terça-feira, 22 de novembro de 2016

Onze

Onze e onze. Já faz um tempo que vou ver as horas e me deparo com a já familiar carreira de 'uns' lado a lado. Um cara me falou uma vez que essa sequencia de números significava alguma coisa. Numerologia. Tanto faz. No fim é possível ver o que quiser onde quiser. É só procurar, e quem procura acha. Síndrome do tomara que seja. Uma das tantas esperanças vazias.
Eu vejo as horas mas não vejo o tempo passar.
Não. Isso não é tão bom quanto parece. Eu até gosto do plantão de domingo. Pelo menos aquele pessoal que me olha no intervalo com cara de "nossa, uma agente da saúde fumando..." está em menor número.
Logo vai ser segunda. Sempre que penso isso, lembro de mim pensando a mesma coisa anos atrás. Diferentes momentos, mesma sensação.
Evito comentar pra não parecer papo de gente velha.
Os dias parecem sempre os mesmos, mas com aquela sensação de diferença que os permeia. Parecida com a leitura de um livro onde se percebe uma ideia ainda não descoberta, mas que está ali, dando voltas ao redor do texto, das letras. Será uma ilusão?
Me pergunto qual é a programação que faz os dias parecerem iguais, e como se libertar disso.
"Free" Me lembrei da voz do Ozzy ecoando um trecho que eu não havia reparado antes, numa música do novo álbum. Realmente não quero ser um robô fantasma ocupando um hospedeiro humano. Começo do fim ou fim do começo? Acho que já nem importa mais.
O importante é não deixar todo esse concreto te endurecer. Te envelhecer. Crispar a tua testa como acontece nas rachaduras do asfalto, por onde se assenta toda essa imundície. Nada que uma boa chuva não lave, mas chuva nenhuma vai lavar a alma de dentro pra fora. Nisso o Travis também estava errado. Nisso e em convidar uma garota para o cinema pornô.

Que horas são? Onze e cinquenta e seis. Respondi olhando no meu smartphone, pra esse rapaz que acho que não estava tão interessado nas horas do mesmo modo que estava interessado na minha bunda ou sabe se lá no que mais.
Mas não tenho tempo pra conversar. Nem vontade.
Só mais quatro minutos. Ou menos quatro, dependendo do ponto de vista. Considerando que aqui é um hospital, acho que menos quatro é mais apropriado.

Igual, é meu último cigarro.

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