terça-feira, 4 de setembro de 2012

Fome

Gomez queria devorar o mundo.
Não que quisesse mascar nossas carcaças ou nossas carroças, ele só tinha um apetite inusitado.
Sabe?
Ele queria abrir bem a boca e dar uma dentada no meio da África, ficar com fiapos de savanas entredentes, se babar com o oceano Atlântico, e depois soltar um arroto em vintesseis idiomas diferentes.
Coisa boa, lhe parecia.
Babaquice, parecia à Ester, sua esposa.
Gomez não era um cara de vícios ou práticas nocivas; apenas tinha um certo tesão por rimas com verbos no infinitivo e aforismos.
Também era um grave caso de falta de inspiração e originalidade. Mas isto não o prejudicava em suas rotinas, posto que não lhe eram características importantes.
Vivia informado com as notícias do mundo nos telejornais, e daí provavelmente viesse a voraz vontade de devorá-lo.
Gomez queria devorar o mundo, e frequentemente explicava isso ao doutor Dario, seu dentista, que vez ou outra refazia a obturação fodida de Gomez.
As pirâmides do Egito eram sempre um problema.

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