Tão especial, né,
tão orgânico. Totalmente biológico. Essa carne e pele e osso,
humano e mundano, cidadão do mundo. Bacana. Pensamento, reflexão,
escolha própria, direito a opinião, tudo isso num organismo...
vivo. É, uma vida. Uma pessoa.
Que superior que
tu acha que é, por quais razões? Essa pele que não é de alumínio,
esqueleto que não é de aço, isso te torna tão diferente de mim,
ou esses teus olhos míopes que não conseguem diferenciar o milho da
ervilha, o cachorro do tamanduá, será que é isso? Talvez o bafo
pela manhã, a incapacidade de cumprir os próprios propósitos, a
cara torta e as rugas sobre ela, não sei, nem tu. Prefiro precisar de óleo nas juntas do que pintura na cara, cheiro de flor no pescoço, bisturi nas fuças; melhor enferrujar, melhor virar sucata.
Diferente, hm,
não, falando disso o que me vem à mente é um robozinho, uma
pequena máquina de comer e cagar; uma criatura – espera aí,
criatura alguém cria, mas quem criou, ah, tu não sabe, não é, o
que tu acha que sabe é apenas uma crença, ou várias delas; enfim,
aí está, algo ou alguém, comendo, cagando, vivendo, crescendo e
depois morrendo, tirando um tempo para por a andar – criar, talvez
- outro exemplar com o mesmo funcionamento, alguns defeitos
semelhantes, os mesmos objetivos, ou falta deles, naquilo que aprende
a chamar de vida, outra maquininha de estrutura frágil, programada
com a mesma missão: viver e morrer, cagar e comer, reproduzir; criar
de si uma réplica ingrata e infiel, que pode ficar não sem comida
mas sim sem explicação.
Mas o pior é esse
bom dia mecânico, dado por obrigação, não tenta me enganar, isso
é o pior, eu sei que meu dia não te importa coisa alguma.
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