terça-feira, 18 de outubro de 2011

O meu caderno

Eu tenho um caderno meio velho, com folhas de papel reciclado.
Faz um tempo que venho tentando me lembrar de comprar outro, porque esse vai acabar logo.
Há alguns instantes, resolvi dar uma olhada pra ver quanto sobra dele.
De trás pra frente, de cara, vi um recado de um amigo, me mandando beijocas, e a minha risada em resposta logo abaixo, seguida de um desenho de um gato... ô.o
Continuei folhando, vi algumas anotações de rpg, um desenho que não sei quem fez, algumas páginas em branco. Uma equação que teimou em ficar ali, a qual não sei mais resolver.
Segui um pouco mais e vi uma página povoada pelas mãos de minha amada, com anotações da sua aula, naquela letra que ela insiste chamar de feia e que eu tanto acho bela. E, junto a elas, um belo desenho que me fez abrir um inevitável sorriso grandão.
Revi anotações de alguma aula de história, e agora lembro que na verdade foi por isso que abri o caderno, de início. É claro, acabei me perdendo nas lembranças assim que o abri, da mesma forma que nos perdemos ao abrir o baú de memórias da nossa cabecinha oca, conversando com um amigo ou olhando pra parede do banheiro.
Vi uma declaração de amor ao Elisbelto, e ri de ser chamado assim.
Achei mais umas folhas em branco e pensei que ainda cabia muita coisa ali.
Vi uma declaração de amor do Elisbelto, em uma carta que escrevi, entreguei, mas mantive comigo.
E isso me lembrou que muitas páginas saíram desse caderno para virarem cartinhas queridas, guardadas com muito carinho por essa moça linda de quem falei.
Eu vi um gráfico, que eu nunca entendi, demonstrando algo que eu descobri não me interessar.
E isso me lembrou que muitas páginas saíram desse caderno porque eu estava de saco cheio de estudar cálculo. E agora penso que as memórias dessas complicações artificiais, assim como as páginas, se foram embora pouco a pouco. Ufa.
Eu vi idéias anotadas, coisas de gênio e de jegue, esboços de letras, poemas, histórias, harmonias musicais, mapas de rpg, a data de um dia comemorado a toa.

E ag0ra, depois de escrever tanta coisa que tão pouca gente vai ler, pensei... cabe tanta coisa num caderno tão pequeno, e essas coisas se abrem tão maiores enquanto eu vou lembrando... céus, a nossa vida é um amontoado de memórias esquecidas.
Imaginei ser absurdo anotar e lembrar de tudo que fizemos. E pensei ser algo bom, saber que, pelo fato de estarmos escrevendo na areia, deixaremos que mais alguém escreva naquele mesmo lugar. Depois que o mar levar embora nossas consciências e nossos cadáveres.

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