sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sobre algo em que eu deveria ter pensado

Eu entrei em acordo com alguma entidade que controla os dedos dessa mão que aqui escreve; num acordo sobre achar que a vida ainda não me foi explicada. É um acordo antigo, este, sacramentado há tempos em escrituras profanas - que de sagradas já estou farto. Enfim, mesmo este acordo sendo tão antigo, e as coisas antigas tendem a serem deixadas de lado, sabe-se lá porque, bem, as vezes me pego a revisá-lo, a fim compreender seus pormenores. Começo, as vezes, a pensar sobre a manifestação física da minha pessoa. Minha?
Seria eu apenas um veículo? E ainda, sendo apenas parte de uma ferramenta, homem-ferramenta, qual parte é minha, sou eu, e o que veio do além, veio controlar essa estranha máquina que eu ouso chamar de lar? Será que foi um empréstimo, um contrato de aluguel, uma ocupação, uma visita sem convite, como foi que se chegou a conclusão de que algo ou alguém deveria habitar esse composto de carne, cartilagens e entranhas, essa casca que envolve... envolve o quê, mesmo? Não sei como é o centro do meu mundo, do meu ser. Conheço apenas essa forma barriguda, este corpo celeste mundano, que vagueia e cantarola por calçadas acidentadas, terreno insaturado; que troca de pele e muda de forma: pouco a pouco. Qual é o propósito - e será de propósito? - em tratar este filhote de hipopótamo, que ocupa tanto espaço? É curioso pensar em si mesmo como um livro não lido, uma carta num envelope fechado.
Ouvi há pouco uma música que falava sobre um navio de tolos, e me senti navegando em algo semelhante. Prefiro, na verdade, traduzir como ingênuo. Implica inocência. Mas pensando bem, talvez isso revele alguma neglicência, ao concluir que posso ser culpado da minha própria inocência, em não descobrir explicações para as confusas ideias que transitam entre o início e o fim destas questões: quais eram mesmo? Eis uma delas:
Sobre isso que aqui escrevo, serei apenas cúmplice ou culpado?


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