sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Também vou ver o Doutor


Um jovem certo dia conversava com seu amigo, e queixava-se de um problema. O amigo não hesitou em recomendar o Doutor, que era muito bom em resolver problemas. O jovem então foi procurá-lo.
— Bom dia, meu jovem, em que posso lhe ajudar?
— Bom dia, Doutor. Vim até aqui hoje por recomendação de um amigo, que disse que o senhor é muito bom. Eu sofro de um problema estranho, que aparece às vezes.
— E o que seria rapaz?
— Invisibilidade.
— Como é que é?
— É isso mesmo, Doutor. Parece absurdo, mas às vezes sou invisível, e não gostaria de ser. Eu me sinto mal, me sinto menos que os outros...
— Muito bem meu jovem, sente-se aqui na maca.
O Doutor franzia a testa enquanto punha um termômetro embaixo do braço esquerdo do rapaz.
— Saberia me dizer em que situação isso ocorre?
— Sim Doutor, ocorre em alguns lugares públicos, mas não todos. Tipo, quando vou pra aula acontece, mas lá no Bar Biroto não, por exemplo. Mas em outros bares ou sei lá, danceterias, isso acontece bastante.
— Curioso, rapaz, muito curioso. E como você sabe? Como tem certeza que está invisível?
— Nossa, Doutor, é muito fácil. Você praticamente esbarra nas pessoas, mas elas simplesmente não olham. E quando, por exemplo, você encontra uma moça bonita, você tenta olha-la nos olhos, tenta sorrir, mas é inútil, ela não te enxerga.
O Doutor retira o termômetro e percebe que ele está saudável, não tem febre, e elimina uma possível situação de delírio.
— Você tem certeza que não imagina isso rapaz? Pergunto por que, em todos esses anos de medicina, nunca tive uma queixa tão peculiar... Você usa drogas?
— Só as lícitas, só álcool, digamos.
— Freqüência?
— Finais de semana, às vezes na quinta-feira, depende.
— Aham, perfeito.
— O senhor não acha que eu esteja maluco não é? Porque eu não estou, eu não sou...
— Bom, temos que reconhecer que existem casos dentro da psiquiatria que se assemelham bastante com sua descrição, mas isso demanda uma investigação mais profunda. E quando você fala te ouvem?
— Claro, e é mais uma prova. Quando eu falo com alguém, a primeira reação deles é de estranheza, como se fosse uma voz vindo do nada. Mas de alguma maneira sabem que é minha... Outro dia eu até tentei fazer como eles, andar como se não enxergasse os outros, mas eu não consigo, não é da minha natureza isso.
— Perfeito, perfeito... Bom meu rapaz, eu preciso ser franco. Não consigo pensar em alguma causa patológica para essa situação, pelo menos não atribuída a você. Você já pensou no seguinte: se ao invés de você ser invisível, será que não anda no meio de cegos?
O jovem agradeceu à atenção do Doutor, mesmo estando frustrado com o que ele disse, e foi embora.
Segundos depois o Doutor reparou que o rapaz havia deixado um casaco sobre a maca, e pediu para sua secretária algum contato do jovem.
— Fabiane, me consegue um telefone desse rapaz que acabou de sair, por favor.
— Que rapaz, Doutor?


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