quinta-feira, 23 de abril de 2020

Nova língua

Um novo dia se descortina, dentro das paredes de cavernas, dentro das telas apagadas. Entre quatro paredes, também. Faço o meu caminho de sempre, sem por quês, sem mais saber.
No caminho vejo uma placa que diz pra ter cuidado com a escola. Não sei mais o que isso significa.
Ainda mais na era da apologia à ignorância e à burrice.
Respiro ofegante, dentro da máscara. Minha segunda máscara. Às vezes sinto falta de ar. Ar pra respirar. Ar tranquilo.
Mas carrego uma culpa permanente, uma sentença silenciosa. Mais que uma frase. Um artigo todo.
A patrulha está por aí, atenta e alerta. Pronta pra dar a decisão final. Um destacamento da marcha infernal. Um dos muitos pelotões. A operação é especial, sempre foi. Composta pelos muitos heróis consagrados.

Eu resistirei, criminosa que sou, corrupta que sou. Corrupta até o cerne. Eu não só gosto da desobediência, eu a adoro! Sou tudo o que há de ruim e seguirei sendo tudo o que me afasta da boa cidadania. Eu odeio virtude e desprezo os bons costumes.

Se eu soubesse naquele tempo, o quão sortuda eu era. Aliás, eu sabia.
Naquele tempo de criminalidade, de quebra de leis. De muitos pecados.
Eu faria tudo igual novamente, eu sei. Talvez melhor, agora.
Mas agora não há mais tempo.

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