sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sobre caminhos e calmantes

Linhas se sucediam; fazia-se contas, planos B; carregava-se perspectivas no bolso de trás.
O que aconteceu enquanto eu estive de olhos fechados?
Invenções absurdas tomaram o lugar entre as pessoas. Arranquei de mim um fio de cabelo, e ele ainda era comprido. Torto, crespo, uma merda. Mas aquelas linhas pelo chão... tão duras, sisudas. Que faziam elas ali, intocáveis?

Ergui-me e andei, para ver mais de perto o que acontecia lá adiante. Pensei que seria estranhado, no meio de tanta gente igualmente diferente de mim, mas me enganei. A minha presença não lhes era surpresa. Percebi, com o tempo, que eram todos estranhos entre si.
Terei viajado no tempo ou no espaço?

Tentei me comunicar com um deles, mas só obtive grunhidos em resposta.
Eu não era dali.
Qualquer um que eu visse, qualquer olhar que me tocasse, confirmava esta percepção. Vaguei em vão tentando conhecê-los, mas essa capacidade estava além deles próprios.
Eu não era dali e precisava ir embora.
Sendo poeira estelar, eu não deixara pegadas; voltei-me para dentro de mim, a fim de voltar para de onde vim.
As linhas sumiram, eu estava sozinho. Havia paz, pois havia solidão.

Pisquei num espasmo e um antigo amigo veio até mim;
"Na luz encontrarás uma estrada", ele disse e se desfez.
Eu sou luz, pensei. A estrada está em mim.
Abri os olhos e então eu compreendi o que houve lá fora.
O mundo seguira adiante, mas eu não.
Eu era um grão de poeira que teimava em ser luz.

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