quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Mosquito Interior


Carrego comigo uma eterna qualquer coisa, uma mistura de infelicidade com inquietude.
Não chega a ser um lobo da estepe, que uiva em desespero por liberdade, dividindo uma personalidade em duas ou dois milhões.

O que eu tenho é um mosquito.

Meu infeliz companheiro de espírito, menos grandioso e nobre, encontra prazer nas pequenas coisas.
Diverte-se zumbindo um ‘e se?’ quando tudo aparenta paz e sorriso.
Quando a pele lisa da simplicidade repousa, ele pousa e morde um ‘será?’.

Geralmente, pra espantá-lo, só preciso de um copo, um bar, uma conversa. O problema do mosquito interior é que ele volta, sempre por um motivo diferente, sempre com um zumbido diferente. Seu objetivo na vida é ser notado, chamar minha atenção e me fazer dedicar ao menos um pensamento sobre o assunto.

Eis que dia desses tomei uma decisão: submeter-me-ei a uma Cirurgia de Remoção de Mosquito, realizada pelo Doutor.
Os resultados do pós-operatório podem ser observados aos montes por aí, e se mostram melhores que o esperado. Após o procedimento, não há mais dúvidas, críticas, lágrimas, questionamentos interiores. Nunca mais um dia bonito deixará de ser vivido por medo do pôr do sol por vir. Imagino poder conversar com alguém e não querer saber que livro leu e que disco escutou. É o sonho, é o primeiro passo para Ser.

Sem o mosquito, a vida há de ser mais fácil, mais simples, mais cega.
Após a remoção do mosquito, há de restar somente a felicidade.

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