quarta-feira, 8 de abril de 2020

Acho que li em algum lugar alguém falar sobre a burrice ser uma tragédia.
Pra mim não há tragédia maior do que envelhecer e ficar burro, ou continuar burro. Não sei qual das duas é pior. Perder alguém que era inteligente e ficou burro é uma lástima muito grande.
A minha vida inteira eu estou tentando não ser tola. Muitas vezes eu falho. Eu sei que é difícil, a burrice é um convite perpétuo, do acaso, da rotina ou mesmo do entretenimento.
Sei também que existem muitos estímulos à burrice. Principalmente a coletiva.
Há um certo orgulho em algumas pessoas de auto afirmar a própria ignorância. Eu confesso que não sei de onde vem esse masoquismo. Não que fizesse muita diferença eu saber... Não haveria cura que eu pudesse oferecer, além de uma boa baforada de cigarro na cara, que é o que me dá vontade de fazer quando vejo esse tipo de coisa. Curar minha própria ferida.
Ferida cada vez mais difícil de lidar.
Às vezes causa desespero. Pra onde vamos ir quando as bombas caírem? Diria aquela música.
Aquela raiva triste e desesperada, um resumo da minha adolescência basicamente. E como fui tola!
Provavelmente ainda sou, provavelmente sou burra também e nem percebo. Sempre atrás de pergunta sem resposta. E quando fico chata sou um fardo pra quem está por perto.
A marcha infernal cada vez mais próxima. Cada vez mais altos os gritos.
Gritos para tentar estabelecer alguma razão insana, baseada em evidências fantasiosas, normalmente pseudo-científicas.
No meio disso há um certo ruído de característica onipresente. Todas as vezes que vou pegar um café no intervalo ou fumar um cigarro no terraço eu posso ouvir. Ouço porque me incomoda. Eu sei que incomoda os outros também, pois não querem falar sobre isso. Quando eu era criança eu também podia ouvir. Acho que meus pais antes de mim também ouviam. Talvez se acentuou quando eu nasci.
Na adolescência e em minha bravura rebelde, optei por enfrentá-lo, na teimosia e na tristeza.
Quando fico muito irritada ou muito aliviada e alegre, deixo de ouvi-lo por um tempo.
E agora.
Temos este tempo incerto. Como se alguma vez o tempo fizesse vezes de certeza.
A nossa incerteza de quando isso vai acabar, como se antes tivéssemos certeza do final.
Agora que não há volta, queremos de todo jeito voltar para um modo velho, caduco. Um modelo de certezas ridículas, que ornamentavam nossas prisões individuais. As gaiolas mais ricas, sempre um pouco mais bonitas, ainda assim gaiolas.
Grandes pássaros que se afirmam robustos e fortes, mas que há muito esqueceram de cantar. E ao menor movimento das circunstâncias, insistem em voltar para suas gaiolas frias e vazias. Substituem o canto pelo grito aos bandos. E se põem a brigar.
Parem de ser burros.

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