segunda-feira, 19 de julho de 2021

Febre

O corpo é quente, é calor. Mas sinto frio.
Febril.
É calor, mas não esquenta. Minha tremedeira me impede de decorar essas paredes velhas de meu casulo, minha única propriedade. Só o que posso chamar de meu, sem ser uma moçoila soberba de nariz empinado.
Eu ouço os gritos desesperados do lado de fora, mas a mim só restam pombos mensageiros feridos que sempre perdem a mensagem no caminho, me trazendo os restos, as migalhas.
Mas é isso. Se estou triste, choro. Se não estou feliz, finjo aquele sorriso que pode até ser bonito, atrás de uma porção de palavras mal ditas. Quando não mordo a língua.
A vida é um sonho. Passageiro. Hoje a noite sei que vou dormir mal.
Acordar de susto várias vezes, com o coração disparado. Um nó na garganta. Aquele vai-e-vem de sempre, desde que me conheço gente, que nunca consegui explicar. Vários sonhos ruins dentro de um mesmo.
Dizem que estou na linha de frente, então sou soldada.
E este é meu lado.
Não tem mais ninguém aqui além de mim, não teria como ter.
Essa é minha página inicial.
Meu troco. alguns centavos na discussão.
A minha era. Uma macaca entediada entre muitos nesse grande bando.
Não dura muito não. Eu sei que às vezes é só um suspiro.
É pouco, é quase nada. Quando você percebe o auge, já passou.
Tentei gritar, mas não tinha ninguém pra me ouvir.
Não importa.
Nunca importou.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Paz interior

Desenho a minha própria tranquilidade como uma pequena torta
porção individual
Não há lâmina fina o suficiente para dividi-la sem a destruir

Enquanto a degusto, ainda apenas com o olhar
ela se derrete à minha frente
lentamente se tornando nada mais que uma mancha no prato

De pernas cruzadas e lábios espremidos
fico imaginando o sabor que ela teria
quando finalmente eu a provasse