segunda-feira, 8 de julho de 2013

Somos todos em mim

-- III --

  Percebi, antes dos demais, o que estava acontecendo, no momento em que finalmente parei. E nós, que me seguiam, pudemos ver meus ombros relaxarem, as mãos abrirem, enquanto eu desabava de joelhos no chão. Ficamos todos ali, parados, aguardando que me levantasse, esperando que mais uma vez me erguesse com a perna esquerda, como tantas vezes o fizera.
  Mas não desta vez.
  Observamos atentamente, todos nós, enquanto minhas mãos deslizavam até os coldres e sacavam os antigos revólveres - um para mim, um para o outro, dissera o mais velho - e, após um breve movimento do olhar entre as armas e o horizonte, jogavam ambos ao chão, levantando pequenas nuvens de poeira, sinais a serem levadas pelo vento para algum lugar distante.
  Mas o vento de repente parou, percebemos todos menos eu, que com o olhar muito além do que era visível, desfiz-me também da adaga que, já com marcas de ferrugem, carregava em minha cintura.
  Queria que me deixassem só por um momento, queria parar e finalmente descansar, deitar-me ali e aguardar o que quer que viesse em seguida, o fim, o começo, o infinito, o vazio.
  E assim me permiti tombar, sem que pudéssemos impedir, sem me proteger sequer do impacto no chão duro e seco do deserto, sentindo o gosto salgado da poeira, do sangue.
  Declarei, assim, a derrota.

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