Carrego comigo uma eterna qualquer coisa, uma
mistura de infelicidade com inquietude.
Não chega a ser um lobo da estepe, que uiva em desespero
por liberdade, dividindo uma personalidade em duas ou dois milhões.
O que eu tenho é um mosquito.
Meu infeliz companheiro de espírito, menos
grandioso e nobre, encontra prazer nas pequenas coisas.
Diverte-se zumbindo um ‘e se?’ quando tudo aparenta
paz e sorriso.
Quando a pele lisa da simplicidade repousa, ele
pousa e morde um ‘será?’.
Geralmente, pra espantá-lo, só preciso de um copo,
um bar, uma conversa. O problema do mosquito interior é que ele volta, sempre
por um motivo diferente, sempre com um zumbido diferente. Seu objetivo na vida
é ser notado, chamar minha atenção e me fazer dedicar ao menos um pensamento
sobre o assunto.
Eis que dia desses tomei uma decisão:
submeter-me-ei a uma Cirurgia de Remoção de Mosquito, realizada pelo Doutor.
Os resultados do pós-operatório podem ser
observados aos montes por aí, e se mostram melhores que o esperado. Após o
procedimento, não há mais dúvidas, críticas, lágrimas, questionamentos
interiores. Nunca mais um dia bonito deixará de ser vivido por medo do pôr do
sol por vir. Imagino poder conversar com alguém e não querer saber que livro
leu e que disco escutou. É o sonho, é o primeiro passo para Ser.
Sem o mosquito, a vida há de ser mais fácil, mais
simples, mais cega.
Após a remoção do mosquito, há de restar somente a
felicidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário