sexta-feira, 17 de abril de 2020

Obstáculos

Vivemos como animais migratórios em climas mutantes. Tipo cada macaco no seu galho e depois no outro e no outro. Ah, se eu pudesse oferecer raios de sol para todos. Como uma luz de lucidez que reduz a desigualdade.
Vamos vender as bugigangas? Morar juntos? O que tanto me impede?
Acho que tem muito muleque. Pouco homem. Pouco humanos. Porco humano.
Cada vez mais tenho a impressão de que a natureza do relacionamento é abusiva. Você precisa saber o quanto está disposta a aceitar e achar alguém que lhe faça rir. Achar alguém pra brincar de esconde-esconde nas cascatas. É. Bem como duas crianças mesmo.
Até hoje não vi ninguém com uma balança equilibrada. Sempre vai pender pra um lado. E daí tem os joguinhos. E daí tem as mentiras. E daí tem as maquiagens. E daí eu grito: odeio falsidade! Desejando um semblante de toxinas e seios de silicone. Não, obrigado.
Mas a mão mecânica não faz carinho, não. Eu também não faço questão.
Eu sei que pra muita gente dá medo.
Tenho medo da marcha infernal, que todo dia se põe a movimentar, que precisa gritar pra ter razão.
A cada dia cresce e consegue novos recrutas. Todos patriotas que odeiam tudo que vem do país, veneram o norte e repudiam o oriente.
O machão que precisa se afirmar como o rei do campinho, se perdendo no caminho, acha necessário reduzir sua parceira à um mero manequim de tira-bota roupas do seu agrado e de preferência que ela o aceite semi-deus de bom grado.
Por que quer uma mulher, já que nada que ela é, lhe agrada? Em cima de quatro rodas, segura a broxada.
Às vezes não tem como saber, só quando começa a ficar tarde. E tarde se vai.
Ao menor sinal, dou risada na cara. Deboche mesmo. Tenho sorte de nunca ter levado uma bofetada.
Tem vezes que acho que queria, só pra ter um motivo, só pra ter revide.
Ia ser engraçado. Aparecer no hospital com olho roxo.
Nossa Júlia! O que aconteceu? Te bateram?
Não, briguei.
Sorrindo, como diria aquela moça curiosa, com meus dentes bonitos.
Uma boca cheia deles.

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