segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O zumbido do ser

Um senhor, certa vez, após uma série de aleatórias conversas, resolveu compartilhar uma história sobre abelhas. Sabe, as pretas e amarelas, aquelas das quais nos esquivamos e nos precavemos de seu surgimento. As mesmas que, em silêncio, apreciamos por seu trabalho servil na natureza.
O conto era como qualquer outro, em que se espera tal moral ao final. Talvez tirado de um livro infantil, ou apenas um texto, modificado através dos anos para vir a servir como lição.
Por tal razão, não foi demonstrado muito interesse a esta pessoa que abrira a boca para partilhar suas palavras com os demais que se faziam ali presentes.

- Ninguém dá ênfase em abelhas! - Pronunciou um rapaz de cabelos avermelhados, enquanto cutucava, em forma de arranhão, a ponta de seu nariz sardento. E prosseguiu por assim dizendo: - Elas fazem o mel, mas, e de quê isso me serve? Não gosto de seu doce. Sua abelha é apenas uma mosca com listras. A diferença é que não vai atrás de porcarias mal cheirosas, e sim, daquilo que venha a lhe ser útil.

- Pelo menos o ser possui hábitos inteligentes, tens de concordar...  - Indagou uma moça bonita ao seu lado.

O dito senhor começou.

Era uma vez um pequeno e novo mundo. Pequeno visto aos nossos olhos, fúteis olhos. A verdade é que era grande. Este era recheado de inúmeros e célebres donos de conhecimento. E lá vivia a mais formosa. A abelha rainha, claro. Ela mantinha-se como protagonista; todos sabiam. A tal celebridade, a mais temida e amada, a prostituta do reino, era a que todos queriam agradar.

- Até o momento, nenhuma surpresa. Você utiliza esse tipo de vocabulário quando conta suas incríveis histórias para as crianças, meu velho? 

O mesmo senhor endireitou a aba do desbotado chapéu verde e, sem dar muita importância à ironia, continuou.

Todas as manhãs, assim que o sol despertava e a luz surgia, as operárias saiam para seu trabalho rotineiro. Elas desejavam apenas voar por aí, espalhar seu zumbido através dos ares, enquanto procuravam incessantemente as mais belas flores. Quando encontravam seu alvo, tocavam-no com seu amor. E transformavam tudo em amor, todo o ar virava leve, e calmo, e simples. E esse sentimento era levado até a rainha que, mesmo sem imponentes atributos, continuava como celebridade, a mais temida e amada, a prostituta do reino. A que todos queriam agradar.

- Mas a maioria das pessoas foge delas, não é? Quer dizer, pelo menos eu. Não acho que elas embelezam nossos arredores. Está certo que são de certa importância em nosso planeta, mas...

- Isso não está certo! - Disse outro jovem, o qual ainda não havia se pronunciado, atrapalhando a fala da moça de boa aparência. - Abelhas são raivosas, não há ser sabido que as aprecie. As aturam, pois precisam. Só servem de trabalhadeiras, caso contrário seria outro inseto a ser esmagado.

Terminando sua história em forma de resposta, o senhor da expressão sofrida e do olhar triste, finalmente revelou a esperada moral.

- As abelhas não querem machucar ninguém, afinal. Elas não querem ferir. Só poderiam ferir a si mesmas, mais ninguém. - Disse certificadamente. - É a releitura de vocês, não? - Perguntou. - Somos nós.

As abelhas irão sempre viver para agradar, para amar. Seja pela protagonista escolhida, seja para com o ramo mais colorido achado.
Mas, ainda sim, serão metade sorrisos e metade lágrimas. Pois, uma hora ou outra, precisarão dividir e jogar sua raiva. Chegará o momento em que a abelha dará, em troca de encravar seu espinho, sua vida. 

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