segunda-feira, 18 de maio de 2015

A proclamação

E foi então que a senhora da rua de cima, aumentou o volume da sua TV de tubo, para ouvir melhor os enlatados do sabadão monótono. Que algazarra nessa tarde, ela teria dito.
Eu acho que vão matar o Sultão. Antes dele proclamar. O Dimes quase teve um treco hoje de manhã, estava tremendo muito parecido com a betorneira do véio Sadi na construção da rua de cima. E, homem, só eu sei o quão terrível é uma betorneira sendo ligada quando você está com a sua garota no momento da varde. O Dente Massado sempre avisou pra cuidar com os pedreiros. É uma enrabada atrás de outra gargalhada e assim vai.
Mas não foram eles que vieram buscar o Sultão de madrugada. Eu estava indo comer um lixo perto do valo do mutirão quando vi as luzes. Fui atrás gritando como sempre faço, mas só depois fui ver que o Sultão havia sumido.
Só pode ter relação com a briga que tivemos com os sabujos lá atrás do galpão do Roque. O Sultão sempre foi tinhoso e ainda ameaçou o pessoal. Diz ele que os territórios deles iam fazer parte da gleba nossa.
Mas agora me preocupa o estado do Dimes e o Dente Massado só quer saber de fazer peregrinações até a praça do Índio.
Pra mim eles sabiam que a proclamação ia ser feita hoje. Só espero que o Sultão consiga escapar gritando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário