quinta-feira, 11 de julho de 2013

Insana e Insone Seguia Sem Guia

Ora, eu tenho desde o dia em que, inesperadamente, pelo menos para mim, que nesse ocorrido sou dos mais inocentes, nasci, uma alma de ser humano, pois a única possibilidade de alma é a humana, isso aprendi anos depois do mesmo dia ao qual me referi há pouco. Pois tendo essa tal alma e sendo, talvez por obrigatoriedade, humano, coube a mim uma responsabilidade intransferível, o papel de negociador entre um corpo de carne, uma mente de animal e uma suposta consciência de ser humano.
Ao ser-me transferida, ou informada, de forma não devidamente instrutiva, esta incubência, em momento algum foi esclarecido qual destas três partes eu deveria chamar de guia. Também não pude descobrir, fosse por leitura de escrituras sacras, ou por descoberta própria, qual destas três partes era eu, se é que era alguma delas, se é que eu era alguma coisa.
Pois, analisemos a relação do suposto eu com cada um.
Ao meu corpo não sabia dominar em funções, em forças, em resistências, senão debilmente. Não tínhamos a afinidade própria de quem foi concebido em conjunto, de quem foi feito para conviver em harmonia. Fiz e faço uso dele, instrumento que é para as básicas tarefas e subordinações das quais aprendi a depender. Porém, falta nesta relação algum alcance, a capacidade do meu corpo levar-me a lugares que outras partes de mim desejam ver, ter, penetrar. Não pode ser este, portanto, a responder pelo meu eu.
À minha mente não sabia controlar e direcionar em ímpetos, vontades e desejos. As satisfações de que necessitava, conquanto as tentasse obter com o uso do corpo, não as obtinha de todo, e nisso faltava a mim ser um apenas com a suposta mente. Servia-me, ainda que não de forma totalmente precisa ou incontestável, para me informar sobre o entorno em que me encontrava em dados momentos em que a minha consciência pudesse estar desperta.
Eis, então, que falo aqui sobre a terceira das partes que julguei existirem compondo o meu ser. Ora, esta foi, durante muito tempo, aquela que pensei devesse ser a ponta onde se encontrava a tal alma de que há muito falei aqui, por mais difícil que fosse separar ou pensar separadamente sobre ela e a mente de que falei antes. Pois no raio que explode um pensamento dentro da cabeça de um ser humano, ou seja, parte de seu corpo de carne que vive e morre, tomaria papel nesta explosão uma mente que sente e reflete o que ocorre em volta deste corpo, e combusta esta e outras percepções num suposto pensamento que ocorre então num ponto imperceptível da mente e que vem, agora ou depois, se é que vem, a ser recordado, interpretado, em vezes negado, pela consciência, que habita um lugar que não sei dizer qual é, se é que habita, e pela qual passam apenas algumas das sensações, ideias ou percepções da mente, ou interpretações feitas a partir do que recebe o corpo, também são poucos que são pegos pela consciência. Pois, incapaz que é a suposta consciência de estar ciente do que ocorre a meu corpo, minha mente, acima de tudo, a mim, seria ela então mais uma impossível eleita para chamar-se de eu. 
Posto que não me encontro, pelo menos não de forma garantida e aceitável, em nenhuma destas três partes, que não sei se deveriam ser contadas em três, se é que deveriam ser contadas, caminho então em direção a uma questão que vem a ser a impossibilidade de reconhecer-se-me caso tivesse a oportunidade. Ora, nunca tendo visto antes o seu reflexo, qual animal, ao entrar numa casa de espelhos, saberia que aquelas lá são diversas cópias suas?
Ora, falo em animal pensando, e isso faço por ser mais que meramente um deles, pensando, pois, em que existem animais que não são humanos e animais que são humanos, e qual me foi ensinada a diferença entre estes dois? Supostamente uns, nós, teríamos a nossa consciência, n'outra explicação a razão, raciocínio, digo, e, n'outra ainda, pasmo, uma alma. Pois, cheguei por conta de reflexões que, pela própria forma de chamá-las percebe-se, não passam de resultados de ideias que foram atirados pra dentro desta cabeça, ou mente, ou consciência que eu julgo ter, cheguei há pouco a conclusão de que não me encontro plenamente em nenhuma das partes definidas para o meu ser humano habitar, ou o espaço que me deram para ser humano.
Dentre alma, mente, consciência ou capacidade racional, pouco se elucida neste simples ato de tentar entrar em algum canto do cérebro, único lugar onde isso tudo pode existir, se é que existe, abrir uma janela, uma fresta que seja e iluminar, arejar um pouco esse lugar tão peculiar que trazemos para lá e para cá. Sequer consigo chegar a um culpado pelo fracasso nas relações de raciocínio e conclusões espirituais que almejava um dia, quando aqui comecei a escrever. E eu que sou, que não consigo chegar onde queria ir?

Nenhum comentário:

Postar um comentário