segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sobre Segurar a Carga

Numa rua perto de casa, havia uma academia e por ela passavam pessoas pesadas ou leves, carregando nos ombros um par de pesos ou uma mecha de cabelos; erguiam os pesos, pesavam as palavras, iam, ficavam e voltavam, pensando que um dia ficariam em forma; um dia de cada vez: assim passaram-se as semanas e os anos, e me atrevo a pensar em como pesa essa palavra anos.
Silêncio!
Vultos esquisitos tentam ser ouvidos acima da chuva, mas não quero ouvir mais nada enquanto tento escrever.
Passaram instantes de distração e empilharam-se as carcaças irreaproveitáveis das datas que passaram, umas de boa lembrança, outras de ressaca ou dor de ouvido, reduzidas à quase igualdade pelo peso que podem possuir depois de terem sido usadas, viradas do avesso, drenadas, sugadas, riscadas para sempre do calendário que carrego no peito, folhas contadas mas não por mim, que não sei com quantas ainda conto.
Os bipe's e os bit's me ferem a carne, a cada vez que as vozes dos vultos se esfregam à alturas maiores que o som da chuva, enquanto tentam entender-se, explicar-se, dar razão e sentido ao número infindável de caracteres que pretendem enfileirar.
Não que isso faça muita diferença.
De certa forma, até entendo aquelas pessoas erguendo os pesos, repetindo o esforço até que eles fiquem leves, refletindo sobre esses borrões confusos até que eles desapareçam.

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