sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Rei

Enquanto brandia seu brilhante cetro, o rei gritava com seus súditos, que sem se importarem muito com as ordens e muito menos com as punições, continuavam a circular em torno de seu trono a uma distância segura, ouvindo seus decretos abafados pelo barulho das carroças que ali perto passavam.
- Serão condenados a forca todos aqueles que não se curvarem diante do rei ao cruzarem por ele! - gritava, enquanto fiapos de saliva caíam em sua exuberante barba, deixando-o com um ar medonho, afastando a moça que carregava uma criança em um braço e um saco de trigo na outra. Se realmente era trigo, ele não sabia, mas preferia imaginar que fosse.
Amarrado ao lado de seu trono, estava sua montaria, o alazão Cusco, como o rei gostava de chamá-lo. Nome que, ao ser exclamado, fazia o animal erguer as orelhas, olhar para o lado, e parar com qualquer coisa que estivesse fazendo, fosse coçando a orelha com a pata ou lambendo seu próprio traseiro.
E assim segue o seu reinado, até que talvez o frio do inverno faça com que ele não resista em seu gélido castelo de pedra. Mas ninguém vai sentir sua falta mesmo, não é? Sempre haverá um novo rei, assim como por muitos anos fora naquele reino.
E seus súditos não se importarão. Para eles ele é só um velho maluco, sentado em meio a calçada sobre sua caixa de papelão, brandindo aquela velha garrafa plástica revestida com papel alumínio enquanto grita aos ventos seus absurdos comandos, com os quais apenas o pequeno cão parece, mas não muito, se importar.
Que tenha vida longa!

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