terça-feira, 13 de agosto de 2019

Encaminhe

Às vezes é preciso sair um pouco da nossa caverna
Dar de cara com a luz - ir além das sombras projetadas na parede;
Sentir algo diferente do aromatizador de automóvel: cheiro de fogo na esquina, de terra encharcada na calçada
Sentir a poeira no ar. Sentir-se barbeado pelo vento frio de inverno que dura pouco;
Às vezes é preciso ouvir a canção das ruas; saudar as calçadas, esses portais - pontos de encontro: união entre os que passam sem pressa ou sem tempo, destinos distintos em pequenas coincidências
Embora eu não esteja, nessas andanças, imune à minha própria ignorância, ao menos sinto-me anestesiado dela por um tempo.
É preciso andar a pé.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Ao todo

Só uma coisa era certa,
Todas as coisas deveriam passar
Mas não ele
Não Peixoto
Ele já era antes de tudo
Fora ele o primeiro a chegar

terça-feira, 4 de junho de 2019

CIDADE ALERTA

Há um perigo, cuidado. Há de andar armado.
Há de ser atento.
Há tensão!
Ali na frente à esquerda, só bandidos.
Por entre berros, às vezes se ouve que deus tá vendo. Ou que deus viu tudo.
Um ou outro, qual será? Acho que tanto faz.
Tem é que estudar e trabalhar.
Mas o estudo já não serve, por alguma razão.
Talvez por ter muito trabalho.
Graças a deus.
Pois quando se é bandido, certamente não trabalha. Não produz.
Atrapalha a engrenagem, da máquina de bem.
Do cidadão de bem, cansado da virtude.
Entre quatro paredes, segura a certeza.
De que há um perigo... lá fora.
Fora dele, está na cidade, está em outrem.
É temente a deus, afinal, vai saber?
Sabe a sua mulher ou a sua amante.
Uma delas apanha em silêncio, pois a maior verdade está entre duas mentiras.
O que ele sabe é sobre o certo.
Ele sabe como se resolve tudo isso que tá aí.
É muito fácil.
Um simples gesto infantil.
De brincar de faz de conta.
Tal é a seriedade em que são levados os assuntos.
Vide o apresentador, vomitando verdades prontas, acessíveis.
Tem que ter uma sequência.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Averbação

Eu estava no centro, incomodada como sempre. Era um incômodo ambulante. Incessante. Muita coisa boa e pouca coisa para reclamar.
Clamar? Clamar dentro dos templos mentais de produção de obediência. Reclamar nas ruas ou em casa, de preferência com os parentes e familiares. Tradição da família tradicional.
Ouvir no rádio e ver na tevê. Falar? Pouco importava, era só gorfo mesmo. A falta de luz, ou energia elétrica como é o correto, incomoda porque a tevê vira um espelho e eu não gosto do que eu vejo. A janela é sem graça e o canto dos pássaros já não conseguem me convencer.
Já os especialistas, estudam uma vida inteira pra descobrir que só precisa um empurrãozinho, um pequeno toque, em uma alma auto-condenada, para despertar toda a aflição e todos os vícios de uma negatividade por muito tempo escondida, mas que sempre escorria pela boca numa roda de conversa ou churrascada de domingo.
Eu sempre pensei que era bem mais fácil. Pra mim sempre foi mais fácil. Eu também só preciso de um empurrãozinho, como dizem os estudos.
Diria o Rogério "se fosse do meu jeito...", o resto vocês já sabem. Tá aí na rua, na tua família, nos amigos e nos mitos.
Eu olhava as vitrines, os produtos, os rostos. As frases de efeito. Nos dias que já pensei em acabar com minha própria vida, era justamente quando eu acreditava naquilo tudo. Quando acreditava que a vida era correr atrás do próprio rabo.
Quando tudo o que sobrou foi a dúvida, eu fiquei mais tranquila, sofrendo um pouco menos.
Mas está mais que comprovado, que pouco importa o meu sofrimento.
Já que essa época faz com que as empresas pareçam amigas e os amigos pareçam uma promessa esquecida.