vi a mágica única que emana de um ser: frágil, humano, perdido num mundo, não, não basta; num universo que não tem a decência de explicar seus motivos. Ver-te assim foi contar-me uma história. No cabelo que cresceu desde a última vez; a barba que brota tímida, pouco a pouco; os olhos que piscam apagando a luz do mundo.
Grato, se tivesse a quem agradecer, eu estaria pela possibilidade do movimento, por não ver sempre a mesma resposta para a pergunta Como estás. Mesmo assim, de alguma forma, há pesar. Eu te vi amargamente, lamentando cada furo que fiz na parede para te ter em minha frente.

Folhinhas Numeradas

Incineradas, não me contam mais nada.
Anos se empilham num passado que desconheço
pois do que aprendo, tanto esqueço.
Nas folhinhas numeradas morrem os dias
Nas manhãs abandonadas
descobri o que já sabias
Somos universo inevitável
um sopro; numa bolha, num instante
A roda gira
A vida flui
A bolha explode
Somos início, fim
E as folhinhas numeradas
elas são apenas: nada.

Constelação

Vi sagitário em forma de nuvem; as ordens celestes mudaram, constelações agora se manifestam agoldoadas pelas manhãs que jamais voltam? Ou mudou minha vista, que capturou a imagem que vi de um ponto único, inédito e irreproduzível? Não sei, nem ouso adivinhar quantas pessoas viram esta nuvem. Mas quem viu aquela que eu vi... bem, só eu, e ocorre que meu olho esquerdo discordou do direito e, sem saber qual, escolhi uma das versões por oficial e nela acredito. Agora ali está um centauro em chamas sendo empalado pelos galhos, vibrantes, que espetam o céu sem piedade.
Quanto mudou minha paisagem com alguns instantes de vento; quanto terei mudado eu, em alguns instantes vivendo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Quarta-feira

Aqui perto não passa trem. Por falta de costume, por falta de romantismo, falta essa graça. Não posso pegar o trem e ir embora, porque ele não passa por aqui. Ele não passa de ilusão.
Train roll on...
Aqui não passa trem, porque isso nos faz consumir o caríssimo petróleo dos bigodudos empoados. Não posso partir numa linha sem fim, porque a linha não existe. Ela é o desejo de me distanciar dessa estação cheia de gente pintada, decorada e com prática nas milhares de interações sociais possíveis ao longo de uma tarde que não passa, malpassante.
Não existiria a paçoca do vendedor de paçoquinha da estação se não fosse pelo dinheiro que ele recebe em troca. Nem a passagem se daria por nada. Não existiriam essas pessoas fingindo tão mal se elas não precisassem fingir; fugir.
Tuesday is gone with the wind...
Esta é uma quarta-feira múltipla, como todas as outras. Vontade de ficar e de ir, de fugir sem abandonar quem não merece. Partir num trem com um assento a mais.
Para mim e para nós.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

José

Seu José havia matado.

Mas matou antes de ser culpado.

Teve sua casa invadida seu quarto queimado, sua memória ferida.
Atirou nos policiais, derrubou dois ou três, e atirou mais uma vez.
Seu ódio estampado, do descaso escancarado, da obra municipal.
Na vila da liberdade, na cidade prosperidade, nem paz nem amizade encontram igualdade.
Seu José saiu da casa, contou as balas do revólver que havia tomado do policial tombado.
As pessoas corriam em volta mas José nada via lá. Não havia escolta. Nem amiga nem armada. Que dirá amada.

Seu José desconheceu o amor, largou a paixão e a esperança em um grande caixão chamado dor.
Seu José não foi trabalhar, pois não havia trabalho para ele, havia uma arma e uma boa dose de ardência, da sua permanência ainda fora de casa, olhando os corpos descarnados.

Seu José era agora culpado.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Eis uma tarde malpassante.
Malpasságio.

Crônica de uma manhã que não volta

Saí para trabalhar e nunca mais voltei como era antes.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

baboíno sedentário

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

onda