Dormia noites em claro num travesseiro
de duras penas. Escolhia meias, escolhia um prato; para votar, um
candidato; para escrever, nenhuma ideia. A duras penas desligava o
cabo de força, quando a fraqueza tomava conta do corpo. Olhava os
poetas, suas auras de mistério, envoltos em mantos que somente o
tempo sabe tecer. Fechava os olhos e eles cantavam. Abria os olhos,
eles sumiam até serem encontrados, por acaso, outra vez.
Cada dia era uma partida.
Contra si, dizia que não importava
concordar, importava mesmo era a reflexão. Retratos, pedregulhos,
uma colcha, um vestido. Não fez a cama, não fez um plano, não fez
o tema, não fez amor, não fez faculdade, não fez de salame, não
fez careta, não fez nem nada.
Nunca mais vi Jairo. A culpa dele e
disso é minha, percebo sua ausência por pouco. Ele de repente vem me visitar e todas mágoas jamais
existiram. Acolho-o, feliz por seu retorno e deixo-nos estar por um
momento. Em breve ele volta para o seu canto. Poeta que é, cantará
atrás das grades e um dia me darei conta novamente de que há tempos
não o vejo.
Cada dia na vida é uma partida.
Bom mesmo é ter um segundo controle.