sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Olhar e ver

Cinco. Pelo menos não era onze e onze.
Ver novamente essa combinação ia me dar nos nervos. Nas entranhas. Sensação estranha.
Estranhamente familiar.
Os sinais estavam todos ali, e eu não vi nenhum. Não me culpo, mal me vejo no espelho. Nesse caso, olhar e ver são coisas diferentes.
Me olho no espelho. Olho uma cara inchada. Não gosto do que vejo, quando realmente vejo a mim mesma.
Seria tão fácil, se fosse só corrigir essa maquiagem borrada. Se fosse terminar uma cerveja.
Se.
Ultimamente tenho dúvida se essa maquiagem é pros outros ou é pra mim. Como o cara do comercial que tanto desgosto, acabo na mesma armadilha. Uma cara arrumada pra não mostrar a podridão interna. Disse que não me culpo, mas não devo dar atenção ao que eu digo, e sim ao que é.
Eu tento apontar o dedo, em vão, sabendo que ele volta pra mim. É o que vejo no espelho.
Seria fácil também culpar a ele e não a mim, pelo que me acontece. Pelo que sou.
Mas todo mundo tem um lado que não quer mostrar.
Como eu sei?
Olhe o comercial, olhe o outdoor. É quase como uma porta para a percepção.
De tão escancarada é fácil não ver.
Devo estar com mau hálito. De tanto café.
Ou estou tentando evitar de pensar em porque realmente eu não consigo dormir.
Vê?
Não importa pra onde eu aponte, volta.
Volta com força.
Na força da batida, cai a lágrima. Mais uma. É só o que me permito no momento.
Uma só. Áspera na pele e corroedora na alma.
Uma lágrima para um problema de primeiro mundo.
Que me sinto frustrada em não saber lidar.

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