quinta-feira, 16 de julho de 2015

Juntas


Tão especial, né, tão orgânico. Totalmente biológico. Essa carne e pele e osso, humano e mundano, cidadão do mundo. Bacana. Pensamento, reflexão, escolha própria, direito a opinião, tudo isso num organismo... vivo. É, uma vida. Uma pessoa.
Que superior que tu acha que é, por quais razões? Essa pele que não é de alumínio, esqueleto que não é de aço, isso te torna tão diferente de mim, ou esses teus olhos míopes que não conseguem diferenciar o milho da ervilha, o cachorro do tamanduá, será que é isso? Talvez o bafo pela manhã, a incapacidade de cumprir os próprios propósitos, a cara torta e as rugas sobre ela, não sei, nem tu. Prefiro precisar de óleo nas juntas do que pintura na cara, cheiro de flor no pescoço, bisturi nas fuças; melhor enferrujar, melhor virar sucata.
Diferente, hm, não, falando disso o que me vem à mente é um robozinho, uma pequena máquina de comer e cagar; uma criatura – espera aí, criatura alguém cria, mas quem criou, ah, tu não sabe, não é, o que tu acha que sabe é apenas uma crença, ou várias delas; enfim, aí está, algo ou alguém, comendo, cagando, vivendo, crescendo e depois morrendo, tirando um tempo para por a andar – criar, talvez - outro exemplar com o mesmo funcionamento, alguns defeitos semelhantes, os mesmos objetivos, ou falta deles, naquilo que aprende a chamar de vida, outra maquininha de estrutura frágil, programada com a mesma missão: viver e morrer, cagar e comer, reproduzir; criar de si uma réplica ingrata e infiel, que pode ficar não sem comida mas sim sem explicação.
Mas o pior é esse bom dia mecânico, dado por obrigação, não tenta me enganar, isso é o pior, eu sei que meu dia não te importa coisa alguma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário