terça-feira, 26 de maio de 2015

Bom-com-pão

Queria escrever algo bom.
Não algo que pareça bom, que soe bem, que faça bem ou que caia bem num cartão de formatura, que forma, formou-se o quê, vaso moldado pelo pensamento acadêmico, pré-dataminado, determinado a subir em todas as cadeiras que fez, destacar-se, obter colocação, nem escrever algo que combine com a cor daqueles olhos verdes cor-dos-olhos-dela-e-nada-mais, nem queria escrever algo que faça sucesso, nem que gere críticas, nem que aplique conceitos, gere preceitos, nem dividendos, não queria aperto de mão, nem tapinha nas costas, não queria ser o tal, não queria oba-oba, certamente aquele eba, que o jorro de alegria me lava não a cara mas a alma, suor não me incomoda tanto quanto choramingo, mas até ele tem suas razões, eu tenho as minhas, quais sejam espero descobrir algum dia, estou interessado em nenhuma teoria, certamente não, mas melodia, os orientais, tanto tenho para entender, mas nem entender me preocupa, desocupo os canais, desobstruir as vias, liga o pisca, filho da puta, leia-se a placa, leia-se a bula mas não muito, que remédio assusta e não se pode parar de tomar, tomar é comprar, comprar é matar, matar de remédio por goelabaixo, encontraremos a cura, não se preocupe, enquanto isso faça as anotações relevantes, ponderantes, penetrantes, entre-e-saia, há que se disfarçar os movimentos, ah, se eles descobrem esses passotes fora da linha, doutro lado da cerca, o que escreveriam sobre este ato infracionário, ora eu não sei, não se sabe ou não se diz, fingir não é saber, fingimos que não sabemos, enquanto isso penso na possibilidade, sí se puede, escrever algo bom.
Não, não. Algo ótimo.

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