sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sobre olhar pela janela

Queria saber lidar com essa sensação de esmagamento que fica após algumas coisas; ouvir uma música mais bonita do que deveria, olhar pela janela e ver as árvores desfolhadas sendo vigiadas pelo sol escondidinho atrás do morro lá longe, estar aqui vendo isso e pensar num lugar distante, numa pessoa que agora caminha n'outra direção. Ah, isso me deixa um rastro no espírito, abre sulcos, ara-me a alma. Não, não condeno esta sensação e nem pretendo dela me desfazer. Na verdade, tento extrair daí algo de bom, germinar alguma ideia sobre a vida, sobre amor, sobre sentir e estar aqui num momento improvável e quase que inaceitável. Tento aprender e quase consigo, consigo balbuciar alguma coisa. Pensar é mais fácil que escrever; escrito se lê, tal pensamento é ilegível. Vai ver por isso tenho tanta dificuldade em traduzir o que essa mente me conta, me revela nesse céu que ficou tão bonito depois que abriram essa persiana, tirana, que ainda voltará a me esconder essa mesma paisagem que se recorta agora a minha frente. A mesma, mesma, não. Aquela é a árvore que eu vi ontem, suponho, mas apenas isso: suposição. Ah, quantas folhas perdi de ontem pra hoje? Aliás, quando foi ontem, para ela? Ah, como eu queria saber lidar com essa sensação de transição infinita, eterna transformação, que vinga numa falha tentativa de interpretar o que eu vejo daqui para lá. Como dizer o que ocorre? Como cuspir essa percepção que nem bem consigo compreender? Talvez eu devesse tentar um poema.

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