Uma pétala no chão
O passado se deita ao solo
O vento não sopra
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Feelin' alright
Abra a porta, a porta não mente.
Abra a porta, alguém quer sair e alguém quer entrar.
Abra a porta, meu amigo, vamos carregar as compras.
Abra a porta, meu bem, eu bebi demais.
O olho que olha no olho mágico vê sem ser visto.
O olho que roda no meio da cara é algo meio místico.
Preciso de proteção anti-cáries.
Abra a porta, alguém quer sair e alguém quer entrar.
Abra a porta, meu amigo, vamos carregar as compras.
Abra a porta, meu bem, eu bebi demais.
O olho que olha no olho mágico vê sem ser visto.
O olho que roda no meio da cara é algo meio místico.
Preciso de proteção anti-cáries.
Separados por vírgulas
Four dead in Ohio
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
O vento que se curve
Nada vai mudar meu mundo
é o mundo quem tem que mudar por mim
adaptar ou ceder
não
isso eu não faço
no meu mundo eu que mando
me mando
na ponta do laço
anotei um recado na ponta do nariz
evoluir é com vocês
eu já cheguei onde pretendia
por que eu deveria sair e procurar uma razão
se a plantei bem aqui
o vento que se curve
é o mundo quem tem que mudar por mim
adaptar ou ceder
não
isso eu não faço
no meu mundo eu que mando
me mando
na ponta do laço
anotei um recado na ponta do nariz
evoluir é com vocês
eu já cheguei onde pretendia
por que eu deveria sair e procurar uma razão
se a plantei bem aqui
o vento que se curve
Separados por vírgulas
Marta,
Nada muda se não mudamos,
Os pontos eu não pus,
Teimosia de raiz
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Sobre um olhar atravessado
Por sobre o muro,
passa uma espiada envolta num disfarce que não a cobre totalmente:
aquela pessoa me despreza, bastando, para isso, os poucos motivos que
a dei. Não conhece meu nome, não sabe onde vivo, se vivo, não sabe
do que gosto nem do que ouço; me viu, e isso bastou.
Não me é
novidade. O cara vê a pessoa transformar a expressão num momento e
seguir adiante andando, como se tudo não tivesse acontecido. Senti
saudade disso, fazia mais de ano que não me deparava com isso, que
antes era tão comum. Atribuo esse tratamento, numa percepção
provavelmente grosseira, supostamente baseada no que sei, a minha
aparência que volta a ser ofensiva para alguns, esses que agem do
jeito que acabei de contar.
Quando cortei os
cabelos, me surpreendia quando esperava ser olhado com desgosto por
pessoas na rua e elas simplesmente não o faziam. Eu não fazia,
então, parte de nenhuma minoria enviesada, estava tudo bem para
eles.
Hoje pela manhã,
caminhando contente por uma calçada, encontrei de novo este velho
conhecido, aquele olhar neutro se transformando num esgar levemente
indignado com alguém que se apresenta por aí de maneira tão
ofensiva. Percebi isso e fiquei feliz, matei um pouco a saudade dessa
sensação. Segui pensando na importância desse momento, dessa
provocação cotidiana, sobre o que significa, num momento e num
local onde as pessoas simplesmente não conseguem suportar ser
ofendidas pelo que as outras falam, onde um comentário pode
facilmente eclodir em um processo, onde as pessoas caçam e pretendem
destruir, calar, suspender, invalidar, reprimir opiniões contrárias
as suas crenças, bem, me sinto feliz por poder ofender as pessoas
visualmente sem fazer esforço algum para isso. Me recolho na
confortável posição de ser assim e nada mais, andando desgrenhado
por onde quer que as calçadas me permitam.
Separados por vírgulas
Obrigado,
Sobre a vida e a verdade
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Me conta...
De onde vem vocês?
De onde vem esse vento morno?
De onde vem os bebês?
Donde vem inspiração?
Me conta, humanoide,
onde tu quer chegar com essas pernas de pau
De onde vem esse vento morno?
De onde vem os bebês?
Donde vem inspiração?
Me conta, humanoide,
onde tu quer chegar com essas pernas de pau
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... uma história
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Pode digitar tua senha
É pra levar?
Mais alguma coisa?
Pode digitar tua
senha, pode dizer que eu anoto, pode informar o valor, pode creditar, pode sonegar, vale
tudo ou vale cultura, vale de lágrimas, chora cavaco, vai danada, é
marmelada, pode dizer, pode repetir, pode passar amanhã, passa
gelol, passa fome, passa roupa, cai balão, cai no golpe, cai na
farra, abre tuas asas, abre a porta, abre a porta, abre, abre, não
deixa, não descuida, vê se te cuida, vê se te emenda, fez uma
encomenda, anota na agenda, põe na conta do Abílio, pode por a tua
senha, pode deixar, pode defenestrar, não pode demorar, não digere,
não difere, não deixa passar, passa a manteiga, passa a dor,
passarela, canela fina, véia grossa, ninguém atende, ninguém
entende, ninguém se ofende, ninguém me pega, não pega ninguém, o
ano que vem, que tem, tá aí, mas não dura, não doura, não
duvida, não desliga, não desligatututututututututu tu pode botar
tua senha, é crédito ou incrédulo, é uma mosca sem asa que
ultrapassa a janela de nossa casa, não voa mas caminha, nada mas não
morre, morre na praia, na praia de azametifo onde se empilham os cadáveres
que a química sentenciou. Na atmosfera, os gases liberados pela
combustão das folhas arrancadas do calendário. Na estufa, o efeito
do carinho sobre uma planta que deixou de resmungar quando foi levada
para dentro. O mundo gira, submerso no conhaque que preenche o copo para onde tudo converge.
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A sorte do dia se repetia,
Peixoto,
Tudo converge
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Por acaso
Não por
coincidência, Peixoto deu a Adolfo seu próprio nome. Seria
divertido: pintar um pintor com seu nome, um velhote como ele sabia
que um dia seria. Quem sabe uma espiada no futuro, uma brincadeira
com o que havia por vir, coisa de artista.
Pensou que, se continuasse pintando
até alcançar a idade do Adolfo do quadro, precisaria de umas
paredes bem enormes e o velho chalé não serviria mais; pelo menos
não sem alguma reforma.
Tentou fugir do excesso de pretensões,
pintou Adolfo como sentia que deveria e pronto. Era um pintor,
portanto pintava. Não por acaso, gostou do resultado. Pendurou o
quadro no quartinho onde ninguém dormia, contente, e saiu. No final
de semana foi a um festival de rock and roll; divertiu-se. Ficou
alguns dias sem pintar e na terça-feira seguinte, pela manhã, bem
cedinho, resolveu dar mais uma olhada nas suas obras. A primeira
delas era a mais antiga, já fazia dois anos que a pintara; o
primeiro quadro do qual havia realmente gostado, o seu preferido; uma
moça bonita que parecia não olha-lo diretamente, como se estivesse
preocupada em não se distrair com alguma coisa. Tentou acompanhar o
olhar dela, ver o que ela via, sabia que daria em nada e viu, do
outro lado do quarto, Adolfo segurando o pincel, mirando Sofia. Olhou
de um para outro, deu um passo atrás, e soube que não havia sido
uma coincidência. Enciumado, saiu dali e foi até a padaria. Na
volta, passou no mercadinho da esquina e comprou uma garrafa de
conhaque barato, onde, até onde sabia, um dia se afogaria.
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Adolfo,
Fronteiras Flutuantes,
Peixoto,
Sofia
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