sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O MACACO ASTRAL CELEBRA
A possibilidade de mais um dia
Pela posse de um corpo físico
que torna possível percorrer distâncias
No que seria um dia qualquer caso fosse outro
Felizmente em boa companhia
O MACACO ASTRAL CELEBRA

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O MACACO ASTRAL DIVULGA
Um estudo com credibilidade
Obviamente feito no estrangeiro
por uma equipe qualificada
com um resultado que comprova a sua superioridade
Para que todos possam saber
O MACACO ASTRAL DIVULGA

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Era da razão

Você consegue ouvir o relâmpago?
É a informação que vaza, a tristeza que não acaba e a onda do mar de gente sempre agitada.
Era da razão a busca pelo equilíbrio, o prazer de estar vivo, a adrenalina da aventura.
Mas, na era da razão, apenas um tem razão e os outros não.
Mulheres brigam pela sua cela na grande prisão a que deram o nome "liberdade", e os homens comprometidos com a sua causa assumem a papelada, da transferência inusitada, liberdade condicional. Amor incondicional? Não. Também condicional. Engatinha-se em direção à luz e na menor fagulha perceptível a olho nu, cega-se a si próprio na tentativa desesperada de possuí-la. Era da razão. Quanto mais próximo do sentido, mais cedo é a percepção de que estás sonhando.
Era da razão sobreviver. A tentativa permanece dia após dia, atropelam aos que tentam fugir, em grandes cavalos imaginários que pisoteiam tudo pelo caminho, como a vida representada num carrossel girando muito rápido. Você deve cavalgar muito bem para não cair.
Aprisionam outros seres ao seu próprio gosto e costumes dando a isso o nome de causa animal. Era da razão, afinal, somos animais também. Animais apenas, animais apesar... Animais a pensar.
Mas não importa o que pensa, se for diferente de mim, alguma coisa me disse, me ensinou, instruiu, que deve ser meu oponente e meu inimigo. Oposição. Até a morte. Até que a morte os separe.
Porque na morte quando estiver como um corpo sem vida dentro de um caixão eu irei visitá-lo, derramar minhas lágrimas sobre teu corpo na tentativa de consertar as coisas que não fiz no tempo certo e dizer 'Há deus?', não há.
Era da razão acreditar.

Aves

No fio invisível que separa os momentos, um dia nascia e outro morria e a expectativa era sempre grande: novidades?

Via aquela cena quase sempre chata nos filmes: alguém ensaiando um diálogo, um discurso frente ao espelho; nada que funcione quando chegar a hora. Via desfilarem argumentos e hipóteses sobre a nova chance em um novo dia, agora vai. Ouvia chamados que nasciam e morriam prontos para ser ignorados, ocultos sob a sombra que encobre os problemas dos outros. Ouvia e nada fazia; ignorava.

Na história invisível em que é contada uma vida, num dia nascia e noutro morria e a importância era pouca: haverá outros.

Os dias por vir se enfileiram mas somente é possível ver o primeiro da fila; uma hora dessas a fila acaba, numa surpresa, e daí a conta incontável deixa de ter a importância que eu e tu tentávamos atribuir. Nunca fui muito ruim com matemática, apenas nunca soube bem o que fazer com ela - mas isso é o de menos.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Eu lembro

Eu fiquei sentado pensando. Me desculpa eu não queria fazer isso, disse. Não consigo controlar os sonhos ainda.
Eu lembro de quando ia até seu encontro, nenhuma sensação lá e de volta, era sequer parecida com a transbordante e adorável fase momentânea, e nem entro na questão de ser real ou não. Eu já não sei mais.
Mas eu te via. Eu ficava sempre a procura. Eu procurava nas nuvens, no sonho lúcido, nas matas cortadas pelos caminhos que eu percorria a fim de me perder, ora, até mesmo nos banhados. Andando de ônibus e de carro. Ou até parado, sentado.
Quando me esforçava o suficiente conseguia te ver pelo canto do olho, como uma brisa colorida. Na visão periférica. Mesmo estando acordado.
Até que em algum ponto entre o sonho e o despertar, te senti próxima a mim.
Mas nunca pude segurar tua mão. Nunca pude te segurar nos braços.
Acho que foi quando escolhi inconscientemente parar de te procurar. Talvez porque eu andava distraído demais. As memórias mais uma vez endureciam com a frieza do tempo me deixando sem muitas opções. Sem muitos recursos.
Eu te olhava e perguntava se você estava bem, como que se sentia. Você parecia estranha.
"Estou maravilhosa. Somos maravilhosos!"Uma fala suave e doce. A pureza direto da fonte.
Um dia algumas lembranças começaram a se derreter, resvalei no gelo e me vi com você nos braços, mas tive um certo medo. Finalmente pude te tocar. Percebi que havia algo errado. Obviamente se tratava de um sonho e nada mais, e pela primeira vez pude te ver de perto com todos os detalhes inimagináveis, inacreditáveis, até mesmo para mim.
O pior aconteceu.
O tamanho da tragédia somente se igualou à tamanha injustiça que, naquele exato instante, percebi que havia cometido contra você. Contra você, contra outras pessoas.
Você se foi. Mais veloz que um pedido de desculpas simplório. O máximo que conseguia pensar no momento.
Me vi na companhia de mais uma pessoa apenas, com uma sensação esquisita, um caloroso desconforto, e o suor me escorria na face enquanto corria de volta pelos corredores mentais da memória, na esperança de te encontrar.
Em uma de minhas pressas, noto uma silhueta familiar.
Era apenas a Júlia, com o cigarro entre os dedos, rindo do meu esforço. Eu não a culpo, ela ainda foi legal comigo me oferecendo um cigarro. Não obrigado, eu não fumo.

E eu ainda estou correndo. Estou ficando cansado, confesso.
Como eu disse antes, eu não queria fazer isso.
Eu não queria trocar.

Mas descobri que não sou bom em entender a diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho. A diferença entre entender a escolha  e escolher entendimento.