sábado, 16 de junho de 2018

O inverno chama

Típico dia frio. As pessoas atrás de calor para o coração, para a mente e outras coisas mais.
Atrás de lugares aconchegantes, que servem comida boa e oportunidades de esvaziar a cabeça cheia, acumulada durante a semana.
Fumar em dia frio tem um sabor especial, de certa forma é um calor que procuro também. Outro calor é o que me dá quando me deparo com uma placa de igreja com letras tipo a de folhetos de lancheria anunciando a salvação, para quem baixar a cabeça. Quanto mais se abaixar, mais a bunda aparece, era o que minha mãe sempre dizia. Vai ver é isso mesmo que quer um deus macho, totalitário, conhecedor dos quereres e poderes.
Dá muita vontade de ficar na porta observando o espetáculo de comédia, soprando minha fumaça herege, um monte de bunda se mexendo com as mãos pra cima.
Onde já se viu moça fumando?
Podem ficar com o pão desde que me deem o vinho, lembrei.
Essa tem sido a minha vida nos últimos tempos. Medíocre e reclamona.
Me pegaria me odiando profundamente se tudo o que eu de fato sentisse pelas pessoas não passasse de inveja. Não que eu não tenha motivos pra me odiar já agora, já de cara.
Não vou mentir que quando me olho no espelho, não vejo a decadência dessa nossa raça. E isso é o auge da juventude se considerar minha idade, é o pequeno espaço de tempo que o organismo apresenta a peça principal, depois de anos de preparo. A partir daqui é ladeira abaixo, em muito pouco tempo.
E isso é tudo, é tudo o que a humanidade pode oferecer.
Eu sou apenas um exemplar, que de exemplo não serve.
A chama é querida no inverno, mas nem mesmo ela é capaz de saciar o insaciável. Essa coisa que nos consome dia após dia, que nos escraviza e nos humilha.