segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Memento

 Enquanto, como uma rata, fico correndo nessa roda gigante, engraxando essa engrenagem enferrujada, o brilho da graxa me mostra um reflexo de outras coisas. Através da fumaça do meu cigarro às vezes eu mesma posso ver, sem precisar de um espelho, ou de graxa pra engrenagem. A maquiagem tenta esconder. A roda tenta distrair. A corrida tenta disfarçar. O inconsciente insiste em programar.
Ainda existem pequenos espaços de tempo, entre um cigarro e outro, entre uma paranoia e outra, que fazem vezes de momentos de lucidez temporária.
Onde eu me lembro do que insisto em esquecer.
As pequenas coisas, as coisas simples. O poder e não a corrupção. Enterrados debaixo de um grande entulho de coisas necessárias sem necessidade. Debaixo de birras infinitas e do melindre.
Lá estão as coisas de importância sem que ninguém se importe.