quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O diário

O garoto estava andando quando a encontrou. No galho de uma árvore crescida, daquelas que exalam um bom cheiro na primavera. Era uma lagarta... ou seria uma borboleta? Pensou ele.
Muito pouca coisa o surpreendia, e aquilo também não o surpreendeu, quando a lagarta começou a conversar com ele.

Conversaram por muito tempo e se conheceram naquele dia.
A lagarta sempre dizia que se achava uma inútil, que sua vida andava sem perspectiva, que os outros falavam mal dela, o que às vezes ela achava certo porque não conseguia enxergar o que ela tinha de bom. Achava que não tinha nada de bom. Achava que nunca sairia de seu casulo
Mas o garoto sempre insistia no oposto. O que ele via eram olhos azuis, asas de borboleta, coloridas e bonitas, ele não via casulo nenhum. Ela não era lagarta... um dia ela foi, mas hoje era borboleta. Uma borboleta que pensava ser lagarta, que pensava que nunca sairia de seu casulo.

Durante a conversa a borboleta acabou achando que o garoto era muito inteligente, muito mais que ela. Ele falava de coisas que ela não entendia, muitas delas não havia como ela entender pois eram coisas diferentes do que ela estava acostumada. E só isso, diferentes. A diferença não faz dele um cara mais inteligente que ela.
A borboleta sabia escrever. Ela sempre dizia que eram bobagens sem sentido, e o garoto achava que eram coisas legais, também diferente do que ele estava acostumado. Mas era só isso, diferente. A borboleta insistia que era ruim, que não era só diferente.
São diferentes inteligências, coisas diferentes. Nem melhor nem pior.

O garoto ficava imaginando se um dia ela já havia se visto. Mas se visto de verdade, ignorando todas as suposições dos outros animais que diziam coisas dela, que no fim ela não era... ele não enxergava assim, e certamente mais pessoas também não enxergariam assim.
Se visto não como alguém que comete erros, que fracassa. Mas como alguém diferente.
Como ele a enxergava. Para ele, a borboleta só não estava voando ainda, porque não havia percebido suas asas.

Para o garoto que pensava ser homem, a borboleta que pensava ser lagarta sempre iria ser uma borboleta.

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